Valor alto, retorno imediato: compreendendo a contratação de Maguire

Lucas Filus
3 min readAug 5, 2019

--

É compreensível se impressionar — e contestar — os £80 milhões pagos por Harry Maguire. As cifras são grandes por si só, ainda mais se tratando de um zagueiro do Leicester. Você pode apontar opções interessantes também, algumas por preços menores. Não tiro essa visão de quem a tem, pra deixar claro. Mas não é como se fosse uma aposta arriscada da diretoria.

Ruben Dias (Benfica) e Issa Diop (West Ham), por exemplo, poderiam sair por £50 milhões e a médio/longo prazo se provarem como um acertos, mas quem garante? Alderweireld e Umtiti têm qualidade inegável, mas vale confiar em mais algum injury prone depois do histórico de Bailly? Varane era utopia, De Ligt não queria vir e Koulibaly só seria vendido por algo em torno de £110 milhões.

E nenhum deles carrega o combo desempenho + liderança + idade boa (26) + adaptação. Isso representa a quantia extra desembolsada pelo United para ter um jogador que imediatamente será o comandante da linha de defesa. São três anos de Premier League, se dá bem com a cultura do país e do futebol inglês e é um dos melhores da posição há várias temporadas. Não podemos encher o plantel de promessas, precisamos de algumas contratações prontas.

Maguire tem um ótimo perfil para complementar Lindelof e dará outra cara ao nosso setor de contenção. Enquanto o sueco tem mais mobilidade e consegue acompanhar os oponentes até completar uma ação, o novo reforço usará os prós e contras do seu corpo para passar segurança e agir quando a distância e o timing permitirem.

Com 1,94m e quase 100kg, tem dificuldades para movimentar rapidamente o tronco e não é veloz. É melhor quando não se apressa para tomar uma decisão e deixa sua leitura do jogo prevalecer. Aí entra o aspecto positivo de ser tão ‘grande’: gera uma imposição física implacável e dificilmente perde alguma disputa. É ótimo no desarmes e nas interceptações.

Previsivelmente, é soberano pelo alto e na última edição da liga ninguém teve mais sucesso nos duelos aéreos (67%) do que ele. Com 76% de precisão, ficou atrás apenas de Van Dijk (79%) e Morgan (77%) nos duelos defensivos no geral. É uma arma perigosíssima na bola parada, área que o United precisa melhorar. Lembram de como o staff de Southgate explorou essa habilidade na Copa do Mundo?

*Falando em staff, vale ressaltar que Mike Phelan (auxiliar de Solskjaer) foi quem lançou Maguire como titular do Hull City, em 2016/17.

Sua influência ofensiva não se limita à cabeça, demonstrando também uma tendência em conduzir a bola conforme os espaços aparecem. Tem bom passe — o interesse de Pep Guardiola fala por si — e gosta de lançar em profundidade, fator que bate com nossa estratégia de acionar atacantes rápidos no ponto futuro. Rashford, Martial e James ganham outro garçom em potencial.

Ampliando a visão, Harry tem características de liderança que são de enorme valia para qualquer equipe. É só pensar no impacto de Van Dijk na defesa do Liverpool no grupo de defensores do Liverpool, elevando o nível de todos que jogam ao seu lado. Autoridade e concentração no miolo da zaga são elemento difíceis de encontrar e capazes de oferecer um diferencial.

Agora temos uma defesa de bastante respeito e tranquilamente capacitada para cumprir as missões designadas por Solskjaer. Wan-Bissaka e Shaw são destacáveis pela marcação e vão compensar a falta de recomposição (proposital) dos atacantes/pontas, que focam nos contragolpes. Maguire complementa Lindelof e tem um dom vocal de coordenar a postura do time. De Gea é De Gea.

Considerando que até três meses atrás tínhamos Young, Lindelof, Smalling e Shaw, é um avanço gigantesco. Deixem o dinheiro de lado, temos um reforço que preenche uma lacuna crônica e faz o Manchester United crescer.

--

--