Super Mario 64 — Level Secreto #64

Roteiro: Erick Oliveira

Level Secreto
6 min readAug 3, 2022

Super Mario 64 foi lançado em junho de 1996, a mesma data que o console Nintendo 64 chegou as lojas. O Mario mudaria a perspectiva das suas aventuras, do 2D para uma experiência completa em 3D, tão notável no seu lançamento que é considerado um dos jogos definidores de como elaborar uma jogabilidade em 3 dimensões, mesmo não sendo o primeiro nesse estilo.

O desenvolvimento de Super Mario 64 começou em 1994 e o primeiro ponto era definir um sistema de câmeras, a principio seguia uma visão isométrica como o Super Mario RPG e depois passou a ser livre. Houve uma atenção inicial na elaboração das animações do Mario e depois a construção dos ambientes. Quando a Nintendo tava produzindo o Star Fox, usando o chip gráfico Super FX que fazia cenários em 3D para o Super Nintendo, o Shigeru Miyamoto chegou a pensar num jogo do Mario usando essa tecnologia. O que levou o Miyamoto a migrar o projeto para o Nintendo 64, não era nem só pelo poderio maior do console, mas que o controle tinha mais botões.

Quem não sabe como é o controle do Nintendo 64 dá uma pesquisada no Google, é comum ter piadas de que ele foi feito para o uso de um polvo e não uma pessoa com duas mãos. Mas nesse dispositivo alienígena que a ideia de movimentar câmera num jogo 3D de plataforma ficou palpável, na medida do possível, para que depois a gente pudesse desenvolver as convenções que são familiares hoje em dia. Por exemplo, os botões C direcionais que parecem excessivos tem a função de virar a câmera, de aproximar e afastar a visão.

Em relação movimentação do Mario, ele adquiriu uma complexidade maior de gameplay. Pulo triplo, pulo com a bundada, pulo longo, mortal pra trás, pulo na parede, mergulho e cambalhota, essas mecânicas continuaram nos jogos 3D de Super Mario seguintes, mas socar e chute permaneceu apenas no 64. Nesses movimentos e levando dano, o Mario faz barulhos, aí aproveito a oportunidade de lembrar que este foi o jogo que o Mario passou a falar, graças a dublagem do Charles Martnet que se tornou a voz desse personagem icônico.

A vida do Mario funciona de forma diferente, não é de levar dano e ficar menor, aí se levar outro dano morre, não tem um Mario pequeno. Existe pontos de vida que são perdidos, quando o Mario pega moedas vai recuperando a saúde.

Super Mario 64 possui power ups como em outros jogos, eles são representados por chapéus diferentes, geralmente estão em blocos com determinadas cores. Tem o chapéu alado que dá o poder de voar, o Mario consegue se movimentar pelo ar após dar o salto triplo ou auxiliado por um canhão. Tem o chapéu de invisibilidade, que faz o Mario passar por inimigos e algumas passagens como grades. E o chapéu que transforma o Mario em metal, que o deixa pesado, podendo andar debaixo da água e dar o poder de derrotar os inimigos só encostando neles, como acontece com a estrelinha nos outros jogos.

Super Mario 64 introduziu uma série de características de gameplay num espaço 3D, lançou na mesma data do Nintendo 64 e diante das informações a respeito da variação da gameplay, fica evidente que não era somente a demonstração de uma tecnologia. Ainda que a intenção do Miyamoto fosse inicialmente de desenvolver 40 fases, que no fim esse número reduziu para 15, Super Mario 64 como produto não se resume a uma mera experimentação. Ele comporta as suas dinâmicas de jogo combinado a uma narrativa, tudo isso amarrado a uma premissa muito simples, como a de padrão num jogo dessa franquia.

Super Mario 64 começa com a princesa Peach mandando uma carta convidando o Mario para ir ao seu castelo, comer um bolo que ela havia preparado. Quando o Mario chega, descobre que o Bowser invadiu o lugar e aprisionou a princesa usando o poder das 120 estrelas do castelo. A partir daí o Mario deve colecionar essas estrelas que estão escondidas nas pinturas no castelo, elas são portais para outros mundos, que funcionam como as fases do jogo.

