The Legend Of Zelda: Majora’s Mask — Level Secreto #86 (Transcrição)

Autor: Erick Oliveira

Level Secreto
9 min readNov 3, 2023

The Legend Of Zelda: Majora’s Mask foi lançado para o Nintendo 64 em abril de 2000 para o Japão, e a partir de outubro do mesmo ano no resto do mundo. Ele utiliza os mesmos gráficos de Ocarina Of Time, sendo desenvolvido por uma equipe menor em apenas um ano de trabalho.

Majora’s Mask marca, digamos, a ascensão do atual produtor da franquia The Legend Of Zelda, Eiji Aonuma. Ele trabalhou no sistema de gameplay e nas dungeons de Ocarina Of Time. Diante de uma ideia do Shigeru Miyamoto de refazer o título para o fracassado Nintendo 64DD, Aonuma não curtiu esse lance de refazer as mesmas dungeons que havia trabalho e começou a fazer novas, só que escondidas de seu chefe. Então, chegou-se num ponto em que Aonuma perguntou de Miyamoto se poderia fazer um Zelda novo, e sim, foi lhe dada essa permissão, porém, com um prazo de entrega de 1 ano.

O time de desenvolvimento de Majora’s Mask era formato por novatos e alguns veteranos que trabalharam no Ocarina Of Time, inclusive, houve uma tentativa de aproveitar algumas ideias que não tinham sido bem utilizadas, sobretudo o uso de máscaras. Ao longo da produção, o escopo do jogo foi encontrando seu caminho próprio, distanciando-se do Ocarina.

Ainda que Majora’s Mask utilizasse o mesmo motor gráfico de seu antecessor, a adição do acessório Expansion Pak, favorecia uma qualidade melhor da aparência geral do jogo, dos modelos de personagens quanto ampliando a visão detalhada dos cenários. Além disso, o Expansion Pak garantia o processamento de mais elementos em tela, de ter mais inimigos em um mesmo ambiente, quanto em permitir um comportamento mais dinâmico dos NPCs.

Essa história do desenvolvimento do jogo, como uma espécie de projeto paralelo, fez com que antes do seu lançamento tivesse alguns subtítulos como Side-Story ou Gaiden, como é atribuído em japonês uma obra não canônica. Porém, o Majora’s Mask logo foi colocado como um dos desdobramentos dos desfechos de Ocarina Of Time, pertencente a uma das três linhas do tempo que surgiram nesse ponto da cronologia da série.

Majora’s Mask se passa dois meses depois de seu antecessor, Link criança está na busca de sua fada Navi, que havia partido sem muita explicação. Enquanto ele está cavalgando em uma floresta com sua égua Epona, acaba sendo emboscado por um Skull Kid acompanhado de duas fadas. O Link tem sua égua roubada, além da Ocarina Of Time, seu instrumento musical tão fundamental em sua aventura anterior. O jogo inicia com Link seguindo um caminho de perseguição a esses três, mas, cai em uma armadilha, onde o Skull Kid o amaldiçoa, transformando nosso protagonista em um Deku, uma raça desse mundo que é frágil e possui um corpo de planta.

Quando o Skull Kid foge, ele deixa uma de suas fadas para trás, Tatl, que passa a acompanhar Link pelo resto do jogo. Na única direção possível depois dessa maldição, o jogador vai seguindo um caminho misterioso, o qual chega em uma torre de relógio. Nesse lugar, ele conhece o enigmático vendedor de máscaras, que informa que Skull Kid lhe roubou a máscara de Majora. Ele diz que se Link a recuperar, e também a Ocarina Of Time, conseguiria quebrar a maldição e deixar de ser um Deku. No entanto, isso precisa ser feito em um prazo de três dias.

Ao sair da torre do relógio, Link se depara com uma cidade, Clock Town, que faz parte de um mundo alternativo, chamado de Termina. Dentro desses três dias, Link pouco consegue fazer nessa forma de Deku, mas consegue se encontrar com o Skull Kid, no último dia, no topo da torre do relógio.

Nesse momento é onde o jogador descobre que a máscara de Majora tem relação com a queda da lua, que por sinal, para quem nunca viu, possui um rosto e é assustador. Em um confronto, graças a uma habilidade mágica, Link consegue golpear o Skull Kid, que deixa cair a Ocarina Of Time.

