Você tem vivido como se nunca fosse morrer?

A imprevisibilidade da vida… SNAP! Aquele instante em que tudo muda.

Luana Reis
Releituras da Vida
6 min readAug 4, 2019

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Quem aqui nunca pensou assim levanta a mão:

“Ah, mais pra frente quando TAL coisa acontecer eu finalmente poderei TAL outra coisa.”

Se tiver rolando uma sinceridade maior, essa foto acima representa a minha expectativa de resposta hahaha

E se esse depois não chegar? Ou… quando chegar, tudo for diferente?

Quanto do nosso viver estamos adiando para uma situação aparentemente mais favorável que ainda está por vir?

Há algumas semanas, estava eu lendo, pela segunda vez (há livros que, ler apenas uma vez, não é suficiente para entender toda a profundidade hehe) o livro: “A morte é um dia que vale a pena viver”, da Dra Ana Claudia Arantes, uma médica geriatra que trabalha com Cuidados Paliativos (Clique para assistir seu TEDx Talk com o mesmo título do livro).

Nesse livro, a Dra Ana Claudia fala sobre os “Zumbis existenciais”, os quais ela define:

Gente que não confia, não entrega, não permite, não perdoa, não abençoa. Gente viva que vive de um jeito morto.

Você conhece pessoas assim? Que vivenciam a vida com certa apatia, inércia, ou até mesmo, infelicidade, desesperança, desmotivação?

Bem… agora olhando para dentro de si: qual percentual de “Zumbi existencial” existe em você hoje?

Este semestre, estou cursando o 11º período do curso de medicina, no internato de urgência e emergências. Isso inclui dar plantões em um pronto socorro, o Hospital João XXIII, muito conhecido pelos moradores de Belo Horizonte e profissionais da área da saúde, principalmente por ser um serviço de referência em casos de acidentes (moto, carro) e traumas em geral (facadas, tiros… eita).

Durante esse estágio, vejo pacientes que acabaram de sofrer diversos tipos de eventos traumáticos (é variado, sim, mas acidentes que envolvem motocicleta consiste em uns 90%). São pessoas que estavam vivenciando seu dia, normalmente, cheios de planos, de expectativas, de ideias e de sentimentos.

Pode ser que estivessem indo ao trabalho… ou a um encontro romântico. Talvez estivessem apenas fazendo alguma atividade aparentemente divertida, mas que não deu tão certo… sim, tem também aqueles que estavam em disputas e brigas, as quais não terminaram tão bem…

Em um instante estava tudo normal. Em um segundo, um evento, muda muita coisa.

Às vezes não muda tanto, mas outras, tem consequências impactantes, sequelas e, até mesmo… o término do ciclo desta vida para alguém.

Não acho que convém enumerar aqui alguns desses desfechos traumáticos, é possível que sua mente criativa já tenha feito um levantamento suficiente sobre eles nesse instante.

Em lugar disso, irei comentar alguns eventos que vivenciei…

Já faz cerca de 2 meses… finalmente estou pronta para escrever sobre.

Era uma quarta à noite, estava conversando com um grande amigo, estávamos marcando uma reunião para o dia seguinte.

Estávamos prestes a acertar o horário em que iríamos nos encontrar, quando ele manda:

Luana, meu pai teve um AVC.

Meu coração gelou… SNAP! Em um segundo…

Alguns dias depois seu pai veio a falecer.

Em paralelo à esse fato, nessa mesma semana, estava eu tendo brigas e discussões com meu namorado. Estava difícil de gerir, ainda que estivéssemos dando nosso melhor.

Depois de 4 dias complicados, após vivenciar ambas as histórias mencionadas acima, na mesma semana, chegou a quinta feira.

A quinta logo após o evento médico súbito sofrido pelo pai do professor de inglês.

Olhei de frente para minha situação amorosa e pensei:

Não vou ficar à mercê da imprevisibilidade da vida. Quero ter a oportunidade de me reconciliar, enquanto ainda há chances. Ficar bem. Expressar meu afeto. Acertar os pontos.

Liguei para o meu namorado e combinamos de nos encontrar em sua casa.

