Tekken 3 — Level Secreto #67

Roteiro: Erick Oliveira

Level Secreto
6 min readNov 5, 2022

Tekken 3 foi lançado em março de 1997 para os arcades e no ano seguinte para o Playstation 1. O terceiro jogo dessa franquia foi um divisor de águas em termos de qualidade, que acarretou no seu grande sucesso, Tekken 3 é quinto jogo mais vendido do Playstation 1 com mais de 8 milhões de unidades vendidas. Isso é algo impressionante considerando o tanto de grandes títulos que temos nesse console.

A primeira coisa que explica o salto de qualidade desse terceiro jogo é a implantação de um novo hardware nas máquinas de arcade da Namco. É bem evidente observar a qualidade visual do Tekken 3, nos cenários que conseguem mesclar o espaço de luta com o fundo, um senso de profundidade um pouco mais realista. Além dos personagens que estão mais bem definidos, os polígonos mais suaves, as formas de seus corpos mais arredondados. E o que falar das animações de seus movimentos e dos golpes executados né?

Dito isso, Tekken 3 até hoje é tranquilo de jogar. Ele define muito do que a série é hoje. Só não afirmo que ele é O JOGO principal que define, porque é o 5 que consolida a fórmula que vemos até hoje, ajeitando alguns defeitos do 4, sobretudo a questão da arena de luta.

Mas falando da gameplay do Tekken 3, foi aqui que o side step foi introduzido, do personagem dar passinhos para outros eixos de profundidade, de se afastar rapidamente para trás. O combate ficou mais dinâmico, não chegou a fazer o que o SoulCalibur fez, mas ajudou a ditar o que de fato diferencia e torna atrativo um jogo de luta em 3D.

Tekken é uma das franquias de jogos do gênero que melhor aborda o enredo, na medida do possível. O terceiro é um avanço de tempo em relação aos dois títulos anteriores. Para quem não conhece nada da história de Tekken, temos um torneio de artes marciais O Rei do Punho de Ferro, organizado pela empresa Mishima Zaibatsu, quem vencer a disputa vira dono da companhia.

O enredo da série gira em torno da família Mishima, o começo de tudo é um evento maluco que é o Heihachi, o chefe da empresa jogando o seu filho Kazuya, de cinco anos de idade, do topo de um penhasco com a desculpa que “teria que sobreviver e subir de volta para provar ser seu verdadeiro filho, e também como seu sucessor”, uma linda história de amor familiar que segue até hoje em Tekken.

Em uma situação de quase morte, o pequeno Kazuya acaba despertando um poder conhecido como Devil Gene, um gene demoníaco. Aí passa-se duas décadas, chega o torneio organizado pelo Heihachi e o seu filho quer vencer para ter sua vingança e tomar a Mishima Zaibatsu para si. E no fim, o Kazuya joga seu pai no mesmo penhasco de antes.

No Tekken 2, ocorre o contrário, é o Heihachi que entra no segundo torneio para se vingar do próprio filho, que assim que assumiu a empresa, mostrou a sua natureza maligna. No segundo jogo, temos a personagem Jun Kazama, que quer deter a Mishina Zaibatsu por uma causa animal que ela defende e se envolve romanticamente com o Kazuya, e acaba percebendo o Devil Gene, tentando de alguma forma impedi-lo. Porém, ocorre a vingança do Heihachi e, ao invés, de jogar seu filho penhasco abaixo, dessa vez escolha um vulcão para lhe se livrar logo dele de uma vez.

A Jun fica grávida do Kazuya, que é o Jin Kazama. Mãe e filho vivem isolados de forma pacífica. Mas, em certo ponto, surge uma entidade conhecida como Ogre, que numa tradição da América Central é o Deus da Luta, e lutadores ao redor do mundo desaparecem. E um desses alvos é a Jun, e ela sentindo essa ameaça pede para Jin encontrar o seu avô, o Heihachi.

O Ogre ataca a Jun, o Jin acaba ficando desacordado e quando volta a consciência, tá tudo destruído, a sua mãe sumida, e sem a presença dela, o gene demoníaco herdado do seu pai cria uma marca em seu braço. O Jin, buscando vingança encontra o Heihachi e treinado no estilo marcial da família Mishina, e o avô começa a perceber que o neto também possui os genes demoníacos do Kazuya. Mas o plano do Heihachi nesse momento é usar o Jin para atrair o Ogre, assim como criar um torneio do punho de ferro, para concentrar vários lutadores em um mesmo evento, 15 anos após o Tekken 2. Atraindo a entidade, o Heihachi pretende captura-la para ajuda-lo no seu objetivo principal que é dominar o mundo.

