Tomb Raider — Level Secreto #96 (Transcrição)

Autor: Erick Oliveira

Level Secreto
5 min readJan 17, 2024

Tomb Raider foi lançado em março de 2013 para PC, Xbox 360 e Playstation 3. A partir de 2014 foi lançado para consoles das gerações seguintes e outros dispositivos. Trata-se do reboot mais recente que temos desta franquia, o início de novas aventuras que implicou, sobretudo, em uma reformulação da personagem Lara Croft. Foi o primeiro título da trilogia do período em que Tomb Raider pertencia a Square-Enix.

O que guiou essa reformulação da franquia, quanto a divulgação desse novo jogo, foi o lema “a survival is born”, meio que “o nascimento de uma sobrevivente”. A Lara Croft teve uma mudança enquanto personagem, deixaria ser um aventureira inabalável para uma exploradora mais pé no chão, que tem suas vulnerabilidades e que as situações por ela enfrentadas, realmente, tenha um peso de ajudá-la a se desenvolver. Havia uma clara noção de que iríamos testemunhar a jornada da Lara para se tornar a “tomb raider”, o mais próximo do que a gente via nos jogos anteriores.

O título de 2013 traz a primeira expedição de Lara Croft. Ela, com 21 anos, está a bordo do navio “Endurance”, com a intenção de encontrar o reino perdido de Yamatai. Nada mais conveniente do que estarem no Triângulo do Dragão, que é tipo o Triângulo das Bermudas do Oceano Pacífico, por isso mesmo o navio é atingido por uma violenta tempestade e afunda. Os sobreviventes ficam presos na ilha isolada. Lara é separada dos outros e é forçada a escapar de uma caverna macabra.

Eu tenho uma visão muito particular desse jogo, só que a grande impressão vigente, em especial por conta desse começo, é um show de sofrimento da Lara, porque a mulher sofre muito. O lema é “a survival is born”, mas nossa, o quanto que a Lara grita de dor e as mortes que existem aqui, não é brincadeira. Essa impressão ficou tão vigente como falei, que o filme que adaptou esse jogo é fraco por tentar capturar só essa parte de sofrimento, sem levar em conta tantas qualidades que esse título possui. Vale falar que esse jogo chegou a ser planejado como algo mais sombrio, com criaturas sobrenaturais, um tom bem dark, algo que de alguma forma foi aproveitado no produto final.

A progressão do Tomb Raider de 2013 é dividida nas regiões dessa ilha, com cenários mais abertos e outros mais contidos e lineares. Existem alguns acampamentos espalhados, são pontos de descanso na jornada da Lara, mas têm a função prática de ser o local onde o jogador desbloqueia novas habilidades para ela, melhoramentos de arma a partir das peças coletadas e também de viagem rápida.

Assim como boa parte dos jogos daquela época e hoje em dia, esse reboot de Tomb Raider passou a incorporar, digamos, elementos de RPG, um sistema de evolução para a Lara. Ao longo da campanha, o jogador adquire pontos de experiência que servem para comprar ou aprimorar habilidades. Essa experiência é conquistada a todo instante, pode ser no combate, com uma recompensa a mais para tiros na cabeça e mortes furtivas. Esses pontos podem vir da caça de animais, exploração de locais, principalmente tumbas, coleta de artefatos, que é possível examiná-los com mais detalhes em um menu, e descobrindo um segredo, há um bônus de experiência. Além de todas essas atividades, o progredir da história também auxilia a Lara nessa evolução.

Cada área tem diferentes coletáveis, mini tarefas que se repetem, uma jornada complecionista mesmo. Para auxiliar a progressão do jogador e essa busca de segredos, Tomb Raider tem uma novidade que foi apelidado de “instinto de sobrevivente”, que nada mais é que um recurso onde alguns elementos interativos do cenário são destacados, algo bastante comum nos jogos.

O Tomb Raider de 2013 é um jogo de tiro em terceira pessoa, aos moldes do que se tinha na época, menos acrobático nas ações. Essa coisa mais realista se percebe muito na fluidez do jogo, no sentido de haver de uma narrativa, momentos de caçar, de combate, tudo isso se mesclando de maneira orgânica, o que dá uma sensação enganosa de não haver tantos quebra cabeças quanto antigamente. Só diria que estão mais incorporados no jogo, não seções a parte que destoa das outras atividades, sendo algo até mirabolante, fantasioso. Tem as tumbas que são os principais desafios de puzzle desse Tomb Raider, que exige raciocínio de combinar a gameplay de escalada e lidar com física, principalmente.

Há uma mudança de direção de jogo, onde não é a resolução dos quebra cabeças que evoluem a Lara Croft, que dão sequência a narrativa. Como ela se desenvolve como uma sobrevivente, a evolução da exploradora é notada com a capacidade que ela tem de acessar todos os territórios dessa ilha. Essa jornada menos linear é o que diferencia esse jogo de um Uncharted.

A Lara consegue habilidades que a permitem acessar novos locais. Em seu visual, o jogo fornece pistas de como interagir com certos padrões, é um processo de alfabetização que dita essa transição de quase morrer na caverna de forma horrível, estar sobrevivendo com muito sofrimento, ao ponto da Lara se movimentar de uma maneira fluida, inclusive, verticalmente pelos cenários. O jogador a cada item-chave adquirido vai percebendo o mundo de forma diferente.

Aí esse é o momento de soltar a frase polêmica que é: o Tomb Raider de 2013 é um jogo mais metroidvania que alguns que pessoas costumam associar a esse gênero, como Dark Souls, por exemplo. A única coisa que impede Tomb Raider de pertencer a essa caixinha definida, é que a progressão pela ilha não é de idas e vindas pelas regiões do mapa. O jogador retorna as áreas inicias para completar coisas deixadas para trás, é claramente um desvio da narrativa.

Tomb Raider de 2013 foi um título muito impactante, chegou a concorrer como jogo do ano em vários locais. Realmente essa reformulação deu uma energizada na franquia, havia toda uma expectativa de como seguiria o desenvolvimento dessa nova Lara Croft.

Dez anos depois, nós temos um cenário já bem definido sobre isso, a Square abriu mão dessa franquia, a preço de banana, a trilogia foi encerrada de uma maneira não muito satisfatória. Pessoalmente, gosto bastante até do Rise Of The Tomb Raider e do Shadow Of The Tomb Raider, apesar do lance antiquado da salvadora branca que é a única capaz de auxiliar os povos primitivos e indefesos.

O que pegou muito dessas sequências não serem tão aclamadas, além da falta de uma ousadia nas tramas, de ser algo meio a mesma coisa, o mesmo dilema, a Lara não se desenvolver tanto. Há o aspecto de jogo mesmo, esses títulos são muito parecidos, há incrementos que melhoram gameplay, dinamizam algumas coisas, mas nada de grande destaque. Com isso, a impressão desse período da franquia acaba me forçando a enxergar o Tomb Raider de 2013 como o melhor dessa trilogia, simplesmente devido ao impacto, da novidade em si. Por isso mesmo ele pode ser o suficiente para conhecer essa fase da franquia Tomb Raider, justamente por essa base se repetir adiante.

Agora, o que o futuro nos reserva, aí é um mistério muito mais complicado que eu já tenha resolvido controlando a Lara Croft.

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Transcrições dos episódios do podcast Level Secreto.