Diferente dos jogos anteriores, cada fase tem 6 estrelas que corresponde a objetivos diferentes. Quando o jogador seleciona uma tarefa ao iniciar a fase, ela pode apresentar uma configuração espacial dependendo do objetivo, ou, o jogador pode estar no ambiente e encontrar uma outra estrela e consegui-la, saindo desse objetivo inicial. Um exemplo desse caso são as moedas vermelhas, coletando 8 em uma fase, o jogador garante o acesso a uma estrela.

Super Mario 64 acrescenta um fator quebra-cabeça, ao invés de simplesmente ir da esquerda para direita e chegar ao fim de uma fase. Esse jogo ampliou um senso de exploração, de desbloquear áreas secretas. Se no Super Mario Bros 3 ou no World, o jogador libera caminhos no mapa do mundo, aqui no 64, o jogador desvenda os segredos do castelo. Portas para salas que contêm novos quadros são desbloqueadas com um determinado número de estrelas. Para acessar uma outra parte do castelo é necessária uma chave, que é adquirida ao passar de uma fase especial onde o Bowser é o chefe no fim. Há algumas fases extras, mais curtas ou de tarefas simples para adquirir uma estrela, seus acessos não estão nas pinturas, elas estão escondidas em certos locais do castelo.

Em Super Mario 64 o jogador varia seu trajeto durante o jogo. Como coletar todas as 120 estrelas não é algo obrigatório, não é necessário o domínio completo da movimentação do Mario para terminar a jornada de forma satisfatória. Super Mario 64 quanto os outros jogos em 3D são notáveis por favorecer a pura diversão, a falta de compromisso da excelência da performance, ao mesmo servir para os jogadores que querem experimentar todas as possibilidades da gameplay do Mario, seja em fazer tudo que o jogo oferece, quanto terminar mais rápido, explorar os bugs, etc.

Houve em certo período a especulação de uma sequência direta, um Super Mario 64 2, que seria lançado para o periférico Nintendo 64DD em 1999, mas foi cancelado, pelo fracasso desse dispositivo, que as vezes precisamos de um esforço para lembrar isso se quer existiu. Esse projeto do Super Mario 64 2 não possui nenhuma imagem disponível.

Em 2004, foi lançaram um remake para Nintendo DS, com diferenças consideráveis, como a inclusão de Luigi, Yoshi e Wario como personagens jogáveis. Uma versão emulada do Super Mario 64 está disponível no Super Mario 3D All-Stars do Switch, aquela coletânea que teve um período limitado de vendas, ele tem algumas melhorias de gráfico e interface. E o jogo original em si no Nintendo 64 tá na biblioteca da assinatura extra do Nintendo Switch Online.

Apesar dos jogos em 3D da franquia terem tido uma evolução de gameplay maior que os 2D, que faz com que por exemplo, a fluidez desde o Super Mario Bros. 3 permaneça agradável até hoje. A defasagem que o Super Mario 64 tem não impede com que ele seja divertido, ele é mais do que só uma curiosidade histórica. As suas fases são criativas, ir liberando o caminho do castelo ainda é engajante. Isso só mostra o quão a Nintendo, quanto o Shigeru Miyamoto e outras pessoas talentosas desenvolveram os jogos do personagem, para que eles fossem eternos, que cada geração pudesse se divertir com eles.

Isso é algo muito importante numa mídia, que, sobretudo, pelo aspecto mercadológico, tem a retórica de que o desenvolvimento tecnológico move os videogames para a frente. E não isso sabe? O Super Mario 64 nasceu num período de revoluções na transição de gerações de consoles, mas, evoluiu dentro das características que permanecem até hoje como sua identidade, o que cativa quem gosta desses jogos.

Partindo da mecânica do pulo, o Mario expande as possibilidades que o jogador tem em cada uma de suas aventuras. Por um simples verbo que trabalha como base do engajamento, da criança que tá começando a conhecer os videogames ao adulto que sempre jogou Mario, vão se movendo pelos caminhos da diversão, criando as memórias que nada mais são que pinturas, ficando em lugares especiais nas nossas histórias como jogadores.

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Transcrições dos episódios do podcast Level Secreto.