SILVIO, O SINCERO. 1

L.S.C.
3 min readSep 22, 2023

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Em uma cidade chamada Cafundó do Judas, onde habitava todo tipo de gente, caminhava vagarosamente pela ladeira da praça um jovem simpático e bonito, mas um tanto tímido; Silviano Saldanha, mais conhecido como Silvio, um sujeito meio atrapalhado, porém sincero.

Silvio ia-se despreocupado com o tempo e com as obrigações, pensando em Cícera, uma garota do coral da igreja protestante local…

Cícera era uma moça esbelta, agraciada com cabelos pretos e olhos castanhos claros, detentora de uma cintura hipnotizante e uma pele avermelhada que herdara de seus ancestrais indígenas.

O jovem, sendo membro da mesma igreja, no culto pensava mais na moça do que na exposição…

Pastor Vicente, o responsável pela igreja, estava sentado no banco da praça, a ler de relance, pois observava o caminhar vagaroso de Silvio, que vinha em sua direção…

Passaram-se alguns instantes, e o pastor cismou. Fechou a Bíblia e olhou atentamente para Silvio…

Em um momento de descuido, deixou seus pensamentos escaparem da sua cabeça: “Meu Deus! Será que esse rapaz tá cagado? Não é possível um negócio desse!”.

Vicente era um homem direto, mas conservava um bom humor…

Ávido leitor da Bíblia e de algumas revistas de moda, todas as tardes sentava-se no banco da praça para ler serenamente.

O jovem aproximou-se do banco, e o pastor, colocando a mão sobre o livro, perguntou-lhe:

— Silvio, você tá bem? Que caminhar é esse?

— Sim... é que eu estou pensando numas coisas…

— O que seriam essas coisas?

— Bom… Vou dizer a verdade, pastor… Eu gosto da Cícera…

— Não me espanta! Acha que não lhe vejo olhando pra ela na igreja?

— É… — envergonhou-se.

— Não se encolha, não. Na minha mocidade, eu também olhava pra pastora…

— Oh… Que coisa… A sua esposa?

— Não… ela era uma jovem casada, mais ou menos da minha idade, e esposa do pastor da igreja…

— …

Longe da multidão de fiéis, Pastor Vicente adotava postura desinibida, porém sabia com quem o ser.

A fala do pastor provocou espanto em no jovem:

— Pensei que fosse a pastora, a sua esposa… — sabia que o pastor era viúvo. Essa mulher era bonita?…

— Era sim! Uma morena, filha de índios… Lembra um pouco a Cícera. Aliás, por que você não a pede logo em namoro?!

— É complicado... A Cícera gosta de umas coisas estranhas… Também usa maquiagens e roupas extravagantes… Além de tudo, bebe muito…

— Pois bebe? Não sabia disso…

— Sim… Às vezes, vejo as fotos dela no Orkut. Umas fotos com bebidas e em festas, com alguns versículos da Bíblia na descrição…

— Vou aprender a mexer nesse negócio!

— Eita…

— Mas, se você sabe de tudo isso, por que ainda gosta dela? Já que me parece ser um bom crente…

— Não sei explicar… mas confesso ficar triste quando vejo essas coisas… Esses dias atrás, vi algumas fotos dela com uns meninos em uma casa…

— Ah, sei… Mas não fique triste por não conseguir tirá-la dessas coisas…

— Não fico triste por isso, pastor…

— E fica triste por quê?

— Porque eu não estava lá na farra também…

Abruptamente, Silvio foi repreendido por Vicente, que abriu a Bíblia, proclamou os Dez Mandamentos e, lá mesmo em praça pública, tentou libertar o jovem dos supostos poderes demoníacos.

Sem sucesso, o pastor voltou para casa e o jovem seguiu o seu caminho.

Minutos depois, chegando na residência, Vicente fez suas obrigações domésticas de forma automática, pensando no encontro com Silvio…

De repente, o pastor teve uma idéia e procurou por uma velha lista telefônica…

Queria encontrar o número do telefone da antiga casa dos Siqueira, uma família importante da igreja Pavilhão de Deus.

Após encontrar o número, Vicente realizou cinco tentativas de ligação… Frustrou-se…

Porém, por insistência, tentou pela última vez e foi atendido:

(Na ligação)

— Alô?

— Alô! Aí é a casa da família Siqueira?

— É sim, posso ajudar?

— Pode sim… A Pastora Rita se encontra?…

Catedral de São Judas, sul de Cafundó do Judas.

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L.S.C.

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