Em uma cidade chamada Cafundó do Judas, onde habitava todo tipo de gente, caminhava vagarosamente pela ladeira da praça um jovem simpático e bonito, mas um tanto tímido; Silviano Saldanha, mais conhecido como Silvio, um sujeito meio atrapalhado, porém sincero.
Silvio ia-se despreocupado com o tempo e com as obrigações, pensando em Cícera, uma garota do coral da igreja protestante local…
Cícera era uma moça esbelta, agraciada com cabelos pretos e olhos castanhos claros, detentora de uma cintura hipnotizante e uma pele avermelhada que herdara de seus ancestrais indígenas.
O jovem, sendo membro da mesma igreja, no culto pensava mais na moça do que na exposição…
Pastor Vicente, o responsável pela igreja, estava sentado no banco da praça, a ler de relance, pois observava o caminhar vagaroso de Silvio, que vinha em sua direção…
Passaram-se alguns instantes, e o pastor cismou. Fechou a Bíblia e olhou atentamente para Silvio…
Em um momento de descuido, deixou seus pensamentos escaparem da sua cabeça: “Meu Deus! Será que esse rapaz tá cagado? Não é possível um negócio desse!”.
Vicente era um homem direto, mas conservava um bom humor…
Ávido leitor da Bíblia e de algumas revistas de moda, todas as tardes sentava-se no banco da praça para ler serenamente.
O jovem aproximou-se do banco, e o pastor, colocando a mão sobre o livro, perguntou-lhe:
— Silvio, você tá bem? Que caminhar é esse?
— Sim... é que eu estou pensando numas coisas…
— O que seriam essas coisas?
— Bom… Vou dizer a verdade, pastor… Eu gosto da Cícera…
— Não me espanta! Acha que não lhe vejo olhando pra ela na igreja?
— É… — envergonhou-se.
— Não se encolha, não. Na minha mocidade, eu também olhava pra pastora…
— Oh… Que coisa… A sua esposa?
— Não… ela era uma jovem casada, mais ou menos da minha idade, e esposa do pastor da igreja…
— …
Longe da multidão de fiéis, Pastor Vicente adotava postura desinibida, porém sabia com quem o ser.
A fala do pastor provocou espanto em no jovem:
— Pensei que fosse a pastora, a sua esposa… — sabia que o pastor era viúvo. Essa mulher era bonita?…
— Era sim! Uma morena, filha de índios… Lembra um pouco a Cícera. Aliás, por que você não a pede logo em namoro?!
— É complicado... A Cícera gosta de umas coisas estranhas… Também usa maquiagens e roupas extravagantes… Além de tudo, bebe muito…
— Pois bebe? Não sabia disso…
— Sim… Às vezes, vejo as fotos dela no Orkut. Umas fotos com bebidas e em festas, com alguns versículos da Bíblia na descrição…
— Vou aprender a mexer nesse negócio!
— Eita…
— Mas, se você sabe de tudo isso, por que ainda gosta dela? Já que me parece ser um bom crente…
— Não sei explicar… mas confesso ficar triste quando vejo essas coisas… Esses dias atrás, vi algumas fotos dela com uns meninos em uma casa…
— Ah, sei… Mas não fique triste por não conseguir tirá-la dessas coisas…
— Não fico triste por isso, pastor…
— E fica triste por quê?
— Porque eu não estava lá na farra também…
Abruptamente, Silvio foi repreendido por Vicente, que abriu a Bíblia, proclamou os Dez Mandamentos e, lá mesmo em praça pública, tentou libertar o jovem dos supostos poderes demoníacos.
Sem sucesso, o pastor voltou para casa e o jovem seguiu o seu caminho.
Minutos depois, chegando na residência, Vicente fez suas obrigações domésticas de forma automática, pensando no encontro com Silvio…
De repente, o pastor teve uma idéia e procurou por uma velha lista telefônica…
Queria encontrar o número do telefone da antiga casa dos Siqueira, uma família importante da igreja Pavilhão de Deus.
Após encontrar o número, Vicente realizou cinco tentativas de ligação… Frustrou-se…
Porém, por insistência, tentou pela última vez e foi atendido:
(Na ligação)
— Alô?
— Alô! Aí é a casa da família Siqueira?
— É sim, posso ajudar?
— Pode sim… A Pastora Rita se encontra?…