The King Of Fighters ‘98 — Level Secreto #98 (Transcrição)

Autor: Erick Oliveira

Level Secreto
12 min readJan 22, 2024

The King Of Fighters ‘98 foi lançado em julho de 1998 para os arcades, nos consoles do Neo Geo no mesmo ano, e, a partir de 1999, para Playstation 1 e Dreamcast. Esse jogo é um “dream match”, como foi nomeado alguns dos subtítulos de seus lançamentos, o que significa é que se trata de uma edição em que são reunidos quase que todos os lutadores dos jogos anteriores. The King Of Fighters ‘98 não tem enredo, o qual foi concluído no seu antecessor, que era a saga do vilão Orochi. Por conta disso, esse Level Secreto é um apanhado de coisas relacionados a essa franquia, tendo essa edição de ‘98 como base.

The King Of Fighters é uma série de jogos de luta que possui duas principais características: um crossover de personagens dos títulos da empresa SNK, mesmo alguns deles não tendo origem como lutadores, e o combate não era um boneco contra outro, mas sim de trio contra trio.

O primeiro jogo foi o The King Of Fighters ‘94. Nele, havia uma limitação desses times, porque o jogador só poderia escolher o trio em conjunto, não podia formar uma combinação diferente, como acabou se tornando a partir do próximo título. Cada trio representava um país, apesar de poucos realmente se encaixarem com a nacionalidade dos personagens, mas, ajudava no fator de trazer cenários variados ao redor do mundo.

Em relação a gameplay, o KOF ‘94 trouxe uma combinação de elementos das séries Fatal Fury e Art Of Fighting. Então já tínhamos os especiais, que podiam ser utilizados ao encher uma barra no canto inferior da tela. Ela era preenchida quando o jogador levava ataques ou os bloqueava, mas havia um modo de encher manualmente por um comando, o qual deixava o personagem vulnerável. Quando o jogador ficava com ¼ da barra de vida, ela começava a piscar, surgindo a chance de usar esses especiais de forma livre, e com a energia carregada, era possível executar um especial bem mais devastador.

Esse esquema de jogo seguiu para suas sequências e passou a ser conhecido como “extra”, sendo uma das opções de gameplay a partir do The King Of Fighters ‘97, onde foi introduzido o outro modo que é o “advanced”. O esquema de encher as barras se alterou, não havendo a possibilidade de carrega-las manualmente. A principal diferença aqui é que o jogador pode armazenar três barras cheias, e até mais conforme os outros lutadores do trio entram em combate. Usando um especial, uma das barras cheias é gasta. O jogador também a usa para o fazer o personagem chegar no modo “max”, que ele vai ficar brilhando, indicando que seu ataque e defesa vão aumentar num período de tempo. Nesses instantes é possível executar um super especial, não havendo mais o requisito de estar com a vida baixa. No linguajar informal: a gente usa uma barra para estourar e nisso gasta a outra para usar o mortal melhorado.

O modo “extra” passou a ser associado a uma postura de luta mais defensiva e o “advanced” a uma mais agressiva. Uma mudança que ocorre entre esses dois modos é a maneira que a esquiva ocorre. No “advanced”, a esquiva é uma rolagem do personagem para frente e para trás, isso já presente no ‘96. Enquanto isso no “extra”, o boneco faz uma animação de desvio, mas se mantendo na mesma posição.

Um outro ponto importante para fechar essa parte de gameplay é que o The King Of Fighters ‘96 introduziu também o bloqueio. Ele é fundamental para auxiliar no cancelamento das animações do oponente. As vezes você está defendendo um especial do adversário que é uma sequência de golpes, isso reduz a perda da barra de vida, porém na prática é um dano levado, algo que pode ser evitado dominando o uso desse bloqueio.

Certo, encerrando o resumo dessa parte mais burocrática, vou seguir a narrativa falando sobre os personagens. Abordarei a origem, curiosidades quando conveniente e, de forma geral, como esse fator de crossover é um grande responsável pela série The King Of Fighters ser tão cativante.

Para tentar concentrar melhor a questão do enredo, vou trocar a ordem de apresentação de alguns trios, certo?

