Radiohead: A Moon Shaped Pool

Lizandra Pronin
3 min readMay 20, 2016

O Radiohead construiu uma aura cult e especial em torno de si de uma forma que poucos artistas conseguem. Principalmente nos dias atuais, quando tudo é efêmero e se uma banda fica seis meses sem lançar uma música ou atualizar seu Facebook corre o risco de ser esquecida.

Essa aura dos ingleses provoca uma mistura de ansiedade e frisson cada vez que a banda se manifesta — seja nas redes sociais ou pelo correio, como foi com “A Moon Shaped Pool”. Mas o status de cult do Radiohead não veio à toa: foi conquistado com álbuns marcantes — contando a partir de “The Bends”, o segundo, lançado em 1995 — , e com uma identidade musical própria e um discurso idem que foram se moldando a cada lançamento.

E o nono disco dessa trajetória, “A Moon Shaped Pool”, chegou, no último domingo, 08 de maio, como o óbvio passo seguinte dessa jornada. Uma semana antes, o Radiohead apagou o conteúdo de seu site e redes sociais, o que fez com que fosse assunto nas publicações musicais — e na boca dos fãs — em todo o planeta. Ao mesmo tempo, enviou um cartão postal para os fãs ingleses com uma arte e três frases: “Sing a song of sixpence that goes”, “Burn the Witch” (essa, em destaque) e “We know where you live”. No dia seguinte, lançou um videoclipe para “Burn the Witch”.

“Burn the Witch”, a primeira música apresentada, é a faixa que abre o disco. Ela não é um termômetro para o que vem a seguir. A faixa, ‘quase alegre’, chega a destoar do restante do álbum, bem mais melancólico musicalmnte falando. Já a temática, se encaixa perfeitamente no restante do novo repertório. Não que haja um conceito em “A Moon Shaped Pool”. O que há é uma atmosfera carregada, que parece querer assombrar o ouvinte faixa a faixa.

É preciso dizer que as músicas que compõem “A Moon Shaped Pool” não são exatamente novas. A banda usou bastante material antigo — tem até uma faixa composta em 1995, “True Love Waits”.

“A Moon Shaped Pool” tem um quê onírico, como se cada faixa fosse um sonho do Radiohead — às vezes um sonho paranoico, como em “Daydreaming” ou “Ful Stop”, outras mais psicodélico, como em “Desert Island Disk”.

Há algumas canções mais fáceis, como “Identikit”, cuja linha melódica vocal é do tipo que permite cantarolar junto com Thom Yorke. O mesmo vale para “Desert Island Disk”, que começa com um som limpo de violões, quase uma música folk. Até que entram os teclados etéreos que levam a música e o ouvinte pra outra dimensão. “The Numbers” e “Present Tense” também entram nessa categoria melódica.

Comento ainda a interessante “Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief”, uma faixa com 5 minutos, cheia de nuances e detalhes, que teve seu título inspirado numa rima infantil inglesa (algo como Uni-Duni-Tê). Alguns efeitos sonoros fazem a imaginação voar longe e imaginar que a música toca em algum lugar aberto com o vento fazendo um chiado quase constante ao fundo. As orquestrações dão uma sensação de grandiosidade, mas tudo parece muito triste.

Não há urgência nos 52 minutos de “A Moon Shaped Pool”, mas é possível sentir uma ansiedade que antecipa o desconhecido. “A Moon Shaped Pool” é como uma trilha sonora para o prelúdio do fim: não é o catastrófico fim em si, mas é aquela sensação que parace antecipá-lo. É a calmaria que precede a tormenta.

O que Radiohead quis dizer exatamente com essa coletânea de canções, só a própria banda poderia dizer. A interpretação, como em toda arte maior, permanece livre para cada ouvinte. “A Moon Shaped Pool” é um álbum feito para sentir.

Gravadora: XL Recordings

Cotação: 4 estrelas

Repretório

01. Burn the Witch
02. Daydreaming
03. Decks Dark
04. Desert Island Disk
05. Ful Stop
06. Glass Eyes
07. Identikit
08. The Numbers
09. Present Tense
10. Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief
11. True Love Waits

Essa resenha foi publicada originalmente no Território da Música.

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