Guia da Premier League 2019/20

Lucas Filus
15 min readAug 9, 2019

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A espera foi longa, mas o melhor campeonato do mundo voltou. Não que esse ‘título’ importe alguma coisa, mas é impossível você encontrar em outro lugar um combo tão alto de qualidade + entretenimento + tática + emoção + organização.

O dinheiro percorre pelos cofres ingleses há algum tempo, mas passada uma época de aprendizado era hora de cravar a marca da Premier League no topo em todos os sentidos. Guardiola, Conte, Klopp, Mourinho, Pochettino, Benitez e mais alguns companheiros de alto escalão ajudaram a transformar um produto muito bom em excelente.

O resultado está nas finais europeias de 18/19 e a expectativa é de continuidade no processo iniciado em 1992. Tudo indica uma ótima temporada.

Farei um guia mesclando análise com um pouco de opinião e dividirei em duas partes. Hoje dez times e na próxima semana os outros dez. Esperei a janela fechar por questões de embasamento. Está por ordem alfabética, desfrutem e sintam-se a vontade para comentar lá no final!

Arsenal | briga por vaga na Champions League

Na primeira janela de Edu Gaspar como diretor de futebol, muitos motivos para o otimismo pintaram no Emirates. As transferências supervisionadas pelo brasileiro e conduzidas por Raul Sanllehi deram conta de preencher exatamente as necessidades do elenco e colocar nas mãos de Unai Emery as condições de dar um salto de desempenho.

Se o sistema encaixar, David Luiz é uma figura de autoridade na zaga e um upgrade enorme em relação à Mustafi. Mas sempre há a chance do defensor demonstrar suas fraquezas, ainda mais em um clube que tem problemas crônicos com zagueiros excêntricos. Por £8 milhões e enfraquecendo um adversário direto, acho uma aposta bem válida.

Tierney vai dar energia nova e gerar mais futebol pela esquerda, junto de Bellerin/Maitland-Niles levantando inclusive a possibilidade de um esquema com alas. O empréstimo de Ceballos garante um jogador único entre os meias, capaz de receber sob pressão, girar com agilidade e conduzir a bola pro ataque. Onde estará o ponto forte da equipe.

Em um possível trio Aubameyang — Lacazette — Pépé, vemos produtividade garantida e um encaixe super interessante. Apesar de suas artilharias na Ligue 1, em uma competição mais exigente como a Premier League o francês não se compara com os goleadores de fato — o próprio Auba, Kane, Aguero. Não é explosivo o suficiente para chegar em muitas bolas que outros conseguem, mas não trato como demérito.

Consegue moldar seu jogo para que continue contribuindo de outras formas, obviamente marcando — faz mais de 10 gols com facilidade, tem dificuldades pra passar dos 20 -, mas usando de sua mescla de inteligência / visão / criatividade / técnica para orquestrar lances ofensivos e ativar seus companheiros. E tem em Aubameyang e Pépé dois especialistas em explorar os espaços e receber em profundidade.

Ou seja, Lacazette pra segurar a bola e os outros dois para oferecer uma ameaça direta por trás das defesas. Em uma estrutura sólida, Xhaka e Torreira dão o suficiente em combatividade e volume de passes. O Arsenal conseguiu suprir carências importantes, se desfazer de peças desnecessárias e renovar o ânimo de sua torcida. Cabe a Unai fazer um trabalho minimamente respeitável com o que lhe foi cedido.

Aston Villa | briga contra o rebaixamento

É bonito ver instituições históricas voltando à elite e o Villa é um desses casos que geram interesse natural. Seu charmoso estádio dará as caras novamente, mas precisarão se esforçar para evitar que seja apenas um bate-volta na primeira divisão. Muitos reforços chegaram e Dean Smith terá opções na hora de decidir a escalação, mas não se descarta a falta de entrosamento e consciência tática.

O time tem um estilo bem ofensivo e em 18/19 conseguiu superar os adversários na medida do ‘você faz 2, eu faço 3’, levando 62 gols — um record pior que o de 10 equipes. Big Sam Allardyce já nos ensinou que o segredo para sobreviver com qualidade reduzida é segurar as pontas defensivamente e confiar em alvos produtivos no ataque.

