Putz, meu! Dormi na sua palestra — Parte 01

O processo criativo por trás de uma apresentação foda

Lucas Lo Ami

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Todo mundo já viu uma palestra muito chata ou já sentiu que os slides do seu professor eram como sonífero. Todo mundo já esteve no outro lado dessa moeda: fazendo uma apresentação para uma plateia que claramente não entende o que você fala ou está mexendo no celular.

Por outro lado, você consegue lembrar de algumas apresentações iradas que presenciou em algum evento ou mesmo assistiu no Youtube. Elas ficam um bom tempo reverberando na cabeça, não é? Quem nunca se sentiu inspirado ao ver uma apresentação do Simon Sinek? Ou ficou surpreso com a qualidade dos slides da empresa State of Art Presentation — SOAP?

Simon Sinek falando sobre liderança no evento da 99u

Há algumas semanas tive o prazer de realizar um workshop sobre como fazer apresentações legais na empresa em que trabalho, a Somos Educação. Compilei os principais aprendizados que tive nos últimos 4 anos (quando comecei a me preocupar com as apresentações que eu fazia) e compartilhei com o time de lá.

Resolvi agora escrever um conjunto de textos nos quais resumirei os principais elementos que abordei no workshop. Espero atingir mais pessoas com um pouquinho dos aprendizados que tive.

Reflexões iniciais

O que faz uma apresentação ser foda? Os slides? O apresentador? A oratória? O tema? São muitas as possibilidades. O que aprendi é que tudo o que citei anteriormente são apenas ferramentas que precisam ser utilizadas adequadamente e de acordo com o perfil de cada apresentador (vou explicar sobre isso em um próximo texto).

“Não sou designer… nunca farei um slide legal”. Primeiro de tudo, não é preciso slide algum para fazer algo legal, vide Simon Sinek acima ou o Jim Carey ao lado. Segundo, é possível fazer slides legais usando a criatividade e a curiosidade (também vou trabalhar isso em um próximo texto).

“Não sou um Steve Jobs, logo não consigo fazer uma palestra legal”. That’s bullshit! Nesse primeiro texto o meu objetivo é mostrar que fazer uma apresentação foda é acessível a todos e que o mistério por traz disso é se trabalhar o processo criativo.

Compreendendo o processo criativo

Eu utilizo o framework de trabalho da SOAP adaptado para montar minhas apresentações. Ele contempla os elementos abaixo:

Framework adaptado da SOAP

Diagnóstico

É a fase na qual você analisa os aspectos relacionados a sua apresentação. Entre eles destaco:

  • Quem é a sua audiência?
  • Em qual contexto a sua apresentação será realizada?
  • Qual o seu perfil de apresentador?

Roteiro

É o momento no qual você coloca a sua história no papel. O Steven Spielberg tem uma frase interessante que reflete exatamente o que essa etapa, ou a falta dela, cria:

“As pessoas esqueceram como contar uma história”

Uma boa apresentação nada mais é do que uma excelente história contada. Um bom roteiro é capaz de diferenciar inclusive duas empresas. Querem um exemplo? Assisti a palestra de um diretor de banco falando sobre alguns de seus produtos, e ele dizia algo como:

“Boa noite a todos eu sou o fulano, sou diretor do Banco X e estou lá a Y anos. Pra mim é uma felicidade trabalhar ao lados dos outros colaboradores. Nos oferecemos diversos serviços de qualidade, tais como um limite de crédito Z, que atende muitos clientes, pessoas com as quais nos importamos muito no nosso dia-a-dia (blá blá blá…)”

E no fim da palestra deles, 70% do auditório estava dormindo.

Por outro lado, se virmos a apresentação do Steve Jobs falando pela primeira vez sobre o iPhone, observamos o seguinte discurso:

“Hoje vamos apresentar três produtos revolucionários. O primeiro é um iPod com widescreen e touch controls. O segundo é um celular revolucionário. E o terceiro é um fantástico dispositivo de comunicação via internet. Um iPod, um celular e um comunicador via internet. Um iPod, um celular e um comunicador via internet.. vocês estão entendo o que eu estou falando? Não se trata de três dispositivos separados. Isso é um único dispositivo, que chamamos de iPhone”.

E ao final dessas palavras, a plateia foi a loucura! Totalmente diferente, não é?

Identidade Visual

Se você fosse Leonardo Da Vinci, esse seria o momento pré pintura, no qual se preparam suas tintas, pinceis, cavaletes, telas, etc. De forma semelhante, faz-se uma busca por todos os elementos que serão necessários para a apresentação: o jogo de cores, as fontes de texto, formas e linhas, imagens, ícones, fotos, etc. Também é o momento de definir o estilo dos slides: minimalista, formal, preenchido, clean, etc.

Criação dos slides e treino

Preparado o roteiro e a identidade visual, é preciso construir os slides. É importante frisar que os slides não são um fim por si mesmos na apresentação, mas sim um elemento de suporte a história que é contada. Dessa forma, ele precisa estar em harmonia com a fala do apresentador e o objetivo definido para a apresentação.

Montar slides não é CTRL C + CTRL V no roteiro. O roteiro está mais próximo do conteúdo da fala do próprio apresentador. O conteúdo do slide está mais próximo da mensagem que se deseja passar a plateia.

Exemplo: a imagem do início desse texto é o primeiro slide do meu workshop. Ele foi mostrado no momento em que eu interagia com a plateia de forma a ouvir as experiências que tiveram com apresentações que não foram legais (seja como apresentadores ou não). O slide contém uma situação que todos os presentes já tinham vivenciado e serviu como um elemento de quebra de gelo por ser engraçado.

Mas não basta fazer todo esse esforço e não dedicar tempo a exercitar. O treino é o elemento que te deixa mais seguro em relação ao conteúdo, a sequência de slides e te permite polir a sua fala, ou seja, corrigir falhas bestas como o velho “aah, isso, ah aquilo” ou o “então nos falamos disso, ééééé e agora vamos para um segundo, éééééé, momento”.

Eu geralmente treino 3 vezes antes das apresentações que faço e já cheguei até a 10 vezes em situações de grande importância.

Referências: o elemento que te faz pensar fora da caixa

É possível seguir todos os passos anteriores e ainda sim fazer apresentações ruins? É claro…que sim! Somos condicionados a pensar sempre da mesma forma. Abrimos o Power Point, selecionamos um layout pré definido que achamos legalzinho e começamos a preencher aquelas caixinhas de título e os bullet points. Quando falamos a nossa plateia, tendemos a ler o slide com medo de esquecer alguma coisa (por isso algumas vezes enchemos ele de texto). Essa é a nossa zona de conforto.

Buscar referências novas de palestras legais, slides bem feitos e tentar trazer os elementos delas para dentro da sua apresentação tira você do conforto. Você investirá mais tempo para fazer um slide tão legal quanto o que você viu e consequentemente aprenderá macetes do power point. Você treinará mais vezes antes da apresentação tentando imitar a postura, a voz, o estilo do apresentador visto. Depois você vai buscar um livro que tenha uma teoria mais formalizada sobre apresentações. Isso foi exatamente o que aconteceu comigo.

Um dos primeiros conjuntos de slides que me ajudou bastante foi esse do Jesse Dee:

Nesse primeiro texto quis trazer uma visão mais genérica do processo que utilizo para criar as minhas apresentações. Nos próximos eu vou entrar com mais detalhes nas etapas, trazendo dicas, exemplos e referências a fim de potencializar as apresentações.

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Lucas Lo Ami

Cientista de dados, apreciador de fanta uva, jogador noob de CS2 nas horas vagas. Busco ciência para explicar o mundo.