Poluição sonora: percepção e contexto

Harmonia
4 min readApr 23, 2019

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Além do mapa de ruído

O desenvolvimento urbano e o aumento dos níveis de ruído estão estreitamente ligados. Inúmeros estudos comprovam que a poluição sonora é uma das principais ameaças ambientais para a saúde física e mental e para o bem-estar, constituindo assim, uma questão de saúde pública. Por ser uma ameaça ironicamente “silenciosa”, pode chegar a afetar diretamente a economia das cidades, prejudicando o turismo e sendo responsável pela desvalorização de imóveis e/ou do solo urbano.

Apesar de tudo, a gestão do ruído ambiental ainda é um tema pouco explorado pelas políticas públicas brasileiras. Iniciativas parciais já foram tomadas em algumas cidades, mas por enquanto São Paulo publicou a Lei 16.499 Mapa de Ruído Urbano, de 21/07/2016, que instituiu a obrigatoriedade de implantação do Mapa de Ruído no Município de São Paulo, exemplo seguido pelo Rio de Janeiro na forma de projeto de lei.

No âmbito da gestão do ruído ambiental, os esforços se concentram em avaliar o ruído urbano através de mapas de ruído, com base em modelos preditivos computacionais, calibrados por medições em campo. Os resultados destes instrumentos determinam as orientações para a execução dos planos de ação contra o excesso de ruído. Portanto, ações técnicas especializadas, associadas ao planejamento urbano, são necessárias para controlar o aumento da exposição dos habitantes de uma cidade ao ruído.

Contudo, é normalmente observado que a simples redução do ruído no espaço urbano não necessariamente aumenta o grau de conforto acústico por parte da população. A medição ou predição de um nível de pressão sonora é o parâmetro mais trivial para estimar o incômodo gerado pelo ruído. A questão, é que a partir destes dados é muito difícil interpretar o impacto real que o ruído exerce sobre a população, sem informação adicional sobre a natureza da fonte sonora e especialmente o contexto em que ela está inserida. A percepção auditiva não é independente, pois os sentidos não atuam de forma isolada e consequentemente, a satisfação com o ambiente sonoro depende de outros fatores subjetivos como sensoriais e culturais.

Ao avaliar a situação acústica urbana, é necessário adotar uma abordagem abrangente que permita identificar propriedades físicas assim como as propriedades sensoriais e afetivas que contribuem para a experiência no ambiente sonoro. Ou seja, para assim entender a totalidade desta percepção da população com o ruído produzido em seu entorno e viabilizar uma gestão do ruído urbano com ações assertivas.

No panorama latino americano, avaliações subjetivas não fazem parte dos regulamentos existentes e não são sistematizadas na prática dos agentes ligados à gestão do ruído ambiental. Uma vez que a experiência e as expectativas dos cidadãos são um parâmetro fundamental, este tipo de avaliação abrangente requer uma ampla coleta de dados para análise.

Uma das formas de capturar essa percepção das pessoas é através da análise dos textos publicados pelas pessoas nas mídias sociais. Diariamente, milhares de pessoas pelo mundo se manifestam sobre problemas urbanos na Internet, expressando suas opiniões e experiências sobre serviços urbanos sendo a poluição sonora um desses temas. A vantagem de se entender essas manifestações é capturar o sentimento espontâneo das pessoas acerca do tema ruído em seu contexto, quais os temas associados e a localização, dia e hora em que o mesmo é um problema para elas.

Por meio da ferramenta Urban Insights, da CityTech, é possível ver que na cidade de São Paulo, por exemplo, a concentração de manifestações negativas sobre ruído está no centro da cidade.

Grafico de manisfestacoes vinculadas ao ruído para a cidade de São Paulo

Neste exemplo real, as manifestações capturadas sobre o tema nos três primeiros meses de 2019 estão associadas às palavras carros, ônibus e carnaval (por conta dos blocos de carnaval que ocorreu no final de Fevereiro). Nota-se na análise desses dados que as manifestações negativas sobre barulho ocorreram no início da manhã (entre 7 e 8 horas) e à tarde (às 13:00 e depois entre 16 e 19:00), coincidindo com os horários de pico no trânsito da cidade. Isso demonstra que a percepção do ruído pelas pessoas na cidade tem uma razão específica e demonstra um certo padrão de ocorrência.

É imprescindível que seja feita esta avaliação perceptiva junto ao mapa de ruído para gerar entendimento mais completo do cenário urbano e possibilitar ações de maior precisão e eficácia. A Harmonia Acústica incorpora em sua metodologia este diagnóstico holístico, como parte de suas soluções de Gestão de Ruídos Urbanos e etapas decorrentes, sejam Mapas de conflito, Planos de Ação e Acompanhamento.

Portanto, um diagnóstico ganha valor e poder de ação à medida que é contextualizado e ainda mais, estratégico, quando utilizado como dado de entrada para que a gestão pública possa entender o cerne do problema e planejar, com o apoio de profissionais especialistas do tema, as melhores intervenções para reduzir esse impacto urbano.

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