The Witcher 3: Wild Hunt — Level Secreto #70

Roteiro: Erick Oliveira

Level Secreto
8 min readDec 9, 2022

The Witcher 3 foi lançado em maio de 2015 para PC, Playstation 4 e Xbox One. Em 2019 teve uma versão para o Switch. É o jogo que fecha a trilogia dessa história que é uma adaptação/continuação dos livros do autor polonês Adrzej Sapkowski. Esse terceiro título foi que estourou a série The Witcher como um todo e também a CDProjekt como uma grande empresa no meio da indústria dos videogames.

The Witcher 3 seria o ápice dessa história, foi responsável por trazer boa parte das referências dos livros, ao contrário dos anteriores, para encerrar o embate mal resolvido contra a caçada selvagem. Ao mesmo tempo, por ser uma tentativa de popularizar a série, The Witcher 3 teria que ser mais amigável a novos jogadores, tanto na apresentação desse enredo e na questão da dificuldade, que é, por muitos, considerado o principal fator que afasta quem tenta se aventurar tanto no The Witcher 1 quanto no 2.

Esses dois jogos da CD Projekt Red têm seus méritos e conseguem entregar muito da riqueza que possui a série como um todo. Falando pela vivência da época que tive antes do lançamento do The Witcher 3, era curioso imaginar um estúdio não tão grande procurando fazer um jogo de ação e RPG com um vasto mundo aberto, querendo manter a questão das escolhas e caminhos diversos que o jogador pode seguir. Parecia, por vezes, uma tentativa de dar um salto maior que as pernas, porque o The Witcher 1 é um jogo todo problemático, em relação a estrutura, a bugs, combate desengonçado, e o 2 tem uma difícil curva inicial de aprendizado, que tende a afastar rapidamente os jogadores novatos.

Hoje em dia é muito louco, pensando nesse passado, ver o quanto The Witcher 3 se estabeleceu na indústria dos videogames, como referência de jogo de ação e RPG, mundo aberto, e na narrativa. Era um desafio muito grande o que a CD Projekt tinha que fazer, The Witcher 3 é o final da jornada de Geralt de Rívia, ao mesmo que tempo que para maior parte dos jogadores, foi a primeira.

Ao fim dos eventos de The Witcher 2, o mundo vive a terceira guerra entre os reinos do norte contra Nilfgaard, desta vez com uma ampla vantagem do império que vem do sul, sobrando apenas Redânia como última força resistente no norte.

Como falei em episódios anteriores, essa adaptação de The Witcher para os jogos começou tentando se desvencilhar dos livros, mas o 2 já vinha dando indícios de continuidade de algo mal resolvido no término da obra original: a caçada selvagem, cavaleiros espectrais que até pouco antes do fim eram atores misteriosos nessa história. Surgiram como uma grande ameaça no último livro, só que havia uma outra trama desenvolvida ao longo de série que precisava se encerrar. No fim, todo aprofundamento da Caçada Selvagem virou um desvio, quase que como um episódio filler, um acontecimento alternativo.

Nos dois jogos, Geralt passou o tempo tentando recobrar suas memórias e no The Witcher 3 já está bem recuperado disso. Ele tem o objetivo de reencontrar Yennefer de Vengerberg, a feiticeira que é meio que seu par romântico. Essa meta é alcançada logo no comecinho da campanha.

A grande busca de The Witcher 3 é a Ciri, a criança do destino que Geralt acolheu nos livros, que possui um grande poder devido a sua linhagem genealógica, e que a torna alvo, em especial, da caçada selvagem. No último livro ela escapou deles, e do final da história das obras do Sapkowski até os eventos desse terceiro jogo, Ciri vem continuamente fugindo desses inimigos, graças a sua habilidade de se transportar entre mundos.

Yennefer quando encontra Geralt, informa sobre a presença da Ciri em regiões próximas. Um detalhe importante é que a feiticeira está junto de Nilfgaard, pois, ela, por conta do suporte do império, conseguiu rastreá-la de forma eficiente.

Mas essa ajuda de Nilfgaard não é toa. Para quem não sabe, o imperador Emhyr Var Emreis é o pai da Ciri e a quer para si, mais por razões políticas que afetuosas. Geralt e Yennefer se dividem nessa procurar pela garota nas regiões em que ocorre os eventos do jogo.

Então, The Witcher 3, tem uma área inicial que é o Pomar Branco, uma pequena zona de mundo aberto em que o jogador controlando o Geralt se aventura, conhece o esquema de missões principais e secundárias, além das atividades existentes pelo mapa que permeia toda experiência de jogo. Aí chegando nesse ponto de encontrar a Yennefer, e seguir para busca da Ciri, é que o The Witcher 3 se expande num mundão aberto.

De fato, existe uma grande área vasta, a parte de Velen, uma terra de ninguém, uma região ainda a ser disputada na guerra, e ao norte uma parte Redânia com a grande cidade de Novigrad. Apesar da liberdade, a dificuldade do jogo escala nessa ordem, as missões têm níveis recomendados, monstros muito poderosos possuem um aviso sobre isso. Ou seja, o jogador tem livre acesso por esse mapa, mas, existem as barreiras de dificuldade. Quanto mais Geralt explora o mundo e cumpre missões, vai adquirindo equipamentos, itens, evolui de nível, consegue aprimoramentos e por aí tendo mais acesso a tudo. Depois de explorar Velen e Novigrad, o jogador parte para uma zona afastada que são as ilhas Skellige, que é onde Yennefer foi procurar a Ciri.

