O Sangue, o suor, a merda, a urina, o esperma e a morte — acima do Instituto Médico Legal.

Luan Hornich
3 min readSep 13, 2024

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‘’Eu igualaria o amor (o indecente corpo-a-corpo) no ilimitado do ser — à náusea, ao sol, à morte’’ — Georges Bataille.

Tetsuo: The Iron Man, 1989. Shinya Tsukamoto.

Debaixo dos panos limpos e abotoados de nosso organismo social, existem as mais diversas contrapropostas ao que o caráter divino é de imposto. O suor atravessa o encharco em direção ao ânus e se derrete para além de uma corrida longa sob o sol — é maior do que isso. Buscar a morte é uma tarefa associada a todos, pois é ela que, de alguma forma, requer a nossa preparação; ela é violenta. Nos colocamos aí em posições de nudez mental e de orgasmo violento; realizando fetiches, decorando os corpos e transfigurando a nossa máquina corporal. A pequena morta dá-se em diversas maneiras e, envolvendo o corpo, acrescenta o que há de experimental e fatal, na medida do impossível. A carne é colocada de canto coloquial — ela é o desejo que desejemos. Alheio, canibal. Aqui se encontra o artefato único do ato carnal: comer. E isso envolve o sangue. Me lembra muito sobre os rituais de excedentes dos povos antigos; veja aqui como uma celebração de riqueza, de festa orgânica rodeada de saciação de prazeres, luxo e mulheres. O desejo de alimentação pode estar relacionado ao interior caótico do indivíduo. A vontade de colocar em si, todas as outras calamidades do outro homem-máquina. Quando, então, o corpo se coloca para fora, através do vômito, da urina, do esperma, do sangue, da merda ou do pus, é que se tem a relação única com a morte do corpo, com o acabamento do ser. Com o fim da singularidade. Passa a ser um mecanismo entrando nos freios, se aproximando do céu e do inferno. Se colocando em ato de resistência como todos os esquizofrênicos se colocam. Ali começa a junção do momento com a morte — no nojento, no delirante, no caos, no esgotamento, no limite, na busca por benção. Amar o rabo sujo é amar a tristeza em zona de caos que ela se encontra ao redor da carne. A carne como visão e como preenchimento de aproximação de Deus.

A EXCREÇÃO

Deixar os fluidos corporais saírem de seu corpo e se materializar na realidade como se fosse uma demonstração de fetiche é, por si só, um ato de confirmação de indivíduo operante. O ser à beira do último jogo; do último ato — aquele que lhe causará a pena de morte ou o suicídio partidário. Antes do suicídio, pode se haver preocupações de estética e estabelecimento. Encontrar um corpo em estado de putrefação em carne e sangue, pode ser deveras singular, pois, o suicídio também é arte.

Esta arte se encontra como o encerramento de um período artístico, de caos e excreção pelo corpo. O suicídio é aquele que supre as suas necessidades sem dar resposta à nada — seja pelo próprio ato de acabamento ou pelo ato de gozo a partir de visualizações trágicas alheias. Exemplo: Petit / masturba-se no caixão da própria mãe. Não há aqui um tom edipiano, mas de celebração corpórea em acabamento. Só existe o corpo acabado, parado, no ápice de conforto — assim como no sexo.

Durante o sexo, o parceiro entrega-se ao outro: ‘’Faça de mim o que quiser’’ e se deita com as pernas arreganhadas. De então, imita a posição de um cadáver: não se move, apenas dá pequenos espasmos súbitos revirando o olho a partir da penetração. Solta pequenos gemidos, mergulha-se num ar de morte.

Em finalização: o corpo sujo, podre e desanimado, ativa, em certo ponto, a aproximação, com o sexo, da morte — como ato de sensação e preparação erótica.

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