Prolapso noturno — sob a base do esquecimento

Luan Hornich
3 min readSep 18, 2024

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…o ânus se aproxima de Deus…

Cabeça, 1980–1992, coleção privada, pastel colorido e colagem, 100 x 70 cm — Francis Bacon

NOTURNO MITOLÓGICO

Sob aquele regime quase que mortal, estabelecemos a nossa base de confusão total. O noturno é o regime que esfaqueia todas as lições dadas perante o dia. A falta de controle regendo um corpo que, por forma, se eleva cada vez mais e menos ao decadente ato de não conseguir mais, por dizer, observar-se perante as outras organizações que, torna assim, o corpo um meio apenas para prolapso nervoso, acompanhado de um orgasmo complexo de sua futilidade na noite. Observam-se os olhos no espelho e ali, por um momento, entra em combustão espontânea de seu pensamento. Some, tudo some. O devir muda e é vomitado para o vaso na sua direita. Há sangue, há órgãos. Acompanhe:

Tentava dormir a vadia, num sono tranquilo — mas creio que nessas horas, o diabo se faz concreto — e não consegue, pois, a buzina dispara, o gato mia, o cachorro late e seu corpo começa a entrar em prolapso, expurgando todos os órgãos para fora, com um único desejo: querer se desmaterializar. O quarto se enche de sangue e lágrimas: uma noite não completa, deixa o ser, tonto, burro, anêmico. Parece: e agora as gargalhadas mentais se abstém e dão espaço ao circo espetacular da ciência. Querer morrer durante um ato propício é o ‘’suicídio que Deus quer’’ — digo: se for para manter este suicídio à beira do acontecimento real, que, ao menos, seja fora do horário que Deus quer.

PROLAPSO TESE I

Naquilo chega-se na medida: o aproveitamento máximo da angústia — ela é formosa, exagerada, linda, charmosa {digo sem aspas} — e coagula em lubro preto, em charco, urina, merda, medo; sem consequências, o humano torna o ápice da sua sofrência — humano sente.

A morte chega, cutuca e espera-se que o indivíduo a receba de braços abertos — mas teme. Teme surdo movimento de conforto — se pergunta: onde está a minha continuidade? É aí que o prolapso se faz por significado: na experiência de continuidade. Se extirpo meus órgãos para fora pelo meu ânus, é de necessidade simples, querer observar o mundo ao meu redor com o toque do sangue no chão, com o fígado fedendo a merda, com o coração abraçado em tripas e, por necessidade particular, rolando sala a baixo. O ânus chega latente, arde, treme e geme; anuncia a sua parte maldita de preenchimento entre excesso e dispêndio — não presenciando a carne se aproximando do reto.

A continuidade presente na aberração da cena é lógica e concreta: enquanto os órgãos ser desfazem em complexidade útil, o indivíduo se aproxima de Deus, da latente solidão, do monumento de merda que fede a vaso — e chama:

‘’Onde está a minha capacidade única de discernimento?’’

De agora em diante, Deus é físico! Após colocar seus órgãos para fora, ele se torna o ser neutro de progressão — é tudo um só. Deus! Ele é Deus! Unicamente perfeito pela imperfeição — conforme os outros animais.

A BASE NOTURNA II

Reage em forma de cachoeira: é a tragédia de sofrer de insônia. Agora digo a você que este texto, trata-se única e exclusivamente sobre a insônia. Entra em pareamento com a Base Noturna. Se os anseios de uma nação inteira é jogado para os trabalhadores tardios do coração, a que se deve, então, aos vagabundos e frutos de rebeldia social? R: A aproximação da morte, do CsO. Ele possui insônia e não trabalha — não possui necessidade de possuir insônia (mas ainda assim a tem) —, trata-se de um tratado de conclusão precipitada, a base é muito mais que um cálculo de somas exatas; possui a capacidade de morte, de morrer e entrar em esquecimento.

A noite é a chegada deste esquecimento tão puro, tão doce e sóbrio — ainda mais numa segunda-feira, onde os débeis estão descansando para acordar cedo e pegar as suas rotinas, que é, no entanto, digna de risos.

A prótese se alia com a conclusão de nascença: é o ponto-chave do indivíduo suicida: a falta de liberação lógica — que o mundo moderno, também, conclui a sua falta de existência.

Iso/para-lá/ou outra atitude. E…E…E…E…

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