Experimento Marshmallow: 40 Anos de Pesquisas nos Mostram como Vencer a Procrastinação

Leonardo Polak
7 min readNov 7, 2016

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Em 1960, o pesquisador Walter Mischel iniciou uma série de experimentos extremamente importantes no campo da psicologia comportamental.

Durante os testes, Mischel e sua equipe testaram centenas de crianças, com idade média entre 4 e 5 anos, e revelou o que acreditamos hoje ser um dos fatores mais importantes para uma vida de sucesso.

Vamos então conversar sobre o que aconteceu, e ainda mais importante, sobre como podemos aplicar esse conhecimento para combater a Procrastinação!

O Experimento Marshmallow

O experimento começava com as crianças sendo levadas até uma sala pequena, onde recebiam a seguinte instrução:

“Eu vou deixar você aqui, por 15 minutos, sozinha com um marshmallow. Se após eu voltar, esse marshmallow continuar aqui, você receberá mais um, de forma que você então fique com dois”.

Bom, pedir para que uma criança de 4 anos espere 15 minutos para comer algo que ela gosta, é o mesmo que pedir para um adulto que espere por 2 horas para receber um cafezinho. É pouco provável que consiga esperar por tanto tempo.

Contudo, esse era o trato: um marshmallow agora, ou dois marshmallows daqui 15 minutos. O pesquisador então deixava a sala, e permanecia visualizando o comportamento das crianças através de câmeras de vídeo.

Como você pode conferir, esses vídeos são extremamente engraçados. Isso porque embora muitas crianças escolhessem comer o marshmallow assim que o pesquisador deixava a sala, outra parte das crianças começava a utilizar todo tipo de estratégias para combater o ímpeto de comer.

Algumas crianças sentavam em suas mãos, outras permaneciam olhando para cima, e outras ainda ficavam cantando, como uma forma de se distrair, e com isso deixar o tempo passar.

Quando esses experimentos foram publicados em 1972, eles não receberam tanta atenção. Isso porque a parte mais interessante aconteceu apenas anos depois.

Experimento Marshmallow no seu Dia a Dia

Bom, antes de eu lhe explicar o que aconteceu anos depois, é importante refletirmos um pouco sobre como o Experimento Marshmallow se faz presente no nosso dia a dia.

Por exemplo, o trato realizado no experimento consistia em escolher entre algo bom agora (um marshmallow), ou algo ainda melhor no futuro (dois marshmallows). Se pararmos para refletir, somos confrontados com decisões similares todos os dias.

  • Você prefere dormir por uma hora a mais hoje (bom), ou utilizar essa hora com seu desenvolvimento pessoal (melhor no futuro)?
  • Você prefere comer batata frita (bom), ou começar a comer de maneira mais saudável (melhor no futuro)?
  • Você prefere checar o Facebook hoje (bom), ou planejar suas prioridades para amanhã (melhor no futuro)?

Existem diversos outros exemplos que eu poderia te fornecer aqui, mostrando a aplicação do Experimento Marshmallow na prática. Da mesma forma, eu imagino que você também consiga imaginar algumas dessas situações. Eu até mesmo me pergunto quais são os exemplos que você consegue encontrar disso acontecendo no seu dia a dia.

Conforme eu expliquei no artigo “Autocontrole: Por que mais tempo não resolveria seus problemas de Produtividade?”, é extremamente comum termos dificuldade em escolher o que é melhor para nosso futuro, em detrimento do que é melhor agora. É comum escolhermos hoje pelos prazeres momentâneos, mesmo quando sabemos que eles trarão sérios malefícios no futuro.

Anos Mais Tarde

Anos após seu experimento inicial, Mischel conduziu alguns outros testes com a finalidade de rastrear o progresso das crianças em diferentes áreas. Seus achados foram surpreendentes!

As crianças que escolheram esperar, e postergar sua gratificação, tiveram melhores notas na escola, melhores respostas a estresse, menores níveis de obesidade e de abuso de drogas (álcool, por exemplo), e melhor estabilidade financeira. Isso sem falar em melhores habilidades sociais (como relatado por seus pais), e melhores pontuações em uma série de outras medidas.

(Caso queira conferir esses experimentos, clique aqui e aqui).

Os pesquisadores acompanharam as crianças por mais de 40 anos, e todas as vezes que eram testadas, o grupo de pessoas que havia esperado pelo segundo marshmallow possuía melhores índices em uma vasta gama de medidas de sucesso.

Em outras palavras, os pesquisadores encontram ao menos uma das habilidades mais importantes para o nosso sucesso: a habilidade de esperar por uma gratificação, ou como é também chamada, a “Gratificação Tardia”.

Gratificação Tardia

Novamente, quando comparamos o que foi feito nos experimentos com nossa própria realidade, fica óbvio o motivo pelo qual algumas crianças tiveram sucesso e outras não.

