Bitcoin, altcoins, blockchain e smart contracts… Parte 1

LiberDApps
4 min readSep 10, 2021

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O principal objetivo da LiberDApps é fornecer soluções para problemas do mundo real por meio dos aplicativos decentralizados. Estes applicativos, ou simplesmente dApps, são similares a apps convencionais que você instala em seu celular, mas com algumas diferenças cruciais:

  1. DApps são comumente disponibilizados através de sites na Web, e normalmente interagimos com eles através de uma carteira (por exemplo, a MetaMask) instalada no browser de um computador pessoal.
  2. Apesar de ser possível o armazenamento de dados localmente em seu dispositivo, o motor desses aplicativos gira dentro de uma plataforma com suporte a contratos inteligentes (smart contracts).

O ponto 2 merece destaque: quando um dApp é implantado em uma plataforma com contratos inteligentes, este aplicativo herda automaticamente todas as propriedades oferecidas por ela. Geralmente, elas conferem descentralização, resistência à censura e segurança. Por descentralização, entende-se que não há uma entidade ou grupo que, sozinho, detenha controle total sobre a rede. Uma plataforma é resistente à censura quando se torna impossível — ou praticamente impossível — determinar quem pode ou não usá-la, e quais ações podem ou não ser tomadas pelos seus participantes — desde que não haja uma limitação técnica ou inconformidade com regras pré-estabelecidas, é claro. Por fim, a segurança de uma rede está atrelada à sua capacidade de manter a integridade dos dados e transações de seus participantes, mesmo sob a influência de atacantes e outras entidades mal-intencionadas. Aplicativos descentralizados abrem um novo leque de possibilidades quando comparados às aplicações tradicionais onde temos um grau muito menor de descentralização, permissão para uso e segurança: tradicionalmente, temos um ou mais servidores 100% controlados por uma única entidade ou grupo que define o rumo das aplicações, quem pode ou não usá-las e o nível de segurança oferecido.

Neste contexto de plataformas descentralizadas, o Bitcoin é o grande pioneiro: a grande sacada de Satoshi Namakoto não foi criar algo totalmente novo; mas sim combinar um conjunto de tecnologias já existentes (como timestamps, hashes, criptografia assimétrica, blockchain — o paper de Satoshi não menciona o termo explicitamente, mas faz alusão à estrutura de dados que tem sua origem em trabalhos de alguns cientistas prévios — e proof of work), acrescidas de uma teoria de jogos brilhante que culminou no que temos hoje: a rede para pagamentos mais segura e descentralizada do planeta. Apesar de sermos grandes fãs do Bitcoin e de acreditar que este posto de rede mais segura e descentralizada para pagamentos permaneça no futuro, não podemos ignorar o fato de que a humanidade precisa mais do que isso. Precisamos de serviços como justiça/intermediação, seguros, troca de propriedades, poupança e investimentos e por que não, derivativos, opções e outros mercados especulativos. Aqui entra um ponto polêmico que pode desagradar principalmente os bitcoiners: o Bitcoin não resolve todos os problemas do mundo e nem mesmo foi arquitetado para isso.

Ignorando por hora outros problemas alheio à tecnologia, muitos dizem que tudo que outras criptomoedas oferecem pode ser implementado no Bitcoin, mas isso não é necessariamente verdade. Qualquer um que entenda um pouco sobre softwares sabe que, dependendo da funcionalidade a ser implementada, pode ser necessário fazer alterações estruturais no design e arquitetura de um programa que, por vezes, acaba sendo mais vantajoso re-escrever todo o código do que tentar criar amarrações e remendos no código já existente. Sabemos ainda que, quanto mais modificações são feitas em um software, maior a possibilidade de se introduzir bugs e outros efeitos indesejados. O Bitcoin se destaca por sua filosofia bem conservadora no que se diz respeito a alterações em seu software: qualquer modificação precisa ser cuidadosamente proposta, discutida, revisada, implementada, revisada mais inúmeras vezes e exaustivamente testada antes de ser lançada ao público. Isso tudo ocorre em várias etapas e com dezenas, centenas e até milhares de envolvidos espalhados ao redor do mundo. Isso é maravilhoso! Afinal, se desejamos ter uma rede segura, precisamos reduzir ao máximo a possibilidade de bugs e erros que podem comprometer não só o patrimônio dos usuários, bem como a reputação do Bitcoin em si.

Hoje sabemos que o Bitcoin visa propor uma base sólida, segura e robusta para pagamentos permitindo que outras aplicações que desejem outras funcionalidades, como maior velocidade de transação, por exemplo, sejam construídas encima dessa base sólida. Essa é uma abordagem inteligente, mas não existe almoço grátis: em troca de maior escalabilidade, por exemplo, há um certo comprometimento da segurança e descentralização, e isso é um fato presente em soluções de segunda camada, como a lightning network, por exemplo.

Um ponto fraco do ecossistema Bitcoin é o suporte bastante limitado a contratos inteligentes: apesar de haver os chamados scripts que permitem certos tipos de aplicações, mesmo com upgrades importantes como o Tap Root, há ainda grandes limitações no que se pode programar nativamente utilizando o ambiente Bitcoin, e essa deficiência abre portas para plataformas alternativas (altcoins) como Ethereum, Cardano, Solana e outras que visam explorar melhor esse potencial. Diferentemente do Bitcoin, essas plataformas foram construídas com este propósito em mente, de forma que o design e arquitetura dos seus softwares foram pensados para acomodar melhor esse caso de uso. Devido ao efeito de rede, mesmo que surjam soluções baseadas em Bitcoin para melhorar o suporte a contratos inteligentes, tais plataformas ainda terão vantagem competitiva devido à existência de soluções que já funcionam há anos, bem como o crescente número de outras inovações no setor que se alastram a cada dia. Obviamente, essas plataformas também precisam abrir mão de certo grau de descentralização, segurança e/ou escalabilidade. Novamente, não existe almoço grátis, e como usuários e entusiastas, precisamos ao menos conhecer os pontos fortes e fracos para saber escolher a melhor solução para cada tipo de problema e necessidade.

Na parte 2 dessa série, abordaremos um pouco mais sobre essas plataformas alternativas ao Bitcoin, bem como alguns conceitos básicos como blockchain, transparência, descentralização e segurança.

Até lá.

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