Foto por Leonardo Veras

Um fenômeno chamado League of Legends

Tudo o que rolou na final do CBLoL 2015 em São Paulo

Lucas Carvalho
5 min readJan 2, 2016

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As arquibancadas do Allianz Parque, estádio do Palmeiras na zona oeste de São Paulo, tremeram como em uma final de Campeonato Brasileiro no dia 8 de agosto de 2015. Mas não era futebol sendo jogado no gramado, e sim a última partida do torneio nacional de League of Legends — o popular game de combate e estratégia online que arrebanha mais de 60 milhões de jogadores no mundo todo. O time Pain Gaming venceu o INTZ por 3 a 0 em uma disputa com todos os ingredientes para uma dramática crônica esportiva.

O entorno do Allianz Parque estava repleto de torcedores, muitos uniformizados, gritando em apoio aos times finalistas do CBLoL (Campeonato Brasileiro de League of Legends). Longas filas, vendedores ambulantes, trânsito e barreiras policiais criavam um típico cenário de “dia de jogo” na região.

Lá dentro, porém, ficava claro que o evento era diferente. Cosplayers desfilavam e tiravam fotos com fãs, enquanto um painel exibia artes de jogadores de LoL e imagens oficiais da Riot Games, estúdio responsável pelo game. Estandes da empresa vendiam camisetas dos times, bótons e outros produtos licenciados com a marca do MOBA (multiplayer online battle arena) mais popular do mundo.

Os donos dos 12 mil ingressos, esgotados em menos de três horas no dia do início das vendas, enchiam as arquibancadas inferiores e superiores do lado leste do estádio. Fazendo muito barulho, os milhares de torcedores tinham três grandes telões de LED à disposição para acompanhar o jogo, que contou com os apresentadores Gustavo “LoLDuBR” Docil e Gustavo “gstv” Cima, além dos narradores celebridades Diego “Toboco” Pereira e Guilherme “Tixinha” Cheida.

O show de abertura aumentou o clima de espetáculo na arena paulista, com a apresentação da banda de heavy metal Pentakill, já conhecida entre os fãs de LoL. O grupo, formado por músicos que se vestem e atuam como personagens do MOBA, subiu ao palco com os vocalistas Jørn Lande e Karthus, em um detalhado cosplay do personagem de mesmo nome do game: longos cabelos brancos, pele azulada e o rosto esculpido como o de uma caveira.

Foto por Leonardo Veras

A banda formada pela Riot Games também trouxe as canções-­tema dos campeões Amumu, Draven e Gnar, acompanhados de clipes em animações exibidos nos telões da arena. Depois de todo o espetáculo — que terminou com uma dramática linha de lança­ chamas à frente do palco, literalmente aumentando a temperatura na arena — foi a vez de as duas equipes subirem ao palco para protagonizar o embate final do CBLoL 2015, no qual o melhor de cinco rodadas levaria para casa o cobiçado troféu.

Para quem está pouco familiarizado com jogos do gênero, o objetivo em LoL é, basicamente, destruir a base do time adversário. Cinco jogadores de cada lado escolhem seus personagens e partem pelo mapa, enfrentando dragões, destruindo torres e atacando uns aos outros. O primeiro time a destruir o Nexus, espécie de fonte de energia que dá vida aos campeões, vence a partida.
A pressão da torcida, em sua maioria favorável ao rubro­negro Pain Gaming, parece ter desestabilizado a boa equipe do INTZ. Mesmo após um período de treinos nos Estados Unidos, o time teve 16 abates no primeiro jogo, além de uma série de erros de estratégia, o que lhe fez perder muito espaço ao Pain, que conquistou a partida com facilidade.

Já na segunda rodada, a INTZ voltou mais atenta, o que proporcionou combates mais equilibrados ao longo dos primeiros 30 minutos, mas o nervosismo acabou arruinando uma excelente jogada, que quase levou o time à sua primeira vitória do dia. Aproveitando o erro adversário, a Pain finalizou o jogo em um contra­ataque rápido e agressivo, subindo o volume nas arquibancadas do Allianz Parque e abrindo 2 a 0 no placar geral.

Com destaque para a finalização de Matheus “Mylon” Baronti, a agilidade de Gabriel “Kami” Bohm e a experiência de Felipe “brTT” Gonçalves, o terceiro jogo sacramentou a superioridade da Pain Gaming sobre os adversários e consagrou o bicampeão brasileiro de League of Legends por 3 a 0. Gritos de “o campeão voltou” ecoavam do estádio, enquanto a emoção dos jogadores transperecia pelas imagens do telão para toda a torcida. Foi o segundo CBLoL vencido pelo time rubro­-negro, que também foi campeão em 2013.

Foto por Leonardo Veras

Após a premiação, a coletiva de imprensa novamente trazia à tona o clima futebolístico do evento, com jogadores tímidos oferecendo respostas genéricas e frases ensaiadas como “estamos muito felizes, agora é descansar e pensar no Mundial”.

Afinal, o time da Pain segue para o International Wildcard Invitational, pré­seleção de equipes de todo o mundo em busca de uma vaga no campeonato internacional de LoL, realizado no fim deste ano. O carioca Gabriel “MiT” Souza, treinador da equipe vencedora, resumiu o embate para mim em uma alusão a um dos maiores clássicos do futebol do Rio de Janeiro.

“Foi como um Flamengo contra Fluminense. A torcida da Pain é muito grande, e tem aquela rivalidade pelo time da INTZ ser mais novo… Mas é muito gostoso estar nesse jogo em um clima diferente, menos rival e mais técnico mesmo”, diz o treinador. O evento terminou sem grandes problemas de organização e com os fãs empolgados a caminho de casa, após um espetáculo digno de esportes mais tradicionais.

Pela web, foram mais de 200 mil espectadores simultâneos, sem contar as 24 salas de cinema espalhadas pelo Brasil que tiveram ingressos esgotados para a transmissão da grande final. Foi o recorde de audiência da Riot Games no país, que premiou os vencedores com um troféu e 60 mil reais. O evento prova que o cenário de esportes eletrônicos no Brasil ainda tem muito escopo para crescer e atrair cada vez mais público em terras brasileiras.

Reportagem publicada originalmente no site INFO.com em 10/08/2015.

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