Belém, a Praça da República e o 7 de setembro

Lianne Ceará
2 min readSep 8, 2019

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Belém, 07 de setembro de 2019. Há um bocado de tempo o Brasil foi proclamado como república. Um calor de uns 40° queimava a capital morena e cheirosa do país. O trânsito piorado com as ruas fechadas pelos desfiles da data. Ver-o-peso, no meio do pitiú, tudo cheira mais forte ainda com o calor, mas também parece ter melhor proveito. O barulho de rádios ligados, galinhas presas em gaiolas, os barcos ligando os motores prestes a cruzar o rio Guamá, os seresteiros e as caixas de som que algumas bicicletas carregam, o borbulhar do óleo fritando o peixe, os pedidos lançados por meio de gritos.

A praça da República e toda a coincidência que essa data, nesse local, pode trazer. Crianças brincavam, as pessoas comiam sentadas na grama, policiais guardavam o Theatro da Paz. Um grande monumento no centro da praça e a pergunta “que monumento é esse?”, depois, pesquisando, encontrei: a mulher no topo representa o regime democrático, o ramo de oliveira na não da mulher representa a paz. No primeiro degrau, um homem forte ergue uma bandeira, simbolizando a liberdade. Arrisco dizer que isso está anacrônico pros dias de hoje…

Olhamos ao redor, um grupo de pessoas que aparentemente eram de uma classe social mais baixa estavam com churrasqueiras improvisadas, assando espetinho, bebendo cerveja, conversando.

Tive a leve impressão que isso é o Brasil real. Entre uma árvore enorme e outra, típicas da Amazônia, que haviam na Praça da República, pessoas cantavam, tomavam cerveja, crianças brincavam e algumas até limpavam uma fonte que havia no local. E bem, eu e minhas amigas cantávamos “Como nossos pais” do Belchior, sendo aplaudidas por crianças que não conhecíamos, num dos coretos com arquitetura típica da “Belle Époque” – não tão conservados assim –, que depois pediram um pouco da Coca-cola que tínhamos em mãos. Sentei pra tirar foto em uma varanda do coreto e no pilar da varanda, estava escrito “pau no cu do prefeito de Belém. A cidade é escrota”.

E isso continua sendo o Brasil… essa eterna contradição entre Amazônia e Europa. Entre a Belle Époque e nossos traços indígenas. A urbanização ocorrida tempos atrás e a linha do tempo contrária à conservação e preservação. Entre a liberdade e a censura. República e Colônia. Brasil e Europa.

Senti o 07 de setembro numa das veias que mais pulsam no Brasil!

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Lianne Ceará

Jornalista e escritora. Textos na revista piauí, G1 CE, Diário do Nordeste e aqui! Autora de “Memórias interrompidas”.