Por Trás da Poesia— #01 Futebol
Em Declínio & Esplendor da Bicicleta utilizo bastante figuras futebolísticas e não tinha como ser diferente, era minha principal atividade com meu pai até meus 13 anos, jogar futebol no gol imaginário da garagem ou em qualquer parede até mesmo da sala quando ele cabeceava do sofá e eu em cima do colchão fazia pontes para defender.
“A cada gol do São Paulo ele beija minha cabeça e diz Obrigado por ser Tricolor”.
No poema Perda utilizo destas memórias, no jogo do centésimo gol do Rogério estávamos sentados na cama, e quando o Fernandinho sofreu a falta do volante Ralf após driblar o Chicão na intermediária eu e meu pai nos aproximamos da tv, fizemos figa até a bola dormir nas redes, como de costume a cada gol do São Paulo ele beija minha cabeça e diz “Obrigado por ser Tricolor”.
Outro grande entretenimento nosso era jogar Super Star Soccer, jogo de futebol do Super Nintendo Snes, boa parte da carreira meu pai trabalhou na escala “12x36”, lembro de uma semana aos 10 anos de idade, em que faltei três dias na escola só pra gente jogar e tentar descobrir o código que faz aparecer a equipe Super Star Soccer onde as estrelas das melhores seleções do jogo estavam em um mesmo time (nunca descobrimos), ás vezes quando ligava o videogame já aparecia, mas muitas vezes não. Quando criança não tinha muito habilidade e nem tanto de noção tática pra vencer a partida das vezes que ainda jogamos atualmente deixo ele vencer pra manter esse tabu.
O campeonato era o nome do período que a gente jogava, geralmente tarde ou noite, título que vinha quando o jogador alcançava três vitórias diante do adversário, após ser campeão ele dizia que os jogadores do game estavam conversando na padaria, espécie resenha depois da partida, essa foi uma das melhores imagens que ele criava em minha cabeça, como ele gostava de jogar com a Itália, utilizei da figura do jogador principal da esquadra azurra Galfano dentro do poema, me apropriando desta imagem que remete a esse momento saudável que ele propiciava pra nós.
Perda
A arte de perder não é nenhum mistério
Estou cheio do vazio ocupando o fraterno
Falo sobre acordar às nove
pensando ser doze
por inocente engano
de quem quer te ver de pé.
Seus gritos para reduzir tempo no banho
Me fazia dono de toda água do mundo
Após amistoso no super star soccer
Galfano descansava na padaria
Fizemos figa antes do centésimo do Rogério
Você agradecia por eu ser tricolor
A arte de perder não é nenhum mistério
Mistério é a hora da perda
não me dou bem com enigmas.
Declínio & Esplendor da Bicicleta título do segundo livro do poeta Lucas Lins, faz alusão à Esplendor e Declínio da Rapadura de Carlos Drummond de Andrade, Lins inverteu e acrescentou “bicicleta” como figura de linguagem, veículo que remete ao seu pai, ponto central do enredo.O poeta tem uma relação muito próxima ao pai, explicitamente escrita nos poemas Perda“Fizemos figa antes do centésimo do Rogério/ Você agradecia por eu ser Tricolor. E.Equilíbrio “A bicicleta azul que você me guiava/ a cada pedalada/ um sorriso.O declínio ocorre nesse momento: desemprego, hiato de escrita, conflitos religiosos a crescido à ausência do pai, o fez conhecer o abismo, lidar com as angústias foi como aprender a caminhar. Em busca de algum alicerce, participou da oficina de poesia de Victor Rodrigues (Praga de Poeta), a experiência fez pulsar no peito novamente o desejo artístico, a força necessária para superar momentos de dor com junção de palavras.Surge o esplendor: Lins traz à tona seu lado poético, agarra conselho de mãe, a força de sua companheira. Até a chegada de Natal, as duas fases se cruzam, causando o tom melancólico encerrando de forma surpreendente o enredo.
Mais informações e vendas por: lucas.barreto.lins1@gmail.com