Sistematicamente não devem sofrer tanto para criar um volume de chances, mas dependerão da adaptação do brasileiro Wesley e do egípcio Trezeguet. Somados registraram 26 gols e 19 assistências na última temporada, só que jogando na Bélgica e Turquia, respectivamente. McGinn e Grealish foram destaques na Championship e terão que demonstrar aptidão redobrada.

O primeiro fará sua estreia na PL e o segundo retorna após anos de amadurecimento e preparação para um salto. Vem jogando mais recuado e se responsabilizando pela condução do meio pro ataque, sendo o termômetro do conjunto. Carrega seus companheiros com a bola nos pés e psicologicamente também — é a alma do torcedor dentro de campo.

Atuações correspondentes com sua habilidade serão fundamentais pras pretensões do Villa, que sentirá falta de Tammy Abraham — 26 gols em 18/19 — e precisará de um cuidado maior com as transições defensivas. Heaton foi uma contratação acertada e Mings pode dar continuidade ao nível apresentado quando estava emprestado. A qualidade está ali, mas a responsabilidade está nas mãos de Dean Smith.

Bournemouth | meio de tabela

Os comandados de Eddie Howe representam um exemplo para times de baixo orçamento que sobem e tentam se estabilizar na Premier League. Muito por conta do próprio treinador, responsável por assumir o clube quando quase foi à falência — 2008 — e conduzi-lo da quarta para a primeira divisão.

Será o quinto ano seguido na elite e a expectativa é de, passo a passo, subir alguns degraus. Não dá pra falar de aproximação das vagas europeias, mas o papo de rebaixamento também pode ser descartado — em tese. É um conjunto entrosado, bem treinado e capaz de superar muitos adversários que podem até ter mais qualidade e dinheiro, mas menos poderio coletivo e garantia de produtividade.

O Bournemouth também despontou como um pretensioso por futebol vistoso e agressividade, mas conseguiu adaptar suas intenções conforme as circunstâncias, necessidades e características dos atletas. Ainda sofre algumas goleadas de vez em quando e tem vulnerabilidades exploradas pelos grandes, mas bate de frente com os menores e tem um quarteto eficiente no ataque.

Wilson, King, Fraser e Brooks combinaram para 71 gols+assistências em 18/19 e se complementam muito bem. King faz um pouco de tudo, é forte e sabe proteger a bola; Wilson tem instinto artilheiro e sua movimentação o faz ser convocado para a seleção da Inglaterra; Fraser é fisíco e direto e trabalha telepaticamente com o camisa 9; Brooks tem habilidade de sobra e já foi especulado no Manchester United.

Infelizmente o último se lesionou e ficará alguns meses de molho, mas há poder suficiente para os cherries continuarem em uma caminhada positiva. A defesa, que precisa melhorar, foi reforçada pelo promissor Lloyd Kelly (lateral esquerdo/zagueiro) e terá o qualificado Mepham adaptado após chegar em janeiro. Aké esteve no radar de alguns ‘predadores’ no mercado, mas ficou. É a referência da defesa.

Billing (ex-Huddersfield) foi um dos destaques da parte de baixo da tabela na temporada passada e se junta à Lerma em um meio-campo de respeito. O diferenciado Lewis Cook se recuperou após oito meses no departamento médico e ainda precisa de ritmo de jogo, mas gera esperança. Há incerteza na vaga de goleiro e o plantel só vai servir se nomes como Solanke e Ibe conseguirem produzir mais nos momentos de rodízio.

De qualquer forma, é mais um ano de evolução gradual. E quem correu o risco de ficar sem time pra torcer há uma década não vai reclamar.

Brighton | briga contra o rebaixamento

Chris Hughton se tornou um ícone local ao levar o Brighton pra Premier League contrariando as expectativas, mas os donos decidiram que era hora de mudar. Não viam uma evolução maior com o treinador e foram atrás de Graham Potter, inglês que fez seu nome no Ostersunds, da Suécia, utilizando métodos nada convencionais.

