O que aprendi quando tirei 0,7 em uma prova

Lucas Bernar
3 min readOct 31, 2016

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Eu já estou quase formado. Quase. Ainda faltam duas matérias que assombram meus sonhos. Contudo, mesmo fazendo apenas duas, bati um record: tirei a minha menor nota da história, 0,7. Isso me fez refletir sobre várias coisas que já se passam pela minha cabeça há algum tempo, e por isso resolvi escrever meu 1º texto no Medium. Aqui vai:

Grande parte das minhas aulas foram e ainda são como mostra essa figura. Essa foto é uma representação da sala de aula do século 18:

É basicamente assim: você senta numa carteira enfileirada, abre o caderno, olha pra frente, ouve o professor falar e escreve no caderno o que ele escrever na lousa. Quem vai dizer o que é importante pra você aprender é o professor. É ele que sabe. Você apenas presta atenção e copia.

Eu cheguei a um ponto na faculdade que não consigo prestar atenção em uma aula sequer. As minhas duas únicas aulas são as piores horas na semana. Não porquê não gosto de aprender; muito pelo contrário. Sabe aquela sensação de tortura, quando você está fazendo algo extremamente entediante e que não faz sentido nenhum pra você? É assim que eu me sinto em todas as minhas aulas. A aula é a hora que eu tenho que parar de fazer ou aprender o que eu gosto e que faz sentido pra mim, pra “aprender” o que alguém disse que eu tenho que aprender. Ela atrapalha meus estudos.

Sabe aquela sensação de quando você lê e relê uma matéria, mas não consegue absorver nada? É assim que eu me sentia estudando pra essa prova. Algumas pessoas me diziam que “ele gosta que escreve do jeito dele”, ou “que escreve as palavras chaves que ele usa na aula”. Ou seja, pra ir bem na prova, precisa escrever o que o professor julga importante.

Quando cheguei pra fazer a prova, percebi uma coisa: com acesso à um celular com internet, poderia facilmente tirar 9,0. Ou seja, com alguns clicks no Google, qualquer pessoa seria capaz de acertar pelo menos 90% da prova. Você poderia dizer: “Ah, mas aí você não iria aprender nada né?”. Aprender o que? A decorar matéria?

Eu, com certeza, tenho culpa nessa história. Se tivesse prestado atenção na aula, copiado a matéria, e estudado, teria tirado uma nota bem melhor. Mas será que é pra isso que a faculdade serve? Será mesmo que é esse tipo de metodologia, com esse modelo de prova, que o mundo precisa?

Com o avanço da tecnologia, principalmente a inteligência artificial, e a onipresença da internet, memorizar conteúdo se tornou irrelevante. Decorar informação não importa; o que importa é o que você faz com ela.

A universidade precisa parar de formar meros decoradores e vomitadores de conteúdo. É preciso parar de formar pessoas pra fazer prova. Em um mundo com problemas cada vez mais complexos e dinâmicos, precisamos de pessoas criativas, com capacidade de resolver problemas complexos. Pessoas que se adaptem a condições adversas, que tenham senso crítico, empatia, e que sabem se relacionar com os outros. O desenvolvimento dessas competências precisa deixar de ser função das atividades extra-curriculares, e passar a fazer parte do core de qualquer conteúdo programático.

Se você é professor universitário, e você insiste em fazer seus alunos decorarem sua matéria, será que não está na hora de você deixar o seu ego de lado, descer um degrau, e se atualizar? O mundo tá mudando rápido, meu caro, e você vai acabar ficando pra trás..

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