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Lucas Borges
5 min readDec 14, 2018

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Em grande parte dos momentos da minha vida nesses dois últimos anos eu fiquei assim, surpreso positiva ou negativamente com as coisas ao meu redor

Sabe a mágica Apple? Ou melhor, sabe qual é a mágica Apple? (Acho que não seria eu se não terminasse a Academy contando alguma curiosidade sobre a empresa progenitora desse programa). Conta a lenda que nos longínquos anos 2000, quando Steve Jobs tinha recém retornado pra presidência da empresa e estava implementando sua visão de como o então Mac OS X e os produtos deviam ser, havia um grupo de pessoas desenvolvendo um programa chamado iDVD. A função dele, como dá pra imaginar pelo nome, seria criar DVDs de slideshow de fotos e vídeos caseiros, compilados de arquivos que pudessem ser vistos de maneiras legais (a lá Apple) tanto em leitores de DVD acoplados a TVs quanto em computadores.

Os engenheiros de software estavam animados pra mostrar pro Steve seus trabalhos e como o software executava funções complexas e podia ser usado de diferentes maneiras pra se fazer mil e uma coisas com DVDs. Quem estava presente na reunião conta que Steve, com seu jeito de ser, mal deixou os funcionários concluírem a apresentação, os interrompendo pra mostrar que o que ele tinha em mente e esperava que fosse criado por eles não fosse um compilado de telas cheio de next, next, next e várias opções que pudessem confundir o usuário doméstico que só queria colocar as fotos das férias num disco (como seria o app que eles teriam feito). O que ele queria era uma única tela que contivesse todas as funções do programa estruturadas de maneira simples e que embaixo de tudo tivesse um grande botão circular, que significaria 'Record'. Assim nasceu o iDVD:

O Fred se tivesse nesse time de designers iria odiar as soluções de ícones de difícil interpretação do programa.

O que eu quero sintetizar com essa história é que a mágica Apple é basicamente o ato de pegar coisas complicadas, chatas e difíceis de fazer e transformar em algo cool, simples e que qualquer um conseguiria dar conta. Quem já usou muito Nero Burner ao lado do iDVD ou compara o Excel com o Numbers sabe do que eu tô falando.

Eu sempre fui muito multifacetado. Nunca fui de gostar de uma coisa só, de querer uma coisa só ou de me imaginar fazendo a mesma coisa na vida toda. Isso sempre foi legal de colocar na descrição do Tinder ou de falar pras pessoas no final da minha adolescência porque me fazia parecer alguém interessante (ou pelo menos eu achava). Mas aí começou a vir a fase adulta e o que era uma característica que eu gostava em mim passou a ser um pesadelo. Eu já falei disso na reflexão sobre 2017, mas vale repetir: desde quando eu me vejo como adulto eu me sinto um pato, faço de tudo um pouco mas nada de uma maneira 100%.

Eu imaginava que ao final da Academy ter tido uma experiência Apple ia ter aplicado a mágica Apple na minha vida. Achava mesmo que eu ia entrar esse menino cheio de dúvidas sobre o que quero ser e fazer da minha vida e que como eu também ia ter quase concluído a faculdade ao final do programa ia poder responder em qual área da Arquitetura eu ia querer atuar, se eu ia querer ser arquiteto, se eu ia querer ser designer e em qual campo eu gostaria de trabalhar. Ou seja, achava que ia entrar com uma vida complicada, chata e difícil de fazer e depois da Academy olharia pra ela e veria uma coisa cool, simples e que qualquer um (mas mais especificamente eu) conseguiria dar conta.

Doce ilusão.

Após esses dois anos eu continuo com muitas dessas dúvidas, mas um fenômeno interessante aconteceu, um fenômeno que minha psicóloga me explicou que se chama percepção do espiral. Se imagine numa espiral, subindo. Você vai estar se movimentando, pra cima, mas tem a sensação de estar ainda no mesmo lugar. Acontece que não! Você está evoluindo, mas ainda não conseguiu resolver as questões que te colocam numa espiral, por isso você sente como se estivesse no mesmo lugar. Você está olhando elas, cansado de se mexer e parecer estar no mesmo lugar (que geograficamente você pode ate estar), mas está olhando pras questões de ângulos diferentes, está subindo e se percebendo por diferentes perspectivas!!!!!!! Isso é mágico e libertador, e eu acho que após esses dois anos, dá pra dizer que é isso que aconteceu comigo.

Vir pra Academy todas as noites, me relacionar com todas essas pessoas tão incríveis e diferentes de mim, ser desafiado, aprender novas técnicas e softwares, ouvir sims e nãos, ter feedbacks bons e outros nem tanto, tudo isso pode não ter me feito sair com a vida resolvida e um garoto que já se encontrou, mas me mudou e me evoluiu de uma maneira que eu jamais imaginei que seria possível, e me colocou num caminho.

Acho que no final das contas aconteceu a mágica Apple comigo, eu só tava focando na coisa errada. A mágica não é o resultado final. Como resultado do iDVD você tinha um DVD tanto quanto um gravado pelo Nero. O iPhone é um smartphone assim como vários e o MacBook é mais um laptop. O que é mágico é o processo, o ligar o Mac ouvir o TÃÃÃÃÃ e ver como funciona. O mágico da Academy foi dia a dia melhorar, por estar num ambiente de fato colaborativo em que pude errar e aprender sem medo, me expor ou ficar calado quando convinha, evoluir ou escolher parar um pouco e aproveitar a perspectiva de onde eu já tinha chego. O processo, esse meus amigos, foi mágico de verdade.

Sou grato a cada uma das pessoas que encontrei, grato pelas oportunidades que tive, pelos contatos criados e sei que se esse ciclo se encerra (ps pro fato de não parecer que ta se encerrando, pra mim segunda foi só mais um design crit e a gente vai continuar a se ver e a fazer mais) é so pra nos catapultar a alçar voos mais altos e nos orgulharmos de um dia termos sido nós lapidados de maneira tão única como esse processo todo fez, acredito que, com cada um de nós.

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