Fez um bom trabalho no Swansea em 18/19 e se vê no melhor campeonato do mundo como um ‘outsider’. Terá um desafio mais do que árduo. O empréstimo de Aaron Mooy no deadline day certamente acrescenta em criatividade e na bola parada — fator crucial para um time que marcou menos de um gol por jogo na última temporada.

Depende do heroico Glenn Murray, que com 35 anos é basicamente o único capaz de produzir com certa consistência. Terá 36 em setembro e isso indica que as contratações feitas há um ano — Alireza Jahanbakhsh e Jurgen Locadia — precisarão acordar. Trossard é uma aposta vinda do Genk — onde marcou 17 gols — e espera-se que consiga ser mais eficaz que o frustrante Izquierdo.

A ênfase de Potter no trabalho ofensivo deve clarear os horizontes nesse sentido, mas Dunk, Duffy e o goleiro Mat Ryan terão que se desdobrar novamente lá atrás. A expectativa é que se utilize o 3–5–2 e, com os alas mantendo uma responsabilidade defensiva, o resultado pode ser positivo. Webster e Clarke foram adquiridos e, assim como Dan Burn, têm capacidade pra dividir a responsabilidade com os dois zagueiros titulares citados acima. E o desempenho do setor deve ser a diferença entre sobrevivência ou rebaixamento.

Burnley | briga contra o rebaixamento

O Burnley vinha de uma histórica sétima colocação em 17/18 e caiu oito posições em 18/19, terminando em 15º. Tal fato acendeu o sinal amarelo pra um clube que aparentemente estava caminhando para a consolidação na Premier League, mas alguns asteriscos precisam ser colocados. O principal deles é a participação ‘incômoda’ na Europa League, um feito apreciado pela torcida, mas prejudicial no desempenho ao longo da campanha.

Foram três fases preliminares — caindo na última, pro Olympiacos — e seis jogos competitivos antes da temporada começar para o restante dos ingleses. O próprio Sean Dyche acredita que esse foi um motivo crucial nos índices mais baixos de intensidade e a energia se esgotando de uma forma que não estavam acostumados. A virada do ano trouxe a volta de Heaton como número 1, substituindo Hart, e emendando uma sequência de bons resultados.

Conseguiram se salvar e agora precisam mostrar que podem render mais. Assim como o caso do Bournemouth, a força dos clarets está no conjunto, o entrosamento e espírito implantado desde 2012 pelo seu comandante. O Turf Moor é um estádio pouco convidativo para quem joga de visitante e, com uma pré-temporada livre para preparação física, tática e psicológica, a performance deve ser superior.

Jay Rodriguez voltou à casa e, se não é mais aquele talento surpreendente do Southampton de Nigel Adkins/Pochettino, tem qualidade e experiência. Erik Pieters é o tipo de defensor burocrático e eficaz que Dyche adora e dá mais profundidade à defesa, enquanto a permanência de Tarkowski é uma vitória.

Drinkwater chegou de última hora e tem o perfil ideal para esse time físico, direto e de bolas longas. Joga de maneira disciplinada, abusando dos lançamentos para as pontas. Onde estará McNeil, uma das revelações na campanha passada e observado por Tottenham e Juventus. É um winger clássico de 19 anos, intenso e capaz de servir a consistente dupla Wood-Barnes.

Pope, totalmente recuperado de lesão, volta a ser o goleiro e parte importante de um sistema defensivo costumeiramente exemplar. A liderança de Heaton fará falta, mas o Burnley já demonstrou que é um clube mais do que apto a superar obstáculos e fazer o seu papel.

Chelsea | briga por vaga na Champions League

O experimento com Maurizio Sarri não foi dos melhores. É certo que um título de Europa League e a vaga na Champions League em meio a um ambiente relativamente tóxico não são feitos a serem menosprezados, mas o italiano foi escolhido para fazer mais. Teve dificuldade na implantação de um estilo adaptado para o futebol inglês, gerando descontentamento em alguns jogadores, torcida e sua saída para a Juventus.