A franquia é formada por algumas eras, o ‘97 encerra a primeira delas: o arco de história que é a saga do Orochi. No caso, o ‘98 veio para nos entregar um apanhado geral da série, um produto desprendido de um enredo para refinar todas as características de gameplay até então, trazendo quase todos os personagens, inclusive os que foram mortos durante essa saga. Mais até que isso, o The King Of Fighters ‘98 adicionou versões alternativas de alguns lutadores, baseado em outros títulos.

Nessa primeira parte da franquia, os protagonistas fazem parte do time do Japão, também conhecido como trio de heróis, eles estão juntos por serem os três primeiros colocados de uma seletiva para representar o país. Kyo Kusanagi é o principal personagem de The King Of Fighters, criado para ser o protagonista, uma força além dessa ideia de mesclar Fatal Fury com Art Fighting. O Kyo utiliza poder das chamas e a sua família é uma das três responsáveis por selar a entidade que é o Orochi. Benimaru é um personagem com poderes elétricos e o Goro Daimon é um lutador de judô. Esse é o trio que derrota o organizador dos torneios, de ‘94 e ‘95, que é o vilão Rugal Bernstein.

Temos o time do Fatal Fury, formado pelo Terry Bogard, protagonista dessa série, e na minha visão o personagem mais icônico da SNK, tanto é que ele é o representante de The King Of Fighters no Super Smash Bros. Junto com Terry temos o Andy Bogard, seu irmão, e mais o Joe Higashi que é um lutador de Muay Thai. Os três são os protagonistas dessa série, cujo nome do torneio da história se chama King Of Fighters, organizado pelo vilão Geese Howard. O Fatal Fury trouxe uma gameplay que os bonecos alternavam em pistas no cenário, teve a introdução do “desperate move” no 2, que é o ataque especial que se tornou comum em jogos de luta.

O Fatal Fury 3 é o meu favorito da série, joguei muito no Sega Saturn, fui apresentado aos títulos da SNK por ele, e a partir disso, passei a amar. Isso não aconteceu só pela qualidade técnica, mas o nível de cuidado com muitos detalhes, que se estende para The King Of Fighters. Posso afirmar que o principal destaque são os personagens, o quanto que eles são carismáticos, como que exalam suas diferentes personalidades nas roupas que usam, nos trejeitos, animações, as falas dos golpes, comemorações e as trilhas sonoras. Pegando The King Of Fighters como um todo, diria que com certeza é a série de jogos de luta que conta com o elenco que mais tenho carinho. Outra qualidade que havia no Fatal Fury 3 era a ideia de o cenário mudar a cada round, algo que me deixava maluco quando criança, característica que está presente em The King Of Fighters.

O time que representa Art Of Fighting aqui no KOF ‘98 é formado pelo Ryo Sakazaki, protagonista dessa série, a sua irmã Yuri e o seu amigo o Robert Garcia. Os três representam o estilo de luta “Kyokugenryu” e o Ryo é descrito por uma fusão do Ryu e Ken do Street Fighter. Essa curiosidade é tão nítida que a Capcom deu um troco criando o personagem Dan, que aí já seria uma fusão do Ryo e do Robert, uma forma de zoar a SNK. Mas tirando isso de lado, o Art Of Fighting é uma série de jogos de luta que tem seu prestígio, o 3 acho um negócio maravilhoso, e sendo assim, esses personagens se tornaram maiores que simples historinhas de plágio ou qualquer coisa do tipo.

O próximo trio surgiu da franquia Ikari Warriors, que já não é um jogo de luta, mas sim, um título de ação, de correr e atirar com uma vista de cima da fase. O time é formado por Ralf e Clark, personagens que surgiram do Ikari Warriors. O Ralf é um “porradeiro”, tem o especial mais absurdo de The King Of Fighters que é um socão que pode tirar a vida toda do adversário. O Clark é um lutador que é focado em técnicas de agarrar o oponente. Junto com os dois tinha o Heidern, o comandante, que ficou presente no ‘94 e ‘95. A partir do jogo seguinte, a sua filha adotiva Leona ficou no lugar. Ela é a minha personagem favorita de The King Of Fighters, não só pelo seu estilo de combate, mas por contar com um enredo de fundo interessante que a torna bem relevante nesse primeiro arco. Leona possui o sangue de Orochi e nos eventos do ‘97 ela se transforma, um fenômeno conhecido oficialmente como o estágio “Riot of the Blood”. Ela fica deixa hostil, entrando em um modo “berserk”, com seu cabelo mudando de azul para vermelho. Essa situação é revertida com a ajuda de Ralf e Clark, porém o medo dessa maldição faz parte dos conflitos internos da Leona no decorrer da série.