Ao recuperar o objeto, Link tem uma visão de Zelda, que lhe ensina a tocar a música “Song Of Time”, com ela, o tempo volta para o início dos três dias. Com parte do acordo feito, o vendedor de máscaras ensina Link a “Song Of Healing”, que faz com o protagonista volte a sua forma original. Nesse processo, o jogador recebe uma máscara de Deku, a qual a utilizando, o Link pode retornar a forma dessa raça.

Com a ausência da máscara de Majora, o vendedor fica desesperado, e nesse ponto, ele explica o quão maligna é essa máscara, tendo um poder suficiente para causar um apocalipse, que no caso seria a lua caindo do céu. O vendedor pede para que Link continue sua missão de recupere a máscara de Majora. A única pista que orienta o jogador no restante da jornada são direções para quatro regiões de Termina, mencionadas por Tael, a outra fada, durante o encontro com Skull Kid no topo da torre.

Essas áreas se localizam no entorno da cidade, nos quatro pontos cardeais. Essas regiões estão amaldiçoadas pelo poder da máscara de Majora. Elas se encontram em uma condição não natural, por exemplo, a primeira delas é um pântano que está com suas águas envenenadas. Cada área dessa é lar de uma raça conhecida da franquia, e conta com uma dungeon que o jogador ao concluí-la, resolve uma das etapas do objetivo principal do jogo.

Como foi dito no início desse episódio, Majora’s Mask teve um tempo menor de desenvolvimento, e, obviamente, o mundo de Termina é menor que Hyrule de Ocarina Of Time. Além disso, há um reaproveitamento de elementos do jogo anterior, inclusive de modelos de personagem.

Para justificar isso, a lore explica que Termina é um mundo criado pela influencia da máscara de Majora, das referências de sua origem misteriosa somado ao inconsciente do Skull Kid. Portanto, a repetição de personagens parecidos com o jogo anterior tem a ver com as memórias dos residentes de Hyrule transportados para outra realidade.

Na questão de escopo de jogo, Majora’s Mask utiliza a repetição dos 3 dias para esticar a duração da campanha, que é o tempo que a lua está se aproximando de Termina. Há um relógio na interface que indica essa contagem e cada dia representa 54 minutos em tempo real.

Quando o jogador retorna ao primeiro dia, o progresso das principais conquistas é salvo: dungeons concluídas, máscaras, músicas, armas. Se uma dungeon não for concluída, o que foi conseguido até então, mapas, bússolas, deverão ser coletados novamente. O jogador também perderá as rúpias que não estão no banco, e itens contáveis como flechas, por exemplo. Além disso, quase todos os personagens não se lembrarão de ter conhecido Link, portanto, a maioria das interações será retomada do zero.

Retornar no tempo com a Song of Time é a única maneira de salvar o jogo, isso na versão ocidental. De acordo com necessidades específicas, de cumprir tarefas secundárias se atentando a eventos pontuais e rotinas de NPCs, há formas de navegar pelo tempo, como passar de dia para noite, isso a partir de outras músicas que são aprendidas ao longo do jogo. Majora’s Mask tem um cuidado especial em suas quests secundárias, onde o jogador entra a fundo em histórias paralelas, pode descobrir áreas secretas e subchefes opcionais, além de uma variedade de minigames. Tudo isso segue a linha que norteou o desenvolvimento do jogo, uma experiência mais compacta que Ocarina Of Time, o que claramente ocasionaria críticas por uma parcela de jogadores, sobretudo pela falta de dungeons.

Um elemento bem importante na gameplay são as transformações. Quando falei do enredo, havia dito que quando o Link voltou a sua forma original, recebeu uma máscara de Deku, e no jogo, ao utilizá-la, poderá novamente mudar sua aparência e gameplay.

No decorrer de Majora’s Mask, o Link pode obter uma máscara que o transforma em um Goron, raça de seres meio pedra, e um Zora, os seres meio peixe. A mudança de gameplay realmente alterna a dinâmica do jogo, na parte de movimentação e habilidades únicas para cada um deles, úteis em situações particulares. Além disso, as canções são executadas com outros instrumentos, o Deku com trompas, o Goron batucando com bongôs e o Zora com uma guitarra feita de um esqueleto de peixe. O lance dessas transformações é que cada uma dessas máscaras é referente a um personagem falecido, o Link assume a aparência desses seres que tiveram um destino trágico. Mais adiante entro um pouco mais no tom sombrio e melancólico de Majora’s Mask.

