Todos Os Famosos Que Amei

Lucas Melim
13 min readAug 14, 2020

--

O jogo era simples: alguém te desafia a conectar dois famosos. Sejam eles atores, músicos ou qualquer status de celebridade, sua missão é juntar ambos, fazendo o mínimo de conexões possível. Por exemplo: Steven Seagal e Marlon Brando. Como um chega no outro? Bem, um caminho é dizer que Steven Seagal contracenou com Robert DeNiro no filme Machete, que, por sua vez, interpretou o jovem Vito Corleone na trilogia do Poderoso Chefão, que, quando mais velho, foi interpretado pelo próprio Marlon Brando. Pronto, conexão estabelecida.

Mário detestava aquele jogo.

Trivia era, de longe, seu ponto mais fraco nos jogos de bar. Ele mal conseguia guardar o nome de mais de quatro ou cinco atores. Até hoje confundia o Kevin Costner com o Denis Quaid e não tinha certeza de quem era James Franco.

Por isso, Mário estava um tanto quanto distraído enquanto seus amigos gritavam, efusivamente, nomes de atores, filmes, séries, músicas, livros, obras de arte e toda sorte de informações sofisticadas, enquanto viravam shots de Jagermeister ao decorrer da noite.

Mário detestava Jagermeister.

"Tem gosto de eparema" ele sempre dizia, quando era forçado a beber sob profundas ameaças de perder a amizade dos seus colegas.

Nesse ritmo, ele usava metade da sua percepção para fingir que prestava atenção no jogo de seus amigos, e a outra metade para observar a vida que pulsava naquele bioma.

Ele achava engraçado reparar nas pessoas quando elas não sabiam que estavam sendo reparadas. Um casal na mesa do fundo trocava carícias típicas de início de namoro, naquela paixão que faz com que você, durante aproximadamente 3 meses, tenha certeza de que nunca mais vai amar daquele jeito de novo. Um senhor tentava fazer funcionar um Jukebox desligado, enquanto um garçom lhe explicava que a máquina era apenas decorativa e que não funcionava desde 2005. Dois irmãos gêmeos, sentados numa mesa no fundo do bar, resolviam, juntos, uma página de Palavras Cruzadas nível Difícil, com uma só caneta para quatros mãos (apenas duas serviam para escrever, mas todas eram hábeis o suficiente para puxar a caneta com veemência da posse do outro). Um homem, que bebia sozinho uma garrafa do Whisky, ia ao banheiro a cada 15 minutos e voltava falando sozinho, animado.

Contudo, lhe chamou atenção um homem negro e baixo, com aparência plena, como se nada nesse mundo pudesse lhe tirar do sério, vestindo um terno vintage bem cortado, um mocassim de couro escuro, uma boina xadrez e um óculos de hastes grossas, que estava na mesa ao lado de seus amigos. O homem lia um jornal que Mário tinha quase certeza ser um jornal de anos atrás, fumava um cigarro enrolado em seda bege e soltava risadinhas esporádicas, enquanto fazia anotações no seu jornal velho.

Mário se deu conta que, sem querer, manteve o olhar fixado no homem durante quase 15 minutos. Só perdeu o foco quando um de seus amigos o cutucou no ombro com força e disse em voz alta "Vai, Mário! Ajuda a gente. Nem parece que está no nosso time, pô!"

"Oi… Sim… Não! Diga, qual é o desafio?" ele perguntou, tendo que fazer força física para destravar o fixo olhar do homem da mesa ao lado.

"Tarcísio Meira! Hahahaha! E Zeca Pagodinho! Hahaha" seu amigo não conseguia dizer uma palavra sem terminar em risada. Aparentemente aquele jogo era muito engraçado.

Realmente não era fácil ligar os dois. O time de Mário pensou em possíveis novelas com temas do Zeca, ou clipes do Zeca que tivessem algum ator ou atriz ligados ao Tarcísio em outra obra, mas nada se conectava. Pediram mais uma rodada de drinks, fizeram uma pausa para ir ao banheiro, e nada. Era impossível conectar aquelas duas celebridades.

