Mega Man X5 — Level Secreto #56

Roteiro: Erick Oliveira

Level Secreto
6 min readMay 27, 2022

Mega Man X5 foi lançado para o Playstation 1 em novembro de 2000 no Japão e em fevereiro de 2001 no ocidente, depois lançou para PC. Segundo o produtor Keiji Inafune, que é o criador original de Mega Man, esse jogo seria o último capítulo dessa saga X. Seria né? Porque a Capcom tinha outros planos. Mas é interessante observar como o X5 homenageia bastante a série com referências aqui e ali e trata seu enredo como algo bastante importante, porém, com menos requinte de desenvolvimento que o X4, em especial.

Bem, de forma bem resumida, a saga X é um conflito entre dois grupos de androides, os reploids que são os do bem, que não ameaçam os humanos, e os marvericks que são os corrompidos. Os responsáveis por enfrentar esses seres são os intitulados marverick hunters, no X4 eles dividiam essa tarefa com um grupo militar conhecido como Repliforce. No fim, houve uma tentativa de golpe desse grupo, que passou a ser influenciado por Sigma, o vilão principal dos jogos dessa saga.

Enfim, controlando o X e o Zero, o jogador lida com essa guerra entre esses dois grupos, envolvendo sacrifícios. Depois desse conflito, as colônias da terra tiveram de ser reparadas dos danos causados pela Repliforce. Uma delas não foi recuperada, a Eurásia.

Alguém havia posto um vírus no lugar e alterado seu sistema de gravidade para coloca-la em direção a terra, com a probabilidade de causar um dano que pode exterminar a vida no planeta. Para lidar com isso, é necessário atualizar um canhão poderoso que teria capacidade para destruir a colônia.

E aqui nós temos o cenário do Mega Man X5. Para lidar com ameaça, é necessário atualizar um canhão poderoso que teria capacidade para destruir a colônia. Controlando X e o Zero, o jogador precisa coletar 4 peças para essa arma, que estão nas fases e protegidas por marvericks, que atuam como chefes. Outra coisa que ameaça a terra é o vírus Sigma, que naturalmente é a influência do vilão que corrompe os reploids, só que nesse jogo, o espalhamento do vírus ocorre de forma global e nunca antes vista até então.

Mega Man X5 entrega esse cenário catastrófico, um apocalipse que pode causar a destruição da terra em 16 horas. O que é o clímax desse enredo ao longo dos jogos, ajuda a causar algo pode estragar a experiência de alguns jogadores, exatamente a forma que esse clima de urgência foi inserido na prática.

Os marverick hunters tem essas 16 horas para lidar com a ameaça, e durante o jogo, cada hora é gasta com a passagem em uma fase. Mas aí, se o jogador consegue passar pelas 4 fases e deter os chefes, dá tudo certo né? Então, não há uma garantia. Como Mega Man tem a tradição de oferecer 8 fases, então o jogo dá a desculpa de completar as outras 4. Mas, de certa forma, você pode solucionar o problema da Eurásia com facilidade, ou precisa depender de um plano B, ou pode falhar completamente e ter uma consequência pesada. Mega Man X5 fornece ramificações em seu enredo, o que interessante até para rejogar e conhecer outros desdobramentos, um deles é, inclusive, a desculpa para dar seguimento ao X6.

Isso tudo é muito legal na teoria, e caso o jogador complete as fases com eficiência e rapidez, a chance de ter uma jornada, menos urgente digamos, é maior. No entanto, independente do esforço do jogador, existe um fator de sorte, que pode ser bem injusto.

Começar com X ou Zero tem mudanças. De início, o jogador pode contar com a Fourth Armor, uma armadura especial do X4. O Zero, caso seja escolhido, passa a ter um tiro de projétil, além de seus golpes com espada. Um dos fatores interessantes e que expandiu ainda mais na sequência, é o jogador ter uma quantidade maior de armaduras para o X. Nos títulos anteriores, a coleta das partes consistia numa armadura que aumentava as capacidades da gameplay base. No X5, além de ter a armadura que cumpre esse papel, há outras que auxiliam a exploração de áreas inacessíveis das fases.