O próximo time vem do jogo de arcade Psycho Soldier, cujos principais personagens são Athena Asamiya e Sie Kensou. Outro personagem completa esse trio que é o Chin, o velhinho que luta bêbado. A personagem principal aqui também está presente em um jogo anterior ao Psycho Soldier que é simplesmente chamado de Athena. Ela tem uma característica especial aqui em The King Of Fighters que é o fato de que a cada título ela tem um design diferente. Athena é uma reencarnação da deusa grega vivendo no Japão nos tempos contemporâneos, tem uma carreira como idol enquanto participa das edições dos torneios de The King Of Fighters.

Em toda a série existe um trio das mulheres, nomeado dessa forma “Women’s Team”. Na edição de ‘98, o time conta com a Mai Shiranui, do Fatal Fury, a King, do Art Of Fighting, elas que costumam estar presentes nesse trio em vários jogos da série. Somada as duas tem a Chizuru Kagura que surgiu no KOF ‘96 como subchefe. Ela faz parte de uma das três famílias responsáveis por selar o Orochi.

O time da Coreia é formado pelo lutador de Taekwondo, o Kim Kaphwan, um dos meus personagens favoritos de jogar. Ele tem um projeto de reabilitar criminosos e seus dois parceiros fazem parte disso, o Chang que é um grandão com bola de ferro e o Choi que um baixinho, parecido com o Fred Kruger.

Tem um trio introduzido no The King Of Fighters ‘97 que é time “Fora da Lei”, composto por personagens de Fatal Fury. A Blue Mary é uma detetive que havia entrado no torneio meio infiltrada para investigar o que estava rolado ali. O Billy Kane é o braço direito do Geese, o vilão de Fatal Fury. Para completar temos o Yamazaki que é um “piradão” da cabeça, surgiu como subchefe no Fatal Fury 3. Tem-se a revelação de que ele possui o sangue do Orochi, mas não está nem ligando para isso. Um dos motivos que justifica o fato do Yamazaki nunca ter entrado no estado que a Leona teve, é por ele já ser insano por natureza mesmo.

O próximo trio é o dos Estados Unidos, que havia aparecido só no The King Of Fighters 94. São personagens criados para representar estereótipos de esportes do país: o Lucky Glauber que é do basquete, o Brian Battler que é o futebol americano e o Heavy-D, que aí sim é uma arte marcial, representando o boxe. Consequente ele é o personagem mais interessante desses três, que nunca mais retornaram a série.

Como havia dito, o The King Of Fighters ‘98 é um Dream Match, título que reúne os lutadores podendo desconsiderar a coerência do enredo. Dito isso, há o time dos mestres composto pelo pai do Kyo, o Saisyu Kusanagi, que depois de ter sua mente controlada, entrou em reclusão. Temos o Takuma Sakazaki, pai do Ryo e Yuri, fazia parte do time do Art Of Fighting até o ‘95, mas, depois voltaria fazer a parte de novo. Fechando o trio temos o Heidern, comandante do time do Ikari. Um fato curioso é que mesmo quando ele não é um personagem jogável, acaba fazendo parte dos enredos dos jogos da franquia.

Temos um trio que vem do The King Of Fighters ‘96: o Iori, a Mature e a Vice. O Iori é um dos principais personagens da série, sendo o favorito de muita gente, tanto pela gameplay quanto pela sua personalidade e envolvimento com a trama. A família do Iori também faz parte daquelas que selaram o Orochi. Ao longo dos séculos, a família que passou a ser conhecida como Yagami e se tornou rival dos Kusanagi, consequentemente, o Iori atua como o principal rival do Kyo.

Devido a uma série de situações, sobretudo de acusação de “trairagem” dos Kusanagi, os Yagami fazem um pacto com o Orochi para ganhar mais poder. Uma das consequências disso é mudança da cor dos cabelos desse clã, quanto também das chamas que se tornaram violetas, pouco mais puxado ao roxo no visual dos jogos.

