Almoço, Celular e Solidão

Lucas S. Silva
2 min readSep 19, 2019

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Almoço com os colegas de trabalho. Puxa a cadeira, senta e se ajeita. Brincadeiras, risos. Um colega reclama do chefe enquanto outros dois falam sobre o jogo de ontem. Oito pessoas na mesa, mas quem realmente está ali?

Cinco segundos. Tempo suficiente de silêncio para o primeiro colocar a mão no bolso e puxar o celular. Sem ninguém se dar conta, no momento seguinte todos estão com os celulares na mão. Uma olhada nas mensagens do Whatsapp. Abre o Facebook e rola a tela, sem necessariamente ler ou prestar atenção em nada. Instagram, Twitter, e-mail. Algum papo volta e aos poucos todos vão largando seus aparelhos. Boa parte já não volta para os bolsos das calças ou para a bolsa pendurada na cadeira, mas repousam suavemente em cima da mesa.

Quem realmente está ali?

Conversas, mas pouca troca de olhares, pouca conexão. Estamos dominados. O ciclo de silêncio e celulares se repete. Alguns ficam mais tempo, outros menos, mas não há exceção.

Para quê falar de assuntos complicados? Para quê olhar o outro e entender, conhecer. Para quê olhar para si próprio, se avaliar, deixar pensamentos, problemas e a imaginação rolarem soltos, se é tão mais fácil pegar o maldito aparelho e se perder?

Quem realmente está ali?

É uma solidão sem solidão. Contato sem contato. E no fim estamos sozinhos. Ou se você quiser se enganar, puxe seu celular, desbloqueie a tela e finja que está tudo bem. Curta algumas fotos, ria do vídeo de gatinho, procure alguém no Tinder, e se disfarce com uma foto sua em alguma praia, com algum efeito do Instagram e com um sorriso forçado.

Onde você realmente está?

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