Cheguei lá e superficialmente estava tudo bem. A conversa fluía normal, sem aprofundar ainda em questões mais complexas da relação.

Resolvi desabafar com ele minhas angústias diante das situações vividas, contei alguns detalhes dos acontecimentos impactantes recentes e disse:

Não devemos deixar para amanhã o que pode ser feito hoje. A qualquer momento… tudo pode mudar. – eu dizia e sentia.

Ele concordou e se animou convidando-me para assistir a um palestra chamada: “Palestra SNAP – Luciano Pires (Epicentro)” (Clique para – por assistir).

Ok. O título não foi muito esclarecedor, mas ele me disse que tinha tudo a ver com nossa conversa. Assim, se me permite, darei alguns spoilers do conteúdo dessa breve palestra.

O Luciano Pires disse (estou parafraseando haha):

A cada segundo, sua vida passa… e não volta mais… SNAP! Aquele momento que tudo muda.

Há pessoas que são nutritivas, para o nosso corpo, mente e alma. E há pessoas que nos consomem. Consomem nosso tempo. Consomem nossa vida.

Em consonância com essas ideias, vou voltar à Ana Claudia Arantes (autora do livro que mencionei acima), ela diz:

Você se apega a tudo, os bens materiais que leva para casa… mas não é possível segurar o TEMPO. Nenhum dinheiro no mundo nos protegerá de morrer quando chegar a nossa hora de morrer. Mesmo em diferentes classes e contextos, o sofrimento humano se manifesta de formas muito semelhantes.

E se um ente querido seu falecer?

E se HOJE for seu último dia?

Como você se sentiria?

Ainda citando a Dra Ana Claudia:

Dra Ana Claudia em seu TEDx na FM-USP.

Quando a doença encontra o ser humano, ela faz uma melodia única que é o SOFRIMENTO.

A morte é um laboratório incrível onde funciona um acelerador nuclear de enfrentamento. A morte é, portanto, uma ponte para a vida.

Em face do fim, muitas vezes nós nos tornamos mais amorosos, gratos, dispostos a perdoar. Lembramos daquilo que realmente importa. E… nos arrependemos daquilo que não vivemos… ou daquilo que vivemos do jeito errado.

Mas… e se não precisássemos esperar até o final para permitir que essas reflexões nos transformem hoje? Modifiquem nossas atitudes HOJE MESMO? Agora!

Enquanto as pessoas não olharem para a morte com honestidade de perguntar a ela o que há de mais importante sobre a vida ninguém terá a chance de saber a resposta. – diz Ana Claudia.

A verdade é que damos cada passo no nosso tempo. E tudo bem. Se soubéssemos que ia dar “errado” teríamos feito diferente. A cada momento agimos com o nosso melhor diante das informações que temos naquele momento. E tudo bem.

O que fazer com isso, afinal?

Acredito que, se permitirmos que essas reflexões nos levem a buscar uma maior consciência sobre como estamos levando nossa vida, já será um grande passo.

A consciência tranquila sobre estarmos, de fato, dando o nosso melhor diante de cada contexto.

E se olharmos para nós mesmos com coragem:

Estou dando meu melhor hoje?

Estou consciente de que, a cada momento, tudo pode mudar, e isso não depende de mim?

Independente da crença de cada um, nesta vida aqui, a gente só morre uma única vez. Sabendo disso…

Como você quer construir os seus dias?

Bem, voltando aos meus dramas amorosos, naquele dia, após uma conversa longa, difícil, franca e, acima de tudo, amorosa, fizemos as pazes.

Voltei para casa com a consciência tranquila, de que tinha dado o meu melhor naquele dia. Se o “SNAP” me pegasse, estaria tudo bem. Eu não deixei para amanhã.

E você? Vai deixar para depois?

Quando não houver mais tempo, dará tempo de ser feliz?

E aí, o que achou dessas reflexões? Já vivenciou muitos SNAPs na sua vida? Como foi? Seria um grande prazer ouvir seu feedback e compartilhar experiências! Deixe seu comentário abaixo ou entre em contato: Instagram @luana_reis_m ou luanareism@gmail.com.

Leia também: “Sobre viajar e se entregar totalmente àquele momento”

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Luana Reis
Releituras da Vida

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.