Os 5 livros que mais impactaram a minha vida (até agora!)

Lucas Lucena Sonda
5 min readAug 11, 2016

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Longe de querer construir uma lista dos melhores livros da história (imagina a arrogância!), muito menos uma lista de livros com a capacidade universal de impactar o leitor — tô tão longe de ser crítico literário quanto o Temer está de ser um governante legítimo –, proponho apenas uma sequência de títulos que mudaram a MINHA perspectiva pessoal. Portanto, é um relato pura e simplesmente idiossincrático. Espero que sirva de indicação ou no mínimo como curiosidade. Ficaram de fora dessa lista livros e autores que adoro profundamente e que acho geniais, no sentido estrito da palavra mesmo, sem exagero. Contudo, o objetivo era avaliar impactos específicos e não necessariamente qualidade, então afunilei a lista para os seguintes cinco:

HARRY POTTER — SAGA — J.K. ROWLING

Sem dúvida alguma, esta foi a saga que inspirou em mim um dos maiores fascínios literários de toda a minha vida. Não é de todo surpresa, afinal, aqueles bons e velhos elementos sedutores estavam todos ali: um herói em formação; um mal supremo temporariamente adormecido; uma realidade mágica alternativa que nos transportava da realidade banal; superação, aprendizado, todo o espectro de sentimentos.

Li, aos 10 anos de idade e fora da cronologia correta, primeiro A Câmara Secreta (não me perguntem o porquê), para somente depois ler A Pedra Filosofal e o Prisioneiro de Azkaban. Sentia a urgência de acompanhar os amigos, também fãs, e discutir com eles os acontecimentos de cada volume lançado e a expectativa para os próximos. Passei a acompanhar fóruns online e discussões virtuais (ainda na época em que banda larga era luxo), curiosidades de todos os tipos, simbologias presentes e, especialmente, notícias relacionadas aos lançamentos dos volumes seguintes. Não bastava consumir apenas o que cada livro apresentava, era necessário expandir essa fronteira.

Não à toa, “a febre HP” tomou e formou uma geração inteira de leitores — especialmente crianças e pré-adolescentes — e me fez muito feliz ter participado de tudo isso. Mesmo já tendo lido os 7 volumes diversas vezes, a versão ilustrada do primeiro livro reacendeu a vontade de visitar esse mundo mágico novamente. Confesso uma curiosidade enorme de olhar a mesma história com olhos mais vividos, embora acredite nunca ter perdido por completo o feeling que me fez esperar, com uma esperança vã, pura e contra qualquer raciocínio lógico, a carta de Hogwarts ao completar 11 anos.

O VIAJANTE QUESTIONADOR E O KARMA — TORKOM SARAYDARIAN

Do alto dos meus 18 anos, quando ainda tinha em mim conceitos religiosos (ou mais precisamente filosóficos) bem presentes, especificamente budistas, tive a oportunidade de ler essa obra que, de forma bastante direta e objetiva, apresenta: i. uma interpretação das relações kármicas, a força universal que as regem e como o ser humano, consciente ou inconscientemente, modifica, soma ou subtrai essa força, entrelaçando a própria vida e a das pessoas a sua volta em uma trama que busca equilíbrio, diminuição das dores e alegrias e o cessar da reencarnação. ii. uma série de perguntas que o autor te instiga a fazer, e auxilia na interpretação dos resultados, com o objetivo de compreender as relações sociais que vivemos, sejam elas familiares, amorosas, profissionais ou de amizade, e como afetam o nosso desenvolvimento pessoal.

Foi especialmente revolucionário para mim pois esquematizou uma forma de avaliar as relações sociais em que era partícipe. Desanuviou algumas culpas, tirou uma algema aqui e acolá, fez-me enxergar — com muito mais clareza — a responsabilidade intrínseca de cada indivíduo sobre aquilo que o rodeia. Ainda hoje, mesmo não crendo mais em karma e nas implicações transcendentais que ele traz consigo, esse livro não deixou de representar uma cisão, um divisor de águas na forma como encarava as relações que compunha.

OS SOFRIMENTOS DO JOVEM WERTHER — GOETHE

Esse é o livro que te faz querer amar de verdade, mas não somente amar, morrer de amor mesmo, sentir cada minuto longe como se fosse, com o perdão do clichê, a eternidade. Daqueles amores que fazem suspirar pela mera lembrança e que desconcertam até o mais sensato dos seres humanos. O livro impacta pela pureza dos sentimentos, pela moral vigente na narrativa, pelos desencontros que só as relações humanas podem gerar. É uma montanha-russa de emoções, ora felizes, ora profundamente tristes. E você ali, no carrinho da frente, ingênuo, absorvendo todas aquelas sensações que se já não sentiu, haverá de sentir.

E se a história te fez desejar o amor incondicional, pode também — diametralmente oposta — te provocar a ficar bem longe dele, haja visto as consequências que a intensidade extrema de qualquer coisa podem trazer. Engana-se, portanto, quem espera de Os Sofrimentos do Jovem Werther um romance leve, meloso ou monótono. Goethe constrói diálogos profundamente inteligentes, tratando não só do amor belo e puro, mas também da inveja, vingança, frustração e, no mais célebre deles, suicídio.

E DO MEIO DO MUNDO PROSTITUTO, SÓ AMORES GUARDEI AO MEU CHARUTO — RUBEM FONSECA

Foi-me indicado sob o rótulo de “melhor livro do mundo” e só me restou confirmar a expectativa. Rubem Fonseca, além de ter aberto a minha cabeça para os autores brasileiros — que ignorei por tempo demais! –, me impressionou não só pela qualidade do enredo, complexidade das personagens ou temática investigativa, mas também pelas incontáveis citações a outras obras e pelo estilo fluído de escrita, fora dos padrões que conhecia até então. É um combo. Amor à primeira vista. Desde então, a coleção de obras do autor só fez aumentar em minha estante. Sabe aquele livro que você indica sem receio?

Rubem Fonseca trata da condição humana com um grau de realismo de fazer inveja. Leia e confirme!

1984 — GEORGE ORWELL

A distopia mais intensa que tive a oportunidade de ler até hoje. Orwell pega simplesmente tudo que temos de espúrio em nossa sociedade, eleva à máxima potência e constrói uma narrativa num mundo que pode ser resumido claramente, e por que não?, numa cor: cinza, muito cinza. E num sentimento: desesperança. Não há liberdade de expressão, liberdade de credo, liberdade de imprensa ou acesso à educação. Amor é coisa de outras épocas e a arte relegada ao proletariado mais ignorante. O Estado e o Partido no poder exigem devoção fanática, punindo qualquer manifestação contrária, seja ela mínima ou alta traição, com severos castigos, senão com a morte. Em 1984 não há, sequer, liberdade plena de pensamento, uma vez que até o idioma tem sido vilipendiado para restringir a capacidade das pessoas de se expressarem. É daquelas concepções que nos baqueiam, sincera e profundamente, e nos fazem temer o futuro; ainda mais quando o cerne de tudo isso, as sementes de um amanhã que não vale a pena viver, estão todas aqui. Umas já em gestação, inclusive.

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E é isso! A quem chegou até aqui, muito obrigado. Esse texto é um exercício pequeno de alguém que ama ler e escrever, mas que tem feito muito pouco dos dois ultimamente. Ninguém melhora se não escreve, não é verdade? Então bora tirar a poeira dos dedos (e da mente!) e botá-los pra trabalhar.

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Lucas Lucena Sonda

Escreveria mais e sobre mais coisas se não fosse a compreensão da minha própria ignorância.