O Tekken 3 como ficou evidente é uma mudança de geração, dos 21 lutadores, apenas 6 são remanescentes: a Nina, a Anna, o Paul, Yoshimitsu, o Lei e o Heihachi. Mas tem os casos de substituição de personagens que mantém estilos de luta: o King desse Tekken que é o sucessor do anterior, o urso Kuma que é o filho do original, o Gun Jack que é terceira linha da série de robôs, o Forest Law que é o filho do Marshall Law, a Julia Chang que é a filha adotiva da Michelle Chang. O Jin passou a ser o novo protagonista, na sua gameplay ele é uma mescla do estilo do Kazuya e da Jun. Aí conforme o Kazuya tem o seu retorno no 4 e fica daí em diante, a série vai definindo um estilo mais próprio do Jin.

Um lutador que é importante destacar é o Eddy Gordo, que é brasileiro e capoeirista, então na época foi algo incrível ver algo tão forte na nossa cultura na tela de um videogame, fora que até os Tekken atuais, tanto o Eddy quanto a Christie, que é outra capoeirista são personagens bastante populares, só que tem o lado de serem bastante apelões né? É só ficar nos botões de chute que qualquer pessoa faz um estrago com eles.

Então a gente tem o Tekken 3 que traz novos personagens, mantém alguns com características dos antigos, aprimora gameplay e visual, nos entregando o melhor jogo de luta em 3D até então. E pela popularidade do Playstation 1, das vendas que o jogo teve, Tekken 3 era um título obrigatório para os donos do console, realmente passou a existir uma competição da franquia da Namco com as outras que estavam estabelecidas na indústria. Passou a ter um jogo de luta em 3D bastante popular para rivalizar com os clássicos em 2D.

Gosto muito de enaltecer os jogos de luta que contam com bastante conteúdo como produto, o Tekken 3 do Playstation 1 é um grande exemplo disso. Havia um desejo terminar o modo arcade com todos os personagens, primeiro, porque você via o final deles com uma CG belíssima na época, com historinhas que ajudavam, mesmo que pouco, a desenvolver esses personagens. E no caso dos lutadores envolvidos na trama principal, havia as resoluções dos eventos do torneio e a batalha contra o Ogre, e os finais de Jin e Heihachi oferecia pontos de vistas diferentes e como não tinha internet para pesquisar a lore, a gente construía as teorias do que de fato teria ocorrido.

Zerar o modo arcade desbloqueava novos personagens, também o jogador tinha acesso ao modo Tekken Ball que era meio uma partida de vôlei, tinha modo teatro que era possível ver os finais, isso existia na versão japonesa dos títulos anteriores, nesse modo era possível ouvir as músicas tanto da versão do PS1 quanto as originais do Arcade.

Havia o modo Tekken Force que é tipo uma briga de rua, onde o jogador passa por quatro estágios enfrentando os soldados da força militar da Mishima Zaibatsu e no final tem um lutador como chefe. Os futuros jogos tentaram evoluir esse conceito de uma aventura nesse estilo.

Tekken3 é um dos meus jogos de luta favoritos até hoje, um dos títulos que mais joguei no Playstation 1, talvez seja o primeiro jogo que vi num PS1 se a minha memória não engana. Foi assim um daqueles momentos de “o futuro chegou”, talvez eu já tivesse jogado o Virtua Fighter no meu Sega Saturno, mas o Tekken 3 foi espanto em relação a visual e fluidez do combate. Fora os momentos jogando sozinho, desbloqueando as coisas, aperfeiçoando minhas habilidades, tinha momentos em jogar com a galera em diferentes contextos e pessoas diferentes. Então além do jogo em si me marcar bastante, os eventos também marcaram bastante. Assim como falei antes, é um jogo que continua interessante de experimentar até hoje e explica o porquê da série Tekken ser tão popular e continuar relevante até a atualidade.

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Transcrições dos episódios do podcast Level Secreto.