A turma já estava aceitando a derrota e, quando estavam prestes a passar a sua vez, o homem da mesa ao lado se inclinou suavemente em direção a quem parecia estar liderando o jogo e disse "Com licença, não pude deixar de observar este jogo interessantíssimo que vocês estão jogando e percebi que vocês estão em um impasse, certo?"

Ninguém, fora o próprio Mário, tinha reparado na existência daquele homem, até então. Sua intromissão foi tomada com espanto inicial pelo grupo de amigos, mas logo alguém conseguiu se recompor e responder "certo, estamos em um impasse".

"Olha" o homem, sem a menor cerimônia, fechou o seu jornal, pegou sua bebida e saltou para um banco vago na mesa da turma (alguém provavelmente estava no banheiro bem naquele momento) e começou a contar uma história de um jeito que parecesse um segredo de estado.

"Eu sou motorista de Uber, né. Já fui motorista de Táxi, de ambulância. Até piloto da Barca Rio-Niterói eu já fui. Durante uma época eu dirigia aqueles ônibus que levam as pessoas de um aeroporto muito longe até um aeroporto um pouco menos longe, sabe? Enfim, nada disso vem ao caso. A questão é que, um belo dia, estava eu fazendo minhas corridas durante a tarde… eu sempre rodo de tarde, sabe? Não tenho paciência para aturar os passageiros bebuns que aparecem nas corridas de noite ou de madrugada… Enfim!"

Aquele homem não conseguia, em hipótese alguma, ir direto ao ponto. "Essa história vai demorar", pensou Mário, que chegou a pedir mais uma cerveja e uma porção de amendoim para acompanhar o desenrolar daquele misterioso caso.

"Então eu estava passando ali perto do Largo do Machado" o homem continuou "e me apareceu uma corrida lá no alto da Rua das Laranjeiras. A princípio eu pensei em nem aceitar! Pô, subir aquela pirambeira é horrível! Arrebentar uma suspensão ali é fácil-fácil mole-mole. Mas aí eu vi que a corrida estava dando quase cem conto e pensei que a noite estava feita. Aceitei a corrida e comecei a subir aquela rua desgraçada.

Enquanto eu subia, reparei que o nome do passageiro aparecia para mim como Tarcísio M., e que ele não usava foto de perfil. Fui o caminho inteiro matutando já pensou se é o Tarcísio Meira, e dando risada de mim mesmo. Chegando lá, não é que era o homem mesmo?!"

Aquele jeito prolixo e detalhado de contar histórias estava se provando ser, de certa forma, intrigante. Não apenas os amigos de Mários estavam hipnotizados pelo que ele estava contando, como também algumas pessoas de outras mesas do bar estavam prestando atenção descaradamente.

"Ele entrou de boné e óculos escuros no meu carro, e eu logo desconfiei." continuou o homem. "Pô! Óculos escuros seis e meia da noite! Só podia ser famoso. Eu logo disse: Boa noite, seu Tarcísio".

A partir deste momento, por limitações estilísticas e gramaticais, o autor do texto se colocará no lugar do homem que conta a história.

"Boa noite" ele respondeu e logo emendou, em tom apreensivo "olha, eu vou ser sincero, essa corrida não vai ser exatamente fácil. Vou precisar parar em alguns lugares e cumprir algumas tarefas. Gostaria de saber se posso contar com você durante todo o trajeto?"

"Mas é claro, seu Tarcísio! Pode contar comigo pro que precisar" eu respondi, mas no fundo estava apenas sendo educado. Ele parecia estar tão nervoso que eu fiquei com um pouco de medo do que seria esse trajeto.

"Ok… então, vamos nessa! Toca lá par Pizzaria do Luiz" talvez por ter reparado na falta de firmeza com a qual eu havia respondido ao seu chamado, ele tentou dar um tom de aventura cinematográfica para aquela situação.

Antes de iniciar a corrida, eu tive que confirmar com ele. "Seu Tarcísio… é em Xerém mesmo?!"

"Sim" ele disse, depois de uma breve pausa, "é em Xerém mesmo".