Frank Lampard chegou após uma boa temporada no Derby County e, com o clube proibido de contratar, terá que fazer o possível com o elenco existente. E sem o diferencial dos blues desde 2012. Hazard finalmente se transferiu para o Real Madrid e deixa um buraco difícil de ser preenchido. Pulisic havia sido comprado em janeiro e começará os trabalhos agora, tentando demonstrar que vai além de uma promessa de relativa estagnação recente.

Seus sinais da pré-temporada foram bons, assim como os do coletivo. Espera-se um time muito menos previsível, mais intenso e digno do espírito e dedicação de seu treinador. O ex-meia e ídolo da agremiação não vai tolerar menos que a excelência nos treinamentos e o reflexo pode ser agradável. O Chelsea tem uma das melhores categorias de base do país e agora precisará usá-la, tendo como fator positivo a presença de Jody Morris, figura importante na academia de 2013 a 18 e auxiliar de Lampard.

Hudson-Odoi tem tudo para se tornar titular após sua ida para o Bayern ser descartada, mas antes precisará se recuperar de uma lesão importante. Loftus-Cheek também está no departamento médico e, posteriormente, pode ser um pupilo pessoal do técnico se considerarmos posição e estilo de jogo. Mount estava emprestado ao Derby e tem a confiança do staff, podendo ser um ‘10’ de qualidade no 4–2–3–1 que vem sendo desenhado.

Terá a competição de Barkley, outro talento que se envolvido nas condições certas pode florescer. É uma das minhas apostas pessoais pra temporada. Abraham, Batshuayi e Giroud oferecem diferentes perfis e repertórios para a posição de centroavante e é difícil cravar um titular. Willian e Pedro podem começar a campanha com minutos relevantes e, aos poucos, serem passados pra trás por nomes mais promissores.

Kovacic ficará em definitivo e, agora sem a responsabilidade de infiltrar a área, deve demonstrar a qualidade que fãs da Inter de Milão e Real Madrid apreciaram. Kanté em breve estará em condições de jogo e será crucial na agressividade que se pretende aplicar, trazendo questionamentos sobre a utilização de Jorginho. O brasileiro Emerson Palmieri tem tudo pra ganhar a vaga de Marcos Alonso e a zaga é um a incógnita.

David Luiz forçou saída ao Arsenal e Rudiger é o único titular absoluto. Zouma teve ótimo desempenho no Everton — tanto é que queriam comprá-lo — e pode de uma vez por todas desabrochar no Stamford Bridge, mas Christensen e Tomori estarão batendo na porta por suas respectivas oportunidades. Ainda deve ser pouco para top 4, mas imagina-se um Chelsea mais ‘vivo’ e animador sob o comando de Lampard.

Crystal Palace | briga contra o rebaixamento

A permanência de Zaha foi comemorada por todos no Selhurst Park. Menos pelo jogador, que frustrado com recusas em propostas de Arsenal e Everton havia entregado à diretoria um pedido de transferência. Ele ainda pode sair para o exterior, mas é improvável. E o cenário sem o marfinense geraria algumas preocupações.

Roy Hodgson busca equilíbrio e tem capacidade para a missão, mas continuará com um elenco escasso. A defesa perdeu sua jovem estrela em Wan-Bissaka, Meyer ainda não deu a criatividade necessária no meio-campo e o ataque produz pouco — tirando os milagres conduzidos por Zaha. Benteke, aquele que um dia foi considerado um dos melhores da Premier League, tem dois gols em duas temporadas.

Gary Cahill vai trazer experiência e liderança pra zaga, podendo render em uma linha mais baixa e melhor protegido. Van Aanholt continua sendo um dos laterais mais perigosos da liga. Camarasa foi o destaque do Cardiff em 18/19 e chega para acrescentar bastante próximo do capitão Milivojevic, que novamente vai atrás de alguns pênaltis para cavar valiosos pontos.

