A Impossibilidade Pessoal Através da Arte — um retrato.
Movimentos e o fundo do pensamento.
O ser que cria é aquele que apresenta realidades submersas formuladas no fundo do pensamento inconsciente dos desejos. Sua apresentação ao mundo surge de outra forma, como ponto parado e universal. Fato é que, para nós, seres maquinais, podemos observar a mesma criação, sob olhares diversos em todas as vezes e em diferentes percursos de experiência. Nossa percepção muda, nosso mundo exagera, explode e deságua em realidades diversas. Depositamos ali a nossa concretude anauréctica em relação aos outros exteriores de determinado espaço. Ele expande, cresce e submerge do fundo sem fundo do pensamento, a alusão à realidade dispendida de nocautes — ela é o todo.
A obra de arte é o todo presente e necessário — estimulado por meios de mortes e transformações de todo um sistema. A pintura, por exemplo, por si só já basta. É completa e, ao mesmo tempo, vazia de complexidade. Porém, a maneira como ela é vista ao mundo, para o mundo, com o mundo, é que causa toda a estranheza e visões distópicas ou utópicas a respeito daquilo. Aquela máquina voraz, corrosiva, insana e capaz de provocar cataclismos cerebrais, tora por fazer, sempre, a sua própria visão necessária ao próprio ser que devem de suas máquinas interiores.
O esquizoide tente a proporcionar mergulhos mais fundos a fim de trazer à superfície essa ideia criativa, já que, de certo modo, aquele não está preso na pretensão do grande corpo sistemático imposto. Não há possibilidade total de retorno e de formalidade deste. O organismo que o indivíduo se concentra é, de todas as formas, aniquilador de realidades artísticas formadas — não há necessidade, senão para consumir.
DISPÊNDIO DA CRIAÇÃO e MOVIMENTOS DE QUEBRA — e criação
Após um grande acumulo de forças, pulsões, loucuras e explosões, o dispêndio se dá pelo excesso dessa energia, em forma de retorno. Quando este retorno é sanado, o processo de subjetivação do ser adquire um novo caráter. Não ligado a um conceito de autoaclamação, mas sim, de experiência. Como observado nos meus últimos textos, a experiência de corpo, como modo de ‘maquinar’ a vida, é que causa esse manuseio de rebeldia e anarquismo social — como gerado pelo CsO. Dalí surgem movimentos artísticos subversivos, criadores, moldadores de respostas, padrões sociais, letras, estéticas, que vira o corpo, o grande corpo, de forma arrematadora que, necessariamente, este, precisará se perceber novamente. Com o modo da bossa-nova aqui no Brasil, era preciso outro tipo de neo organização que quebrasse o novo comum estabelecido. A massa foi crescendo, crescendo, com ideias aparecendo aqui, ali, movimentos, apocalipopótese, neoconcretismo, marginalidade, cor, guitarra elétrica… que causou na explosão enlutada e carnavalesca da Tropicália. Chegou após o maio de 68, na França. Inspirado em revoluções de um novo modo ver-artístico. A ditadura militar — o grande corpo dentro do grande-maior-corpo — precisou rever suas censuras e firmar, ainda mais, seu compromisso com o sistema de repressão. Aí chegou o AI-5, causando a perseguição a artistas, jornalistas e jovens. Era um novo modo que a grande máquina operaria a partir de então. Era necessário outro meio de passar por cima do que já havia sido dado. Semiótica, secretismo, mosaicos e linguagens. Já era a explosão de linguagem. A guitarra estava formada como propulsora do novo herói anti-herói brasileiro.
Como visto, era necessário mergulhar nas profundezas do poço do pensamento e trazer ao público uma nova visão, estilo e maneira de experimentar. Experimentar.
Experimentando o experimental.
O homem marginalizado, capaz de não chegar no grande público, é, de certo modo, o novo ser que não pode ser adaptado aos padrões tecnológicos. A tecnologia acrescenta a arte e a deixa ali parada. Com isso, invade as máquinas já estabelecidas no grande enxofre corrosivo de merda — o novo sistema monumental: pertencimento virtual.