A verdade é que aquele assunto devia estar incomodando Tarcísio Meira há dias, pois ele foi logo desabafando, mesmo sem que eu perguntasse nada. Durante o trajeto de quase uma hora ele me contou sobre como estava desesperado, procurando pistas do paradeiro de alguém muito querido que havia sido raptado na calada da noite.

"Sabe, eu já não consigo nem mais dormir sem a companhia da Glória" ele lamentou.

"Sequestraram a sua mulher?!" eu perguntei, horrorizado. Meu choque foi tamanho que quase bati no carro da frente.

"O que?" o que começou com uma feição de extrema confusão logo virou um sorriso tolo "Ah, não. Glória é o nome da minha Cacatua" ele até mesmo colocou a mão no meu ombro, tentando me acalmar. "Sim, é o mesmo nome da minha mulher. Achei que seria uma piada engraçada. Até foi, no começo. Depois de um tempo já não tinha mais graça e só servia para confundir a nossa vida domiciliar. Quando encheu meu saco de vez já não adiantava mais escolher outro nome: a Cacatua só respondia por Glória".

Ele seguiu me contando sobre o caso da Gangue de Ladrões de Passarinho que estava aterrorizando Duque de Caxias e seus arredores nas últimas semanas, e sobre como eles tinham sequestrado Glória, a Cacatua, de um viveiro em Saracuruna, onde ela estava para fazer alguns exames de rotina.

Ele simplesmente não calou a boca, até chegar na Pizzaria do Luiz. Quando chegamos lá, ele me pediu para que entrasse no local com ele e fizesse algumas perguntas aos balconistas, garçons e, às vezes, até mesmo aos próprios donos dos estabelecimentos. Eu topei porque ele me pagou extra. Ele não queria perguntar ele mesmo para não ser reconhecido, sabe?

"Não senhor, não ouvi falar de nenhuma gangue de ladrões de passarinho" sempre me respondiam, espantados. "Aquele ali é o Tarcísio Meira?" sempre me perguntavam, espantados.

Em todos os bares, restaurantes, pizzarias, farmácias e até Pet Shops em que fomos perguntar, ninguém tinha ouvido falar de nenhuma gangue de ladrões de passarinho e todos me perguntavam se aquele era o Tarcísio Meira.

Depois de mais uma pizzaria na qual entramos e não tivemos sucesso em nossa busca, Tarcísio disse "bom, eu tinha medo que chegasse nisso".

"Nisso o que?" perguntei.

"Só resta um lugar a procurar" ele fez sinal da cruz e terminou a frase de forma enfática, como que numa cena de filme de terror "A Sinuca do Messias".

Fomos então para a Sinuca do Messias. Eu nunca tinha visto um lugar tão caricato na minha vida. Por acaso vocês já assistiram àquele filme O Franco Atirador? Sabe aquela cena em que eles jogam roleta russa no porão? Então, era tipo aquilo. Só que em Xerém.Todos os indivíduos presentes naquele estabelecimento tinham cara de criminoso.

Logo que entramos no bar, seu Tarcísio me puxou pelo braço e disse no meu ouvido "Não olha agora… disfarça… fundo do bar… acho que… são eles" ele estava tão nervoso que não conseguia sequer formar uma frase decente. Eu olhei de rabo de olho e entendi o nervosismo dele.

No fundo do bar, na última mesa de sinuca, havia 4 homens que pareciam ser vietnamitas. Na mesa deles, apoiados uma em cima das outras, havia várias gaiolas de passarinho, cobertas com panos. Meu coração logo acelerou.

"Não podemos tomar uma decisão impulsiva" Tarcísio disse atrás de mim, como se fosse a voz minha própria consciência "temos que ter calma e atacar na hora certa".

Então sentamos em uma mesa, pedimos 2 risoles e uma cerveja, e começar a papear sobre o Fla x Flu da noite anterior. Qualquer um que prestasse a mínima atenção veria que não passávamos de farsantes naquele bar, pois Tarcísio não entendia nada de futebol, então aquele diálogo foi um fiasco.

Logo que nos sentimos mais à vontade, mais inseridos como coadjuvantes naquele cenário esdrúxulo que era a Sinuca do Messias, começamos a bolar o nosso plano.

