Pra que serve a filosofia?

Luccas Bergami
3 min readMar 15, 2022

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O filme “A Sociedade dos Poetas Mortos” (1990), dirigido por Peter Weir, traz uma das reflexões mais belas sobre o papel da filosofia e das humanidades. Em uma de suas cenas memoráveis, o professor John Keating (Robin Williams) atribuiu às ciências humanas o caráter de serem “as razões para qual ficar vivo”, enquanto questiona seus alunos, influenciados pelos pais, sobre a importância das possíveis carreiras que estão fadados -ou não- a seguir. Esse rápido momento me fez questionar durante bastante tempo como responder a seguinte pergunta: Qual a importância da filosofia?

De fato, se analisarmos a filosofia como um campo similar à economia, administração, engenharia ou direito, não conseguimos conferir a ela qualquer significado, visto que todas as demais possuem um objetivo pré-definido, mesmo que subjetivo para cada profissional. Ao longo da formação acadêmica de um economista, por exemplo, ele acumula cada vez mais conhecimento e experiência a respeito dos assuntos estudados para, em algum momento, resolver problemas que exigem certo grau de expertise. Claro que existe uma infinidade de desdobramentos e atuações para um economista, mas os caminhos tendem a convergir para a solução dos desafios enfrentados. Além disso, tais campos do conhecimento não só se ocupam de um meio para determinado fim como também possuem impacto direto nas áreas em que atuam.

A filosofia, por sua vez, não se restringe a ter um objetivo final. Ela demanda apenas a paixão pelo conhecimento e o esforço de trilhar seu caminho, mesmo que não chegue a uma conclusão. De Protágoras à Nietzsche, as discussões sobre ontologia, epistemologia e a busca incessante pela verdade nos fornecem possíveis interpretações e questionamentos que promovem um prazeroso estado de curiosidade e ferramentas para ler o mundo com suas diversas contradições e imprevisibilidades. Claro que existem vertentes com pretensões científicas de conhecimento, entretanto não limito a visão filosófica ao que a ciência busca explicar. Admito o afeto spinozano, as aparências e a coisa-em-si kantiana, a transvalorização dos valores, de Nietzsche, e a Eudaimonia aristotélica como as mais interessantes visões e reflexões que jamais serão respondidas, todavia iluminam o caminho para qualquer um que se aventure a percorre-lo, mesmo não levando a nada.

Há também a vertente da filosofia moral, essa corrobora em grande parte as teses políticas, econômicas e sociais que regem a vida em sociedade e são de extrema importância para o indivíduo, uma vez que o leva a abstrair suas noções de certo e errado, o papel das instituições etc. Porém, no final das contas, a função da ética também converge ao nada, pois mesmo assumindo diferentes posicionamentos sobre as coisas, com a pretensão delirante de se alcançar a verdade, ainda estamos apenas questionando individualmente aquilo que não possui um fim em si mesmo, por mais saudável que seja para a sociedade.

Portanto, mesmo que estudemos a vida inteira os maiores autores da filosofia, talvez não encontremos objetivamente seu papel, mas acredito que ao concluir todo o nosso estudo, a resposta para essa pergunta não terá a menor relevância. O resultado que o professor John Keating nos ensina é a mais valiosa das lições, a consideração final de carpe diem e, definitivamente, o prazer dos questionamentos que, talvez, seja a sua razão para estar vivo.

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Luccas Bergami

Economista que ama filosofia, música e cinema. Twitter/IG: @luccasbergami