Por que pular de um avião mudou a minha vida?

Luana Ribeiro
4 min readFeb 17, 2023

Acredito que este texto precisa de uma introdução mais completa, então, tudo começou quando eu pulei de um avião. Isso mesmo, você não leu errado, pular de paraquedas mudou minha vida e minha perspectiva de mundo.

Era um fim de tarde de uma quinta-feira, estava voltando de um dia particularmente complexo no trabalho quando um amigo me manda a seguinte mensagem:

“Lu, você tem medo de altura?”

“Bom.. até onde eu sei, não! Mas porque?”

“Anima pular de paraquedas?”

Eu literalmente não sabia se eu tinha medo de altura, meu máximo ao lidar com altura até então haviam sido nas idas em parques de diversão, em algumas montanhas russas. No impulso, topei o convite e 3 meses depois estávamos com a viagem marcada e salto pago.

A semana da viagem foi uma semana de muita chuva em toda região Sudeste, estava com medo de após 3 meses de planejamento, mala pronta, carro alugado, hotel fechado, andar 650km e não conseguir realizar o salto, pois a confirmação da experiência depende diretamente da condição climática na hora marcada para o salto. Além do receio da perda financeira, havia a ansiedade pelo desgaste e a frustração de talvez não conseguir concretizar o plano que tanto havíamos investido e sonhado.

Pular de paraquedas por si só, já é algo que foge muito do controle de quem está pulando, afinal, você está se jogando em queda livre de um avião! Além das condições meteorológicas do dia, do momento que você entra no avião ao momento que você pousa no chão, todo seu movimento é coordenado por um instrutor, você depende dele para garantir que os equipamentos estão devidamente ajustados, para se posicionar para o salto, para abrir o paraquedas e para te guiar em segurança até o solo.

Após 4 dias de muita chuva, visitas aos sites de previsão do tempo, preces, orações e figas, na sexta feira antes de irmos para a cidade que faríamos o salto o tempo estabilizou e pegamos estrada. A equipe que foi responsável por saltar com meu grupo me deu uma verdadeira aula de Customer Experience. Nunca vi pessoas tão apaixonadas pelo que fazem. O salto foi feito em um domingo de manhã, a equipe estava com uma energia que nunca vi igual, nos envolveram em todo o processo desde a montagem de equipamentos com muita interação, explicação e brincadeiras.

Confesso que quando entrei no avião foi a primeira vez que minha ficha realmente caiu do que eu estava prestes a fazer e o primeiro pensamento que eu tive foi “eu perdi o controle da minha vida”. Essa foi a melhor e a pior sensação que eu já senti.

Por um segundo fui tomada pelo medo e não consegui mais falar, só consegui rir de nervoso e pensar “o que eu estou fazendo?”. Foram alguns segundos de pânico mas quando a porta abriu e me posicionei na beirada do avião, minha mente estava incrivelmente quieta. Toda agitação e desespero de segundos antes tinham ido embora, tudo que existia para mim era o ali e o agora e minha mente experimentou uma quietude que eu não me lembro de ter sentido antes disso.

“Mas Luana não te deu medo de algo dar errado?” Eu confesso que a adrenalina era tanta que este pensamento só me ocorreu no chão, mas junto com uma clareza muito grande de que a situação não estava no meu controle e caso algo desse errado, não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer daquela posição. Eu sei que isso parece desesperador para quem está lendo até aqui e se a Luana pré salto estivesse lendo, ela também acharia. Mas a partir daquela experiência eu pude experimentar a completa perda de controle e a paz que pode existir nisso. O salto mudou minha forma de ver meu trabalho, a intensidade com que levo minha vida e onde aplico minha energia. Ele me abriu para o novo, para aceitar o desconhecido e para abrir mão do controle.

Sei que não é tema de concordância universal, mas acredito que existem experiências que se tornam marcos na vida das pessoas e esta foi uma na minha. Sempre me considerei uma pessoa metódica, organizada, centrada e um pouco controladora, confesso. Situações que fugiam do meu previsto sempre me tiravam do eixo e eu vi tudo isso mudar a partir de um salto. Não que eu ainda não seja um pouco metódica, organizada, centrada e às vezes, até controladora, mas a diferença é que o imprevisto não me tira do eixo mais, aprendi a lidar com o desconhecido e muitas vezes a gostar dele e abraçá-lo.

Esse texto não tem o mesmo tom que os outros que costumo trazer por aqui, mas eu realmente não acredito que exista uma Luana do trabalho e uma Luana da vida pessoal. Existe a Luana em sua totalidade e as experiências que vivo, sejam no meu ambiente pessoal ou profissional, sempre servem de conexão e frutos para minha totalidade.

Em casa, no trabalho, na faculdade, lembre-se que está tudo bem se abrir para o novo e encarar o desconhecido, a experiência que destravou isso para mim foi um salto de paraquedas mas poderia ter sido um curso novo que realizei, uma migração de carreira que arrisquei, uma mudança de estado ou qualquer outra coisa.

A vida não foi feita para ser milimetricamente calculada e convenhamos, há beleza em deixar que alguns imprevistos simplesmente aconteçam… deles podem sair grandes frutos e aprendizados.

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Luana Ribeiro

Trabalho com pessoas e escrevo meus devaneios nas horas vagas.