"Bom, eu vou no banheiro" eu comecei "na volta eu tropeço e derrubo minha cerveja naquele menorzinho, que parece ser o mais indefeso deles".

"Ótimo, ótimo, gostei" assim como futebol, Tarcísio também não entendia nada de brigas de bar, então ele só concordava com o que eu dizia.

O plano era simples: eu tropeçava no menor capanga, tacava meu copo no segundo menor, quebrava o taco da sinuca na cabeça do terceiro menor e, na sequência, metia a minha mão na cara do que parecia ser o líder. Se tudo desse perfeitamente certo, eu, rapidamente, conseguiria expor os passarinhos, recuperar Glória, a Cacatua, e fugiríamos pela porta dos fundos, onde meu carro estava estacionado.

Mas antes mesmo que eu conseguisse levantar da mesa para ir ao banheiro, ouvi um baque estrondoso na porta do bar, como que num filme de velho oeste, e um grito de alguém que parecia estar muito, muito puto da vida:

"CADÊ A PORRA DA MINHA PIRIQUITA?!" bradou, a plenos pulmões, Zeca Pagodinho.

Ele estava acompanhado de quatro capangas, dois dos quais estavam armados com um cano de ferro e um taco de beisebol, enquanto os outros dois tinham pistolas de calibre 38. Zeca também tinha uma pistola em uma das mãos. Na outra mão, uma lata de Brahma. Seus olhos estavam vermelhos de ódio.

"Eu vou perguntar de novo: cadê. a porra. da minha. periquita?!" ele parecia estar possuído.

Aquele era um típico impasse mexicano. Zeca Pagodinho de um lado, com seus capangas, e os Ladrões de Passarinho do outro, segurando as gaiolas como se fossem reféns, ameaçando espatifá-las a qualquer momento. Ninguém piscava. Ninguém movia um músculo sequer. Qualquer movimento mal calculado seria fatal.

Até que se ouviu uma voz vindo do banheiro que ficava logo atrás da mesa dos bandidos.

"Ora, ora, ora, veja só quem resolveu dar as caras" disse a voz, em tom irônico. Quem quer que fosse, parecia caminhar em direção à mesa de sinuca, pois era possível perceber a sua voz se aproximando.

"Quem tá aí?!" perguntou Zeca, sem mover um músculo além do que fosse estritamente necessário para proferir aquelas palavras.

A voz, que estava cada vez mais próxima, disse "A festa acabou, a luz apagou, o bonde não veio. E agora, José?"

Como em um movimento ensaiado, o homem surgiu pela porta do banheiro exatamente no último trecho do poema, e se posicionou no centro do tal impasse.

“Quem é José?” perguntou Zeca, que parecia estar próximo de um colapso.

“Ué, você. Não?” disse o homem.

“Eu?!” perguntou Zeca, que, além de puto agora estava confuso.

“Achei que Zeca era de José”, disse o homem, com uma expressão pensativa.

“De onde tu tirou isso?” retrucou Zeca, em tom ameaçador, enquanto apontava sua pistola para o homem.

“De qualquer forma," o homem começou a caminhar em círculos "você também não lembra meu nome, não é? Então estamos empatados". Ele ostentava um sorriso malicioso enquanto falava. "Ou estaríamos, se você não tivesse simplesmente… acabado com a minha vida!" gritou, enquanto quebrava um taco de sinuca na mesa. Todos os movimentos daquele homem pareciam ter ser sido meticulosamente ensaiados.

"Eu não quero nem saber quem é você, parceiro!" Zeca estava respondendo ao ódio do homem com mais ódio ainda "eu só quero a porra da minha piriquita!"

"Você não lembra mesmo de mim, não é?" a essa altura, era difícil ler as emoções daquele homem. "Meu nome é Ariel Toledo e você acabou com a minha vida quando trocou a Schin por essa porcaria na sua mão!" ele apontava um dedo acusatório para a lata de Brahma.

A raiva de Zeca agora parecia dar lugar a um misto de confusão e pena. Ele tentava entender a situação e disse "quer dizer que… você então… é o…"

Ariel interrompeu Zeca bruscamente, gritando "Sim! Eu era o Diretor de Marketing da Schin quando você traiu a gente! Você acabou com a vida da Schin e, consequentemente, com a minha! Eu nunca mais consegui um emprego decente na minha vida. Perdi minha mulher, meus filhos, minha casa".