James McCarthy também reforça o setor e tentará recuperar um nível que não demonstra há pelo menos três anos, mas no geral falta qualidade e quantidade. O comando está nas mãos de um dos treinadores mais sábios do país e os eagles devem fazer o suficiente para permanecer, mas não podem depender tanto de Zaha (que pode ter uma atitude diferente daqui em diante) e precisam melhorar o desempenho no Selhurst Park.

Everton | briga por vaga na Europa League

Farhad Moshiri, dono do clube, não está disposto a brincar em serviço. Recentemente os planos para construção de um novo estádio — orçado em £500 milhões — foram divulgados e o investimento também é forte na montagem do elenco. Marco Silva sai dessa janela bem reforçado e com condições para entrar de intruso no top 6 ou ao menos chegar próximo disso.

Moise Kean, contratado junto à Juventus, é uma peça empolgante e capaz de render ao clube muitas alegrias e posteriormente um retorno financeiro considerável. Os £30 milhões desembolsados pelo garoto de 19 anos sairão barato se ele conseguir aplicar suas características — velocidade, força, movimentação, finalização — no campeonato inglês.

O italiano pode jogar no comando do ataque ou nas pontas, indicando uma possível rotação bem fluída com Richarlison, por exemplo. Que, por sua vez, já é um dos mais perigosos da liga e terá companheiros melhores para continuar seu desenvolvimento. Iwobi chegou do Arsenal no deadline day e fará algo que esses atacantes não costumam se preocupar: receber entre as linhas, reter a posse e gerenciar os ataques com passes inteligentes.

Sigurdsson segue como a força criativa do time e sua garantia de produtividade já é conhecida. Andre Gomes foi adquirido em definitivo e é importante na progressão da bola entre os setores. Delph pode fazer um papel semelhante nos rodízios do XI inicial. Digne foi excelente em 18/19 e Coleman pode elevar seu nível com a chegada de um concorrente em Sidibé, categorizando os toffees como uma das equipes mais promissoras ofensivamente falando.

Ainda tem o confiável Calvert-Lewin com um perfil diferente de Kean e Bernard prometendo transformar a habilidade em eficiência. No aspecto defensivo, porém, surgem problemas. A primeira metade da temporada passada foi negativa pelas vulnerabilidades sem a bola e dois pontos fortes da equipe se foram. A presença aérea de Zouma e a agressividade dominante de Gueye no meio-campo farão falta.

Gbamin, ex-Mainz, e Mina, ex-Palmeiras e Barcelona, terão que dar conta do recado. São downgrades visíveis na escalação e Marco Silva terá que se basear na segunda parte de 18/19. Organizar a equipe de forma que não fique tão exposta aos contra-ataques, deixando mais jogadores atrás da bola e oferecendo maior proteção para a meta de Pickford. Encaixando esses fatores pontuais, o horizonte é animador.

Leicester | briga por vaga na Europa League

O Leicester pode cavar algo surpreendente de novo nessa temporada. Nada como o milagroso título de 15/16, claro, mas se alguns pontos relativamente preocupantes forem estruturados de forma consciente o ano tem potencial pra ser bem proveitoso. Agora desde o início, Brendan Rodgers terá que mostrar que evoluiu e tem capacidade de montar um time competitivo.

Qualidade não falta. Chilwell e Ricardo Pereira formam uma das melhores duplas de laterais do país, Ndidi-Tielemans-Maddison é um trio extremamente balanceado e apto a superar quase qualquer adversário e Vardy pareceu renovado com a chegada do treinador em fevereiro. E terá um novo parceiro no ataque, Ayoze Perez.

O espanhol conseguiu ser produtivo em um limitado — mas bem treinado — Newcastle e deve crescer com companheiros melhores e condições criativas superiores. Pode fazer uma dupla com o artilheiro inglês ou ocupar a escassa ponta direita, infiltrando e causando uma preocupação redobrada às defesas.