Fora essas três transformações, ainda tem uma última que é a máscara Fierce Deity, divindade feroz numa tradução livre, que o Link assume uma forma adulta com uma aparência modificada. De longe é o poder mais apelão do jogo, tanto que essa transformação só é permitida em luta contra chefes. Com a exceção de mais uma máscara que transforma o Link, o restante delas garantem benefícios situacionais e servem de disfarce, tendo valor em algumas quests secundárias.

Majora’s Mask é um título bem diferente na franquia The Legend Of Zelda, ele possui esse ar meio deslocado, não há elementos comuns da série, a princesa aparece em um momento bem pontual, além disso, temos a ausência completa do vilão Ganon.

Majora’s Mask é considerado o jogo mais sombrio da franquia, o enredo contém temas mais pesados e maduros comparados a títulos anteriores e posteriores. Primeiro temos uma situação de um apocalipse que vai acontecer em 3 dias, com a lua prestes a cair do céu. Tanto no decorrer da trama principal, quando ao investigar melhor as tarefas que envolvem personagens secundários, o jogador se depara com histórias de infortúnio, de perda e abandono. O estado emocional dos habitantes dessa cidade tem relação com o cenário desolador de Termina.

Fora isso temos a parte visual do jogo, como a própria aparência da máscara de Majora e a lua com seu rosto assustador. Como não falar também do bizarro personagem que o vendedor de máscaras, até hoje se especula quais são suas reais intenções. A parte sombria se estende a trilha sonora, um exemplo é a música da Clock Town, ela é toda felizinha e se altera no ciclo de três dias, ganhando uma camada assustadora.

Compartilhando da minha experiência pessoal, sempre fiquei abismado com Great Bay, que é um cenário de praia que foge do nosso imaginário desse tipo de ambiente nos videogames. Trata-se de um lugar totalmente desolado com uma música tensa. No horizonte tem um peixe gigante, quando joguei pela primeira vez, jurava que quando fosse mais fundo pro mar ele viria me comer, era real esse pavor. Depois descobri que o peixe era a estrutura do templo que é a dungeon dessa área.

Todo esse clima sombrio, algumas coisas que ficam no ar, despertam obviamente uma série de teorias para analisar uma mensagem profunda em Majora’s Mask. A principal delas que está bem presente pela internet, a relação do jogo com a teoria dos cinco estágios de luto: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Todo o gatilho disso seria a separação de Link da sua fada Navi e essa realidade alternativa que ele entrou, Termina.

Fora as teorias, é de Majora’s Mask que vem a creepypasta mais famosa dos videogames, o Bem Drowned, uma história de um garoto que conseguiu um cartucho do jogo amaldiçoado por um fantasma. É um material bem elaborado que possui texto e também vídeos, a partir dos arranjos da programação dos elementos do jogo.

Ao longo do podcast fiz questão de relembrar de como esse título foi produzido, as condições limitantes que traduz o que foi o produto final. Esse é mais um caso de barreiras criarem margem para criatividade fluir, por parte das mentes envolvidas. Majora’s Mask é considerado por uma parcela dos fãs o melhor Zelda já feito, isso é algo incrível, considerando o contexto, de ter lançado depois do jogo mais importante da série, que foi um marco histórico também para os videogames em geral.

Em tantos casos semelhantes, a gente observa um produto como esse minguar, ficar na sombra do antecessor. Não é que o Majora’s Mask teve o mesmo sucesso comercial ou o impacto de contribuição para os videogames semelhante ao Ocarina Of Time. O seu legado entra na questão da sua personalidade, em tomar um caminho diferente e autoral, que tinha tudo para dar errado, mas, acabou gerando uma experiência única na série. Majora’s Mask é um título que desde seu lançamento continua ressoando com seu tom, além da maneira que sua jogabilidade trabalha. Com isso, é uma obra presente no imaginário dessa franquia tão complexa e brilhante que é The Legend Of Zelda.

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Transcrições dos episódios do podcast Level Secreto.