Fluxos — o pátio dos esquizofrênicos
…das entranhas da cidade defeituosa.
O divã é a forma capitalista de manter o esquizo sob quatro paredes e reduzir sua fusão de realidade e experimentação em um triângulo dado como ‘’papai, mamãe e eu.’’ A tarefa da psicanálise de engendrar a máquina numa redução alienada de enredos, parece, por concluir, que o indivíduo não deve passar pelo processo de revolução. Aprisiona-se o esq. e o exclui da sociedade porque ele possui, em si, o domínio das máquinas desejantes.
Ao ponto de partida, o esquizo deve perambular pelos cantos da cidade, dos enredos, lacunas e, sobretudo, das áreas experimentáveis, de modo que, absorva suas paridades e toques num mundo único, de meio único. Tornar o mundo à sua volta como maneira de experienciar uma só causa e ato.
Aqui coloco o ato de caminhar, também, como meio artístico — arte essa que, determinadamente, cria e destrói planos inatingíveis em ponto ao movimento. Estar em movimento significa ocupar espaços e voltar-se à diferença. O eterno retorno, toque e fluxo constante. À medida que o corpo se movimenta por entre os becos sujos e caóticos de um urbano em construção, se adquire a forma de orgasmo único na sua diferença. Sai e entra como se fosse outro, por ventura, ainda mais adepto do que o anterior. É o corpo que aniquila.
O corpo que aniquila é, também, o corpo que cria outro corpo. O corpo criado arreganha o ânus e engole o corpo que o criou, e assim, forma-se a cadeia de corpos aniquilantes, da diferença, do jogo em processo esquizo; do ápice em contrassenso e contraponto. É difícil, por si, verificar estes conceitos de aniquilação — mas estão ali, arreganhando a carne por onde você pisa e compartilha os vínculos suicidas de seus vícios.
É o contrário do divã, onde o corpo que aniquila não cria espaço para outros corpos, e permanece ali, fechado com a mente na infância e em seus pais.
A noção de caminhar como meio de experimentação está ligado, também, ao processo de rebeldia: enquanto corpos se transformam em processos engessados de corpo-máquina-social-trabalho, os corpos em fluxo entram em acordo com o animalesco e excêntrico charme distintivo que os mantém criando outras realidades de continuidade.
— A continuidade é um tema forte, quando o sentido é o sentido do ser que, em ponto, sempre tenta alcançar. Mas aí é outra conversa que não cabe a esse tema.
O que se torna em parti-mão, é o momento de sua necessidade em fluir, de ser devir em puro movimento contínuo, de querer morrer em cada espaço que já ocupou. É nisso que acompanha o caminhar no chão — que torna duro o sentir da queda, dos pés, do passo e da fala, por entre um caminho quase que inalcançável de sua própria capacidade de mudar a própria cabeça de lugar.
Em frente à todas as casas de pó, os cães latem e anunciam, sem barreiras, a passagem de um ser delirante, rebelde, que segue em fluxo, sem rumo, por onde os movimentos eróticos da vida o fazem querer ser contínuo.