Há indícios de que Albrighton pode ser utilizado na esquerda e, por mais que não seja um jogador sensacional, sua dedicação com e sem a bola e o domínio do cruzamento podem ser de grande valia. Harvey Barnes (ponta) e Hamza Choudhury (meia) são opções animadoras e devem atingir novas fases de desenvolvimento em 19/20. Observaremos como será a adaptação de Praet em uma liga mais física.

Fica um buraco deixado por Maguire, cuja cifra de £80 milhões trouxe contestações, mas o altíssimo nível do zagueiro não se nega. Era importante no comando da área, na saída de bola e na liderança do elenco. Tarkowski e Dunk foram namorados no mercado, mas a janela fechou e a reposição virá de dentro. Söyüncü foi contratado junto ao Freiburg em 2018 e já deu bons sinais, mas precisará se consolidar ao lado de Evans.

E o sistema precisa ser bem pensado. Rodgers não pode povoar o setor de ataque com muitas peças e esquecer que existem oponentes prontos para contragolpear e tirar proveito de sua defesa enfraquecida. Aplicando essa necessária dose de cautela e seguindo a construção de um jogo ofensivo excelente, o King Power Stadium pode viver mais uma temporada marcante.

Liverpool | briga por título

É difícil encontrar pontos criticáveis do Liverpool desde que Jurgen Klopp assumiu. O alemão construiu um dos melhores times do mundo em diversos aspectos e o departamento de análise/scouting do clube faz um trabalho bem sólido. Por outro lado, precisamos ver o quanto a decisão de não agir no mercado vai pesar no desempenho em 19/20.

De certa forma os reforços aparecem se considerarmos o retorno e a adaptação de alguns jogadores. Oxlade-Chamberlain é feito para jogar nesse esquema intenso e direto e dá uma nova dimensão ao meio-campo. Dá combate, conduz, finaliza de fora e dentro da área e é letal nas transições, dotado de um físico avantajado. Característica que o fazem muito valioso na Premier League e um coringa para confrontos de Champions.

Lallana também tem qualidades bem recebidas e, se mantendo longe do departamento médico, deve contribuir. É um terceiro homem de meio que consegue reter a bola em posições avançadas, receber entre as linhas, envolver os companheiros nas jogadas e se movimentar com inteligência. Espera-se que Keita, com um ano de aprendizado, consiga replicar o que fez na Bundesliga e definir um perfil dentro do quebra-cabeça dos reds.

Seu talento é indiscutível e ao que tudo indica está mais confiante em seu desempenho. A falta de contratações pode sinalizar que a comissão técnica também confia e podemos estar falando de um diferencial. Para o bem do conjunto e a execução das táticas de Klopp, Wijnaldum deve continuar com sua extrema eficiência em todas as fases do jogo. Fabinho já está se consolidando como world-class.

A defesa tem os intocáveis Alisson, Arnold, Van Dijk e Robertson e agora recebe o recuperado Joe Gomez. O inglês deve aos poucos se tornar a opção preferida na zaga e pode se firmar, mas Matip surpreendeu na campanha passada e certamente terá suas aparições. O ataque é, de fato, espetacular. Mane, Firmino e Salah já trabalham telepaticamente e são fundamentais para qualquer pretensão da equipe.

O problema pode surgir em caso de alguma lesão. Shaqiri e Origi não são backups empolgantes — apesar do que o belga fez na Champions League — e a esperança parece estar nos pés de Rhian Brewster. O atacante é um dos melhores prospectos do mundo e tem plenas condições de ajudar, mas não deixa de ser um garoto de 19 anos. A ver.

E torcer pra que os titulares permaneçam intactos. Difícil, levando em conta que os três estiveram em torneios com suas Seleções durante a offseason. Acredito que a contratação de pelo menos um reserva produtivo era necessária; Klopp provavelmente pensou assim também, mas foi negado pela direção. De qualquer forma, é o time a ser batido da Europa e com margem pra evolução.

Voltem na semana que vem pra parte 2!

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Lucas Filus

Apaixonado por futebol, principalmente o inglês. Ex-blogueiro do Manchester United no ESPN FC. Colaborador do Footure e do PL Brasil. No Twitter, @filuslucas.