Se uma criança de 4 anos consegue se controlar para não comer algo que ela gosta, ela também conseguirá se controlar para, no futuro, gastar menos dinheiro com futilidades, comer menos porcarias, estudar mais e, principalmente, não procrastinar tarefas importantes.

A habilidade de se controlar, e esperar por gratificações tardias, é uma habilidade universal, que uma vez aprendida em uma área da sua vida, você também conseguirá transferi-la para outras áreas sem dificuldades.

Agora, outro fato importante das pesquisas de Mishel é que nem todas as crianças que não esperaram o tempo solicitado e comeram o marshmallow, tiveram maus resultados anos mais tarde. Algumas crianças, mesmo sem demostrar a habilidade de esperar pela segunda recompensa, tiveram também boas notas na escola, e tiveram sucesso posteriormente.

Esses resultados podem, ao menos em parte, serem explicados por uma pesquisa recente, publicada em 2013.

A Habilidade de Postergar Gratificações

Na tentativa de expandir os achados de Mishel, a equipe do pesquisador Richard Aslin, da Universidade de Rochester, repetiu o Experimento Marshmallow, mas com uma pequena diferença.

Nessa pesquisa, as crianças foram primeiramente divididas em dois grupos:

Grupo 1 — O pesquisador não cumpria sua promessa: Por exemplo, o pesquisador dava um giz de cera para a criança, prometia que lhe traria uma caixa inteira de giz de cera, mas não trazia. Então, o pesquisador dava um adesivo para a criança, e prometia trazer vários outros, mas não trazia.

Grupo 2 — O pesquisador cumpria a sua promessa: Nesse caso, se o pesquisador prometia uma caixa de giz de cera, então a caixa era entregue a criança. O mesmo era válido para os adesivos.

Em seguida, ambos os grupos passavam pelo Experimento Marshmallow, e os pesquisadores podiam assim medir por quanto tempo as crianças esperavam até comer o doce.

Eu acho que você consegue imaginar o impacto que as promessas tiveram nos diferentes grupos. Como esperado, as crianças do grupo 1 não possuíam razão alguma para acreditar que o pesquisador traria o segundo marshmallow, então eles basicamente comiam seu marshmallow assim que o pesquisador deixava a sala.

O segundo grupo, o qual já havia treinado seu cérebro para esperar por uma recompensa, esperaram em média 4 vezes mais tempo do que o primeiro grupo.

Em outras palavras, os pesquisadores mostraram que a habilidade de esperar por uma gratificação não é inata. As crianças não nasceram dessa forma, mas aprenderam com suas experiências passadas, e com o ambiente no qual estavam inseridas.

Gratificação Tardia e Procrastinação

As aplicações desses experimentos são as mais variadas. Ao meu ver, a aplicação mais óbvia seria apenas: se você prometer algo para seu filho, então cumpra, pois isso pode levar a uma série de complicações futuras na vida dele.

Contudo, podemos expandir esse raciocínio em diversas outras áreas, como, por exemplo, Procrastinação. Isso porque, nesse segundo experimento, o pesquisador inseriu duas crenças fundamentais na cabeça das crianças: 1) esperar por uma gratificação realmente vale a pena; 2) eu possuo a capacidade de esperar.

Essas duas crenças são extremamente importantes no combate da Procrastinação. Por exemplo, vamos dizer que você está precisando escrever um relatório, mas se pega constantemente procrastinando nas redes sociais.

Dessa forma, eu poderia te perguntar:

  • Você acredita que a recompensa que você terá ao escrever o relatório vale a pena?

E em seguida:

  • Você acredita ter a capacidade de esperar por essa recompensa?

Se a resposta para essas duas perguntas for sim, então você não tem motivo algum para continuar procrastinando. Agora se resposta para alguma dessas perguntas for não, então você precisará de um pouco mais de reflexão.

Caso atualmente a resposta da primeira pergunta seja não, então reflita um pouco mais sobre a necessidade de você realmente realizar essa tarefa. É possível delegá-la para outra pessoa? Ou talvez é possível que a tarefa tenha algum benefício que você não está vendo agora?

Caso a resposta da segunda pergunta seja não, eu recomendo a leitura do artigo “Quebrando as Amarras: Não Seja um Escravo de Suas Crenças Limitantes”. Nesse artigo você encontrará algumas das respostas que está procurando.

Considerações Finais

Você e eu podemos fazer a mesma coisa. Nós podemos treinar nossa habilidade de esperar para receber melhores gratificações, assim como treinamos nossos músculos em uma academia. E você pode fazer isso da mesma forma que as crianças na pesquisa: prometa algo pequeno para você mesmo, e então siga em frente.

Repita esse processo várias vezes, até que seu cérebro diga:

1) Sim, vale a pena esperar!

2) Sim, eu tenho a capacidade de fazer isso!

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Esse post apareceu originalmente em lpprodutividade.com.br

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Leonardo Polak

Apaixonado por produtividade pessoal, e consultor em LP Produtividade (lpprodutividade.com.br)