Shadow Of The Colossus — Level Secreto #58

Roteiro: Erick Oliveira

Level Secreto
5 min readJun 9, 2022

Shadow Of The Colossus foi lançado em outubro de 2005 para o Playstation 2. É o segundo jogo dirigido pelo Fumito Ueda, adquirindo um destaque maior que seu antecessor, tornando-se uma das obras mais elogiadas da história dos videogames. Despertou a partir de sua experiência, reflexões a respeito de conceitos básicos presentes desde sempre nos jogos e tão pouco avaliados.

A terra proibida, é como se chama o vasto e vazio local que ambienta Shadow Of The Colossus. Wander é um garoto que adentra a esse território. Ele leva para um santuário uma garota chamada Mono, por algum motivo, ela havia sido sacrificada, mas era um destino que Wander não queria aceitar, por isso se arriscou em entrar em tal lugar, que como o nome diz o nome, é proibido.

Uma entidade misteriosa chamada Dormin tem o poder de reviver os mortos, mas ele daria uma condição ao garoto: derrotar os 16 gigantescos colossos espalhados pela terra proibida. Wander e sua única companheira dessa aventura, a égua Agro, partem em busca desse objetivo.

Shadow Of The Colossus, tal como Ico que já teve uma edição aqui no Level Secreto, é minimalista em relação a conteúdo. Dá para resumir a experiência desse jogo em 16 batalhas contra chefes, onde enfrentar cada colosso é como solucionar um quebra-cabeça, pois cada um deles possuem pontos fracos específicos em sua estrutura. Devido a tanto a seus corpos diferentes entre si, quanto os terrenos em que ocorrem esses embates, o jogador precisa desenvolver a melhor estratégia para lidar contra esses inimigos tão intimidadores.

Shadow Of The Colossus apresenta esse tom de desolação, a terra proibida é extensa e quase sem vida, misterioso é o seu propósito, o que há por trás das estruturas que encontramos ao longo do jogo. É muito fácil, a princípio, o jogador se perder, pois dá para se meter nos locais mais aleatórios. Graças a sua espada, o Wander consegue refletir um feixe de luz, e na direção em que está mais focado, é a trajetória correta em direção ao próximo colosso.

Dá para resumir a visão geral dessa experiência a 16 lutas contra chefes, mas, antes mesmo de encontrar os colossos já temos uma narrativa sendo traçada. Deslocar-se do ponto A ao B, passar por obstáculos no caminho, se deparar com cenários particulares, tanto da natureza quanto ruínas arquitetônicas, isso faz parte da vivência que dá o sentido a aventura do Wander. Do clima de desolação, partimos para o medo ao se encontrar com uma ameaça enorme, da confusão de tentar entender “como que faz se quer uma cócega nesse bicho, como se enfrenta isso?”.

Desses questionamentos, mistura de pensamentos confusos, quando você encontra o caminho de seu ponto fraco, um elemento passa a mostrar o seu serviço indispensável, a trilha sonora. No início, ela passa esse clima de tensão, mas quando o Wander começa a escalar o colosso, a música cresce e vai se tornando cada vez mais empolgante, a medida que a certeza da vitória se aproxima. Existe um pico de euforia, de ter conseguido um feito, do impossível ter se tornado possível, tal como é o percurso para objetivo final, a possibilidade de reviver uma garota morta.

Porém, esse sentimento muda, volta a ficar uma confusão. A música após a morte do colosso parece trágica, resquícios sombrios daquele ser enorme entram no corpo de Wander, algo que na repetição desses momentos, vai deixando seu corpo cada vez mais irreconhecível. Será que estamos fazendo a coisa certa?

A cada batalha, o Wander retorna ao santuário central, onde rola uma cena, algumas mais importantes que outras. Em seguida, o próximo colosso está na mira e seguimos viagem no galope da Agro. Quanto mais longe chegamos, mais perguntas ficam no ar, com a certeza de que coisas fora daquele padrão inicial podem estar prestes a acontecer, só que o objetivo de Wander é salvar Mono, e vamos ver até onde isso vai nos levar.

Tal como o Ico quer sair da fortaleza, levando a Yorda consigo, esse objetivo mais simples citado é o dita a progressão de Shadow Of The Colossus. O design de subtração, esse método do diretor Fumito Ueda em criar essa narrativa minimalista de jogo, permite com o jogador vá elaborando interpretações ao longo da aventura, até depois dela.

Os elementos principais que dão identidade a essa experiência é o cativa, o que engaja, o que traz o que é essencial a proposta passada, sem nenhum ruído desnecessário. Tudo parece muito vivo, principalmente, a gama de emoções que nascem do que deparamos pelo caminho, cavalgando pela terra proibida, sem nenhum elemento de interface na tela, das estratégias elaboradas em nossa mente ao conhecer o colosso, a execução de mecânicas planejadas e a realização de ações significantes, que vão alterando o mundo que interagimos.

Como falei lá no começo, Shadow Of The Colossus nos convida a refletir sobre a intenção por trás de nossas atitudes jogáveis, não só porque controlamos um personagem, é que ele necessariamente, naquela visão geral, é o benfeitor da causa. Estamos no escuro praticamente, chegamos num meio de um contexto já estabelecido, sabe-se lá o que passou antes com Wander. Portanto, dos questionamentos mais simples que colocavam em dúvida sobre o que se fazia em Shadow Of The Colosssus, foi o que fez inúmeros jogadores pararam um pouco para pensar, ao invés de só ficar apertando uma sequência de botões.

Parar um pouco também é o que nos faz sentir, e mesmo uma premissa aparentemente tão simples, permite por meio de sua narrativa minimalista que as mecânicas se expressem, e nós, como jogadores, integrarmos nossas emoções com essas figuras gigantes, como, em especial, esse garoto e sua égua, numa jornada que talvez nem faça tanto sentido, mas, a gente embarca tanta outras loucas quando jogamos videogame não é?

Na sua época, ele foi uma experiência particular, um visual intrigante, diferenciando-se do que tinha no catálogo do Playstation 2, fora o tamanho dos inimigos, um elemento que virou parâmetro que outros jogos futuros buscaram alcançar a ponto de maravilha os jogadores, fazê-los se sentirem protagonistas de momentos épicos. Shadow Of The Colossus tornou popular o design de subtração, um aspecto que ajuda a expressar mensagens tão cativante, sem precisar de tanta conversa, de uma ação tão frenética, um tema tão explícito, apenas que a gente jogue. Um comportamento que nos aproxima tanto do que está ao nosso redor, que nos permite nos comunicar de forma tão particular, que impulsiona a nossa capacidade de transformar momentos silenciosos em uma corrente de significados que se estendem em um tamanho gigante.

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Level Secreto

Transcrições dos episódios do podcast Level Secreto.