Uma ameaça diferente que o jogo apresenta é o vírus Sigma, surgindo em alguns trechos das fases, atravessando o cenário e não podendo ser derrotado como um inimigo qualquer. Ao ser atingindo algumas vezes por ele, o X fica infectado, tendo seu poder reduzido. Enquanto o Zero, fica mais forte, aí você passa a supor o que quiser desse detalhe.

Mega Man X5 é um jogo que segue a receita da franquia, primeiro tem uma fase inicial, depois tem que passar de 8 fases com chefes, cada um dá poderes, o X alterna de tiro enquanto o Zero ganha comandos, executados como em um jogo de luta. Cada um desses poderes tem uma vantagem de acordo com o chefe, algo comum na série, o tiro causa uma paralisia de sua animação, arrancando bastante sua vida.

X5 entrega todas essas convenções com uma camada de clima decisivo para essa história desde o X lá do Super Nintendo. Para esse fator existe uma contradição, pois o X5 tem recursos narrativos mais “pobres” que o X4, o que perde um melhor impacto desses acontecimentos que são importantes. O antecessor, apesar de seguir essa mesma fórmula, teve um frescor na época de seu lançamento, por contar com os vídeos em anime, algo que passou a ser permitido pela mídia em CD. O X5 tem cenas estáticas com texto, sem dublagem nos diálogos, algo que foi colocado no X6. Há muitas instruções, bastante tuteladas, que podem causar desinteresse nos jogadores, que só querem mesmo se aventurar nas fases.

O pior é que existe algum background na história tanto dos cenários quanto dos chefes, aí ficamos tão de saco cheio das caixas de textos, que informações um pouquinho mais interessantes podem passar batidas.

Mega Man X5 reúne referência a outros jogos da série, não só dentro dessa saga X. Algumas coisas foram claramente recicladas do X4, como animações de modelos dos personagens, cenários, até o uso de um chefe em uma fase de tutorial. De referências mais interessantes, temos remakes de fases do Mega Man 2 do NES e do Mega Man X, o primeiro do Super Nintendo. Tem uns três chefes que são referências de batalhas de jogos passados, um deles do primeiro Mega Man inclsuive. Há remixagem de músicas, a que mais curto é uma do X2 da fase da água. Então, devido a essas referências, dá a entender que é uma forma de prestar uma homenagem a franquia nesse título que teria a intenção de dar um fim a essa trama.

Mega Man X5 não é um jogo tão querido quanto o X4, e isso tem muito a ver com repetição de fórmula, dele estar no final da vida do PS1, uma época que havia aquela coisa de pressionar que tudo deveria rumar para o 3D. Isso é uma impressão da crítica, e para quem vai jogar, sobretudo quem não é muito apegado, o lance da urgência de cumprir a fases dá um nervoso na experiência, e não dá para defender a questão da sorte que mencionei anteriormente, ela compromete toda essa intenção de entregar múltiplos desfechos.

Porém, Mega Man não é uma franquia consagrada a toa, o X5 no boca a boca tem seus fãs, é algo que números oficiais de venda e críticas especializadas não conseguem mensurar a coisa real. É possível perceber isso nas impressões dos jogadores, destaco de forma particular, o quanto que conteúdo de Mega Man gera de engajamento, é absurdo notar isso, falo isso por experiência própria como produtor de conteúdo.

Esse carinho vale até no X6 que é um jogo todo quebrado, até eu tenho um certo afeto por ele, o que é complicado né, já que teoricamente esse jogo nem deveria existir. Porém, proporcionou momentos bacanas, apesar dos problemas que não concebia quando criança, comparado que quando passei a entender melhor de jogos, enfim.

A franquia Mega Man, essa parte do X, marcou a vida de pelo menos duas gerações distintas de jogadores, no Super Nintendo e Playstation 1 especialmente. No caso do X5, marcou essa leva de jogos onde tive maior elo afetivo com essa série. Uma pena que, talvez por limitação de orçamento, ele não tenha tido todo um nível de produção condizente com os momentos tão impactantes que ele entrega, relacionados a personagens tão memoráveis, que até são lembrados com muito carinho na história dos videogames.

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Transcrições dos episódios do podcast Level Secreto.