Oi, meu nome é Lucas e eu sou um “viciado”
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O título é apenas uma alusão a clássica frase do “Hi, my name is X and I’m an addicted”. Estive pensando em fazer esse post há muito tempo, mas vem o medo de falar sobre coisas que me machucam, me expor demais, prejudicar minha carreira, mas enfim, precisava botar pra fora. Eu não vou comentar sobre muita coisa que vivi e pessoas que estiveram nesses momentos ruins da minha vida, perdoei elas e melhor deixar as coisas onde estão.
Minha motivação para este post foi como o Walter Casagrande está lidando com as piadinhas quanto ao passado dele. Não é engraçado zoar as pessoas pelos vícios que enfrentou, pela abstinência que passa, pelo passado, etc. Isso dói, machuca, faz mal, e pode fazer até com que uma pessoa volte aos vícios.
Tive uma infância super rígida, mas mesmo assim, comecei a beber só aos 18 anos. Aos 19 anos comecei a fumar cigarro e tentava parar diversas vezes e nunca conseguia. Até que aos 20 anos comecei a experimentar outras coisas, mas tudo, controlado. Essas coisas não atrapalhavam meu trabalho, meus estudos, apenas alguns reais do meu salário.
Aos 22 anos comecei a passar por algumas experiências ruins em diversas coisas na minha vida, e aos poucos comecei a fumar e beber mais um pouco a cada dia, cada dia mais gastos com isto, até que as coisas começaram a sair do controle. Comecei a descontar a raiva das coisas ruins em tudo isso e não me dava conta em que eu era um viciado. Aos poucos fui fazendo amizade e me relacionando com pessoas em que tinham também vícios, frequentar lugares em que me ajudavam a alimentar tudo isto, e nem percebi que me afastava de todas as outras pessoas.
E então, comecei a passar dos limites, aliás, qual é o limite? Eu pouco me importava com isto, e cheguei ao ponto de passar mal algumas vezes. Eu até hoje não sei o que é pior, ser zoado pelas pessoas que estavam comigo de “fraco” e de que “não sei usar as coisas direito” ou levar sermão das pessoas que não estavam próximas de mim. Escondi de várias pessoas que eu amava para não perde-las, mas não adiantou muito. E cada vez mais, perdendo coisas, tempo, dinheiro, pessoas, vontade de viver, a cada dia eu perdia um pouquinho do gosto da vida.
Lembro bem no momento em que me vi desempregado, cheio de contas para pagar, solteiro, sem amigos, sem família, sem nada, apenas o julgamento das pessoas. E que escolha eu tinha? Nenhuma. Então comecei a pensar em todas essas “merdas” em que as pessoas fazem quando não há uma saída. Até o momento em que minha mãe me ligou, e disse para eu voltar a morar com ela e meu pai. Eu aceitei, pois não queria ver meus pais tristes.
Aos poucos comecei a tentar mudar as coisas, não por mim, mas pelas pessoas que se importam comigo. Resolvi parar com tudo, de uma vez. Na teoria isso é lindo, mas na prática não. A abstinência tomava conta de mim cada vez mas, e minha vontade era sumir do mapa e voltar a fazer todas as coisas que me faziam mal. Conversei sobre isso com minha irmã, e ela me indicou o CAPES. Quando cheguei no CAPES pensei “um monte de cara tudo acabado, e eu quase formado, sou novo, eu trabalho. O que estou fazendo aqui???” Mas eu não era melhor que eles, e ainda não sou. Com o passar do tempo, fui começando a me sentir melhor, aprendi bastante com a experiência das outras pessoas, até que o remédio que eu tomava começou a prejudicar meu trabalho e eu não conseguia tempo de ir para a terapia quase todo dia. Após alguns meses, resolvi parar com a terapia, mas já que eu tinha progredido e conversaram com minha mãe, respeitaram o meu momento. Poucas pessoas sabem que fiz tratamento, pois tinha e tenho medo de ser julgado.
1 ano se passou após o fim do tratamento, passei por cada experiência maluca e aprendi muitas coisas. É um saco em quase toda festa ter que explicar o motivo de eu não beber e aguentar pessoas me forçando a beber (e eu já fui esse tipo de babaca no passado, infelizmente). Aprendi a me divertir, ser feliz e me comunicar mesmo sem ingerir uma gota de cerveja. Eu estou bem com isso, mas como as pessoas interagem comigo, às vezes tem sido prejudicial. Já perdi a conta de quantas vezes apareceu alguém que soltou comentários em que me fez me sentir mal, e acabei indo pra casa. Hoje penso duas vezes antes de ir para um lugar com bebida.
Não é nada fácil também viver em um bairro perigoso, com tráfico pra todo lado, pessoas usando droga na rua, e essas cenas, o cheiro, o ambiente me fazem mal. Não é fácil ir embora do trabalho pra casa e ver os barzinhos cheios de gente de social bebendo todo santo dia. Não é fácil ao conhecer uma pessoa ter que explicar minha história, dá um medo de te julgarem pelas coisas que você viveu.
Eu estou feliz com minha vida, conquistei diversas coisas pois tomei o controle da minha vida, mas por outro lado, fico triste. Triste com o tanto de contato que perco com as pessoas por isso. Infelizmente nossa sociedade gira em torno da mesa de bar, álcool, copo na mão, etc. Eu tenho certeza absoluta (com base em dados, não achismo) que eu teria um relacionamento melhor com as pessoas do trabalho, eventos, etc se eu estivesse bebendo hoje em dia. Isso é triste pois eu estou sendo eu mesmo.
Hoje tenho muito controle da minha vida, mas ainda assim, bate a abstinência às vezes. Quando estou mal, dá sim uma vontade imensa de beber, mas aí penso nas coisas que conquistei e tenho uma motivação para continuar seguindo forte. E também preciso enfrentar meus “demônios” todos os dias. Antes, eu quando estava passando por problemas, enchia a cara e deixava a bola de neve crescer. Hoje, fico pensando numa solução e crio coragem para resolver. Querendo ou não, vou ter que lidar com essas coisas, essas vontades, pelo resto da minha vida, e isso é o motivo do título.
E quanto às pessoas que dizem “parabéns” para alguém quando vence uma batalha contra o vício, isso é legal, mas por favor, tentem não serem hipócritas. Vejo isso muito no mundo da música, onde artistas fazem letras sobre drogas e bebidas, há ambientes que não ajudam pessoas que são straight edge, há pessoas que forçam a barra, que excluem, etc. E muitas vezes, essas mesmas pessoas ficam triste quando um artista sai de uma banda, para ter uma qualidade de vida melhor, longe dos vícios, assim como muita gente não propôs um ambiente saudável para mim e depois vem bater no meu ombro e me chamar de “guerreiro”.
Precisamos sim falar disto, apoiar as pessoas, criar ambientes saudáveis, deixar as pessoas confortáveis para criar laços mesmo que elas não queiram beber, fumar, etc. Eu nunca imaginei ter que passar por tudo isso, aliás, eu não precisava. Eu jamais imaginei que estaria onde estou hoje no momento em que tinha mais nada, nenhuma motivação pra viver. Eu hoje só quero que ninguém passe por isso e estender a mão a quem precisar de ajuda.
Sempre falamos de coisas boas que acontecem com a gente, nossos cases de sucesso, conquistas, experiências legais, viagens, etc, mas em nós e em outras pessoas, há histórias ruins antigas e atuais, que quando compartilhadas, podem mudar a vida de várias pessoas. Então, eu vou começar a fazer isso, e recomendo a você também. Compartilhe as coisas ruins também.