O enredo de The Witcher 3 se orienta nas missões principais nessa busca principal do Geralt, mas, esses eventos podem estar conectados com o mundo: o cenário presente da guerra, tramas já existentes, no caso de preconceito com as raças não-humanas, histeria contra magos e feiticeira por extremismo religioso, fora, obviamente, a ameaça corriqueira dos monstros. Em cada evento que surge, o jogador acaba tomando decisões importantes e que geram consequências, algumas bastante surpreendentes até.

O enredo principal do jogo não é o principal ponto da experiência de The Witcher 3, é mais aquela coisa de se gostar dos personagens, de entender a real ameaça da caçada selvagem. Para quem jogou os outros dois títulos é a sensação de preenchimento das aventuras do Geralt. No caso de quem leu livros têm isso também, somado, principalmente, a ver como determinados personagens dos livros são incorporados em um videogame, em especial, a Yennefer e a Ciri.

O grande destaque de The Witcher 3 é o seu mundo vivo. Levando em conta que os outros 2 títulos estavam longe de serem populares, a sua maneira de trabalhar a narrativa nas suas missões, a tomada de decisões não ser algo preto no branco e as consequências de fato terem um peso nos sistemas de jogo quanto no emocional do jogador, isso realmente é algo que cativou o público que teve contato na época. Acredito que The Witcher 3 se beneficiou muito de ser uma franquia que vinha quase que do nada, que não jogou, não saber exatamente o que esperar, e com isso, acabar sendo surpreendido com tamanha qualidade dos seus elementos.

Começava-se a se discutir em 2015 uma saturação de jogos em mundo aberto, e a maneira que The Witcher 3 conta suas histórias, sobretudo, as pequenas, que parecem irrelevantes, ajudam a criar a conexão do jogador com o espaço que elas acontecem e com os NPCs genéricos. Existe uma memória afetiva naquela jogatina, não é uma mera enrolação para alargar o jogo artificialmente.

O grande destaque até hoje de The Witcher 3, que é mérito nos primeiros livros e os dois primeiros jogos, é justamente essas pequenas histórias que o Geralt vive, situações que precisa resolver e lidar com dilemas morais, e que existe uma certa reviravolta e faz a pessoa pensar um pouquinho no que que aconteceu, se tomou a decisão certa ou errada, sempre fica aquela coisa no ar. Então, no The Witcher 3 tem aquela escala do enredo para a resolução geral da história principal, que aí acaba se perdendo a identidade mais poderosa desse franquia, mas, diante do jogo que é, The Witcher 3 consegue trabalhar bem seu mundo com essas pequenas riquezas aqui e acolá.

A CD Projekt conseguiu produzir um jogo que é complexo em seus sistemas, mas, que foi bem sucedido em simplificar a experiência dos dois primeiros The Witchers, tornando-se um título mais amigável. Isso vale tanto para questão de combate, de usar os sinais, mas, sobretudo, para fabricação itens, poções, de elixires, óleos, a coleta de materiais de modo geral. Tanto na preparação quanto na caça de monstros, o jogador se sente um Witcher e incorpora nessa tarefa de caçar monstros, com mais facilidade que nos títulos anteriores.

The Witcher 3 é um marco nos jogos de mundo aberto. Isso na época já era claro nos próprios jogos lançados em 2015 posterior a ele, a aventura de Geralt servia naquele mesmo ano como uma régua de referência. É natural com o passar do tempo, enxergar alguns elementos de qualquer obra com um pouco mais de cuidado, saber apontar os defeitos e o que nem era tão brilhante. Porém, o lançamento desastroso do Cyberpunk recaiu numa percepção distorcida sobre o The Witcher 3, inclusive, comentários dizendo que ele também tinha saído todo bugado. Não sei onde esse povo estava em maio de 2015.

Mas, aproveitando algo que falei antes, o The Witcher 3 foi meio que uma surpresa, o grande público não conhecia os outros dois títulos, então favoreceu a recepção. No caso de Cyberpunk, a história foi outra, a expectativa estava lá nas alturas, a grande pressão influenciou e causou episódios terríveis dentro da CD Projekt. É aquele clichê: chegar ao topo é mais fácil do que se manter nele.

The Witcher 3 é um jogo especial para mim, muito pelo que os dois anteriores significam, a série já havia me conquistado e havia muita vontade de explorar ainda mais esse mundo. Antes do lançamento de The Witcher 3, li os 4 primeiros livros. Isso para mim era algo inacreditável, porque nunca fui muito de ler, sério mesmo. A partir de então, consegui construir um hábito, dentro do meu jeito, e, sem dúvida, foi um gatilho para futuras conquistas que tive futuramente, foi um efeito borboleta.

Além disso, eu tinha um canal no Youtube e foquei em conteúdos sobre a série The Witcher. No lançamento do terceiro jogo, lancei alguns vídeos de dicas e uma análise bem completinha. Esse foi o período mais satisfatório como produtor de conteúdo na internet, tanto no desenvolvimento desse material quanto nos números e na repercussão, que era maior que a média.

Portanto, The Witcher 3 na minha vida, transcendeu a experiência de estar lá na frente da TV e apertar os botões, existem as lembranças paralelas, as expectativas antes do lançamento e reflexões depois de zerá-lo. Isso é algo comum nas nossas experiências mais memoráveis, esse fator afetivo que transborda, que carrega sentimentos, na hora de lembrar e de compartilhar com as outras pessoas. E é por isso que, independente do meu gosto e visão sobre videogames ter mudado drasticamente nos últimos 5 anos, The Witcher 3 sempre vai ter um cantinho especial no meu coração.

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Transcrições dos episódios do podcast Level Secreto.