O Iori surgiu no The King Of Fighters ‘95, fazendo trio com o Billy Kane, já mencionado, e o Eiji Kisaragi, um ninja do Art Of Fighting. No final dessa edição do torneio, o Iori deu uma surra nos seus dois companheiros, que leva a eventos da formação do trio no KOF ‘96, que é o que se repete aqui no ‘98. Mature e Vice eram as secretárias do Rugal, sendo que na verdade são seguidoras de Orochi. Numa hierarquia de poderes, elas estão abaixo do personagem Goenitz, o chefe do The King OF Fighters ‘96. Quando ele precisou da ajuda delas para enfrentar o Kyo, Iori e a Chizuru, a Mature e a Vice o traíram, porque elas acreditavam que o herdeiro dos Yagami seria a melhor forma de acordar o Orochi. Só que o Iori se descontrolou, por causa do seu herança do pacto, e acabou matando as duas. Esse ato gerou consequências, tanto é que no The King Of Fighters ‘97 ele não tem um time. Nesse jogo há uma versão do Iori tomada pela maldição de seu sangue, tal qual acontece com a Leona.

Aqui é a oportunidade de introduzir o último trio, que apareceu pela primeira vez nos eventos do ‘97, equipe formada por Yashiro, Shermie e o Chris. Eles se revelam como três dos intitulados “quatro reis celestiais de Orochi”. O primeiro era o Goenitz que tinha o poder dos ventos, o Yashiro tem relação com a terra, a Shermie com eletricidade e o Chris com o fogo. Lembrando que esse trio tem uma versão sem poderes e esses bonecos, com suas verdadeiras habilidades, atuam como personagens secretos dentro dos jogos que aparecem. No enredo, Yashiro e Shermie se sacrificam para que Orochi renasça no corpo de Chris. A entidade acaba sendo derrotada pelo trio Kyo, Iori e Chizuru, sendo selado novamente.

No The King Of Fighters ‘98 tem mais dois personagens solo, um deles o Shingo Yabuki, super fã do Kyo, tem até as poses de golpes iguais, porém, sem o poder das chamas. Além disso tem o Rugal, uma versão padrão e outra na pegada da “ômega” do ‘95, sendo aqui o chefe de KOF ‘98. O jogo tem versões lançadas no futuro, que incluem outros personagens que estiveram nos jogos anteriores como o Geese Howard, o Eiji Kisaragi, Kasumi Todoh, entre outros.

Fiz um resumo bem breve da história de The King Of Fighters até esse momento, que é considerado o auge da franquia. Óbvio que sei da popularidade do 2002, até hoje dá para encontrar fliperama de boteco com gente jogando. Afinal de contas, moramos no Brasil, a noção “kofeira”.

Só que apesar de uma série de coisas, sinceramente, o ‘98 é o meu King Of Fighters favorito, por ser um produto muito bem resolvido, melhor balanceado, reparando muitas coisas do ‘97 inclusive. O KOF ‘98 é um dos títulos que mais joguei na vida. Havia uma época que vinha uma turma do meu bairro jogar aqui em casa, na versão do Playstation.

Posso ser bem franco ao dizer que estamos falando de um jogo que contribuiu para formar minha personalidade. Porque The King Of Fighters ‘98 foi uma coisa que consolidou esse meu hábito de querer reunir pessoas para jogar, de ter um momento de lazer com os amigos, de usar jogos como uma ferramenta para agregar pessoas diferentes.

Como havia dito, conheci os títulos da SNK pelo Fatal Fury 3. Quando conheci The King Of Fighters pelo ‘97, me encantei com tudo, com a proposta de três contra três, o carisma dos personagens, o enredo, os golpes especiais e tudo mais. Nessa mesma época, joguei o ‘96, ‘98 e ‘99, pois eram os que tinham no Playstation 1. A partir disso toda a oportunidade que tive de jogar os outros, tentava a todo custo zerá-los. Nisso, do 2000 até o 2003, tenho história de jogá-los em arcades diferentes, seja na minha cidade ou é até em viagens que fazia nas férias.

Então, diante de todo esse testemunho emocional, descrição bem sintética desse elenco de personagem que amo tanto, não tinha como deixar de fazer um Level Secreto sobre The King Of Fighters. Apesar da dificuldade de ajustar esse formato de podcast de maneira interessante para esse gênero de jogos. Não teria como esse programa ser diferente disso que compartilhei, porque era uma chance de homenagear essa série como um todo.

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