Uma história pessoal-universal sobre mulheres e música
Senta que lá vem textão…
Oi. Me chamo Liv Brandão (tá, meu nome mesmo é Lívia, você entendeu), tenho 33 anos e este texto é um pequeno recorte da minha vida, mas que certamente se aplica a muitas mulheres que amam música.
Decidi estudar jornalismo aos 15 pra trabalhar com cultura, mais especificamente com música. Nessa época eu já produzia shows, quando a cena independente era muito mais incipiente do que hoje. Escrevo pra sites de música desde 2003. Eu tinha 18 anos e ainda nem estava na faculdade. Embora cobrisse séries de TV, escrevi muitas vezes sobre música nos 8 anos em que fiquei no Globo. Hoje, sou editora-chefe de um site sobre música, o Reverb, uma parceria entre a Webedia e o Rock in Rio.
Nesse tempo todo, fiz parte de inúmeras comunidades, listas de discussão, grupos, redes sociais em que falava sobre música. Sempre tive paixão por discutir esse assunto. E o que eu encontrei a vida inteira foram dois polos do mesmo problema: ou os homens me tratavam com desdém, afinal mulher não pode entender de música, ou eu virava a Pixie Dream Girl, a garotinha ruiva que ama música e portanto a salvação pra todo o mal para o homem hétero branco, tipo no irritante “500 Dias Com Ela”. Eu me sentia o bichinho exótico: olha só, uma menina que entende de música. Isso sem falar da quantidade de homens me explicando o que eu já sabia e até mesmo o que eu tinha acabado de falar.
O mundo da música costuma ser misógino, machista, um clube do Bolinha bem patético, em que mulher que tenta entrar ou é tratada de forma escrota ou automaticamente vira um mero objeto sexual.
Lidar com isso, minha gente, é um porre.
Por isso fico muito feliz de ver prêmios como WME, que celebra as melhores mulheres do mundo brasileiro da música, em cima dos palcos, mas também nos bastidores. Fico feliz pacas por ver a SIM SP, comandada por mulheres e com a preocupação em manter a igualdade de gênero. Vejo a agência que a Lalai Persson montou com a Claudia Assef pra tratar de música e me dá um quentinho no coração, e olha que eu nem sei direito como funciona, mas são duas mulheres incríveis por trás! Bato palmas quando o Primavera Sound decide implementar a igualdade de gênero, pela primeira vez tendo um line-up (foda) a 50/50. E fico muito orgulhosa de levar essa consciência pro Reverb. Um site idealizado por uma mulher, primordialmente conceituado por mulheres, e com maioria de mulheres no time – pra minha equipe fixa, por exemplo, eu fiz questão de só contratar mulher. Todas fortes, incríveis, feministas. O que prova que mundo tá uma merda, mas tá mudando :)