Zeca tinha baixado a sua guarda e observava Ariel com dó, porém sem perder a concentração.

"E agora, chegou a hora da minha vingança" Ariel, sem perder tempo, apontou sua pistola na direção das gaiolas e desferiu 5 tiros de forma aleatória.

"Ahhhhh! Seu filho da Puta!" Zeca perdeu completamente a razão e a compostura. Tacou a sua arma no chão e partiu para cima de Ariel. Veja, ele não queria só matar Ariel, ele queria violentar ele. Ele queria travar uma luta corporal, da forma mais bruta possível, com o homem que havia matado sua periquita.

Infelizmente, um dos vietnamitas sorrateiramente colocou o pé na frente do Zeca, que caiu em cima de Ariel da maneira mais espalhafatosa possível. Então o embate corporal, ao invés de bruto, acabou sendo patético. Num movimento para se soltar, Ariel empurrou Zeca para longe. Ele rolou por cima da mesa de sinuca e caiu bem próximo à nossa mesa, praticamente aos nossos pés.

Quando o ajudamos se levantar, ele perguntou "esse não é o Tarcísio Meira?"

Mas Ariel não tinha tempo para networking, e seguiu a sua empreitada em busca de vingança. Correu em volta da mesa até que tivesse uma visão limpa de Zeca Pagodinho, apontou sua arma e disparou.

Mas a bala em questão, a última bala que havia naquela pistola, não acertou o alvo pretendido. Tarcísio, que ainda não tinha soltado a mão de Zeca desde que o ajudou a levantar, quando ouviu o disparo, puxou o homem para trás de si, quase como um movimento reflexivo. A bala atingiu Tarcísio, em cheio, no coração. Ele caiu no chão sangrando e urrando de dor.

O homem, agora sem balas, jogou sua arma no chão e se rendeu. Quando viu quem estava caído e ferido no chão, perguntou "esse aí não é o Tarcísio Meira?" e essas foram as últimas palavras que ele proferiu antes de levar um murro da têmpora e cair no chão inconsciente.

Os vietnamitas foram rapidamente rendidos pelos capangas do Zeca e os passarinhos foram levados para um local seguro. Por acaso, Ariel não acertou um único tiro. Todas as aves estavam bem e vivas, apesar de assustadas.

Zeca e eu chorávamos, cada um segurando uma mão de Tarcísio, enquanto gritávamos para que alguém chamasse uma ambulância. Mas não deu tempo, ele morreu antes mesmo do socorro chegar.

Antes de partir, ele disse "Diga à Glória que eu amo ela. E diga à outra Glória que eu amo ela também" ele tentou dar uma risadinha final da própria piada, mas acabou se engasgando com o próprio sangue e, então, faleceu.

Agora, vamos voltar à narrativa com visão neutra, no bar onde Mário e seus amigos ouvem, atentamente, à história do homem.

"E foi assim que Tarcísio Meira morreu nos braços de Zeca Pagodinho" o homem concluiu a história, de forma resoluta.

Praticamente todo mundo que estava naquele bar prestava atenção à história, algumas pessoas até mesmo enxugavam uma lágrima discreta.

"Mas e aí, o que você fez?" perguntou Mário.

"Ah, eu encerrei a corrida e fui para casa. Não tinha mais paciência de pegar nenhuma passageiro naquele dia." O homem parecia estar em um estado de transição mental, como que procurando se desligar da história que acabara de contar e voltar ao seu momento mundano. "Bom, falando em passageiro, vou trabalhar. Um grande abraço para vocês e bom jogo, viu!"

Mário e seus amigos acompanharam, em silêncio e admiração, a trajetória do homem em direção à saída do bar. Ele deu uma última olhada para trás, em direção à mesa, e fez um aceno despretensioso com a mão.

Foi nesse momento que Mário teve uma epifania e gritou "Hey! Mas o Tarcísio Meira não morreu!"

Já era tarde demais.

A história já estava contada e o homem já tinha ido embora.

--

--