Jovem crise
Uma das melhores frases de Calvin, menino famoso das histórias e quadrinhos com seu tigre de pelúcia é esta: A felicidade não me basta! Exijo a euforia!
Pois é, Calvin.
A definição de geração Y, Z, beta, com suas rasas explicações a partir de tecnologia, falta de leitura impressa e redes sociais — entre outras coisas — gera uma inquietação insuportável em quem, às vezes, não quer justificativa para não ser da turminha do sorriso à toa.
Como muito se ouve por aí, os problemas do cotidiano dão margem a uma vida incerta, morna, lasciva, que foge do “degrau a degrau” e nos deixam totalmente refém dessa tristezinha crônica que tanto é o “mal da geração”. Não caia nessa.
Ao não cair, porém, lembre-se de que a questão não é evitar a felicidade, mas ter em mente (claro) que sua sobrecarga de anseios, angústias e enxurrada de pensamentos — muitas vezes desnecessários — são questões de auto entendimento, não de aceitar chicotadas alheias de quem teima em julgar - e não entender.
Se os melhores dias são aqueles em que não pensamos em nós mesmos, pela razão óbvia de que, bom, a convivência com o eu cansa por acontecer toda hora, é também um baita exercício de desapego largar mão de ouvir esse discurso chato de que você precisa, necessariamente, viver em sintonia com tudo e todos o tempo todo.
Sim, os vinte e poucos não são fáceis, como são duríssimos os trinta e poucos, os quarenta e poucos e todos os muitos poucos — que não são pouco pra quem pensa demais. Acordar com a gritaria de uma sala de reunião do Vale do Silício na cabeça não é bacana, nada disso. Ao menos que sua intimidade com o flagelo do exagero seja maravilhosa, é de se apostar que todo mundo aqui gostaria de uma santa dose de ignorância. Mas nem por isso a solução é olhar para um espelho de más intenções e pensar “nossa, o problema sou eu”. Os problemas são vários, os problemas existem e, eureca, dá para se viver do mesmo jeito.
Se vive do mesmo jeito, mas com euforia. Se a felicidade — objeto sim de desejo, poxa — vier muito às duras penas, talvez não seja a sua. Ou talvez o dia esteja chato demais pra tudo isso. Ser feliz deve ser exatamente isso aí, não sei. Cada um pensa — e é feliz — como pode.
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