O grande plano: como vou encarar cada fase do Desafio Fintech

Luciano Tavares
8 min readMar 2, 2016

Desde que lancei o Desafio Fintech, há algumas semanas, recebi centenas de comentários de amigos, clientes e leitores.

Muitos se identificaram com as dificuldades sofridas nos serviços financeiros tradicionais e ficaram animados com a possibilidade de encontrar alternativas melhores e mais baratas.

Outros, mais céticos, consideraram a empreitada uma grande loucura. Como se eu fosse enfrentar o Mike Tyson no ringue — e com plateia.

O fato é que vou encarar essa luta e agora não tem mais volta.

Decidi criar um plano para lidar com cada fase do Desafio Fintech.

A lista

Comecei meu grande plano destrinchando cada aspecto da minha vida financeira.

Pensei em todos os serviços financeiros que utilizo no dia a dia e, em alguns minutos, cheguei a essa lista:

  • Verificar meu extrato
  • Controlar receitas e despesas
  • Sacar dinheiro
  • Pagar contas
  • Utilizar meu cartão de crédito
  • Fazer transferências (para terceiros ou entre contas minhas)
  • Investir meu dinheiro
  • Contratar seguros

O próximo passo foi analisar cada serviço e pensar como eu poderia fazer a migração para fintechs. Em cada categoria, procurei avaliar a dificuldade da mudança e o meu atual grau de evolução.

Me lembrei do jogo Punch-Out!, da Nintendo (um dos melhores jogos de toda história!). Os adversários começavam fracotes mas, a cada fase, a dificuldade aumentava. No final, você enfrentava o próprio Mike Tyson, que era praticamente impossível de vencer.

Minha sensação é de que no Desafio Fintech vou enfrentar lutas de todo nível.

Controle financeiro

Tenho hoje duas contas bancárias e três cartões de crédito. Para controlar tudo, acesso o internet banking de cada banco e olho o extrato ou a fatura dos cartões.

Além disso, sei da importância de manter um orçamento pessoal para controlar se as entradas e saídas estão de acordo com o planejado.

Como faço atualmente?

Hoje utilizo uma ferramenta online, chamada Pocketsmith, onde consolido todos os dados de extratos e faturas dos cartões. A ferramenta também permite criar um orçamento para cada categoria de despesas, opção que utilizo apenas parcialmente. As importações de dados são realizadas via arquivo OFX, ou seja, o processo ainda não está tão automático quanto eu gostaria.

O que pretendo fazer?

Vou explorar outras ferramentas de controle financeiro, preferencialmente com importação automática. Outra alternativa seria migrar completamente para uma solução que ofereça conta corrente e controle financeiro integrados.

Também gostaria de explorar outras soluções de orçamento, pois quero ter um controle mais rigoroso das minhas despesas.

Potenciais fintechs: GuiaBolso1, YNAB, Organizze, Mobills

Pagamentos

Todos nós pagamos contas, não dá para escapar. É conta para todo lado: luz, água, internet, celular, Netflix, faxineira, médico, IPTU, IPVA…

Essa é uma das tarefas financeiras mais comuns e, ironicamente, também uma das mais complexas. São inúmeras formas de se realizar um pagamento, desde o bom e velho boleto até moedas virtuais.

Como faço atualmente?

Minhas contas domésticas, como luz e telefone, estão cadastradas no débito automático do banco. As demais contas recorrentes ou serviços de assinaturas (como Netflix) estão cadastradas no cartão de crédito ou PayPal.

Para boletos avulsos ou impostos, acabo realizando o pagamento via aplicativo móvel do banco. Há ainda o dinheiro em espécie, que costumo sacar no caixa eletrônico do banco e uso para pequenos pagamentos no cotidiano.

O que pretendo fazer?

Idealmente, eu gostaria de migrar todos os meus pagamentos para alguma solução online na qual eu pudesse cadastrar todos os débitos recorrentes e facilmente pagar contas avulsas. Esse serviço também deveria ser integrado à minha solução de controle financeiro, para importar todos os pagamentos automaticamente.

Sei que existem algumas soluções de cartão pré-pago que almejam substituir a conta-corrente.

Mas será que é possível realizar todos o pagamentos por meio desses serviços? Como farei para creditar essa conta? É possível sacar dinheiro? Não sei ainda — mas pretendo descobrir.

Essa é uma das verticais onde antecipo maior dificuldade de migrar completamente para fintechs.

Potenciais fintechs: Controly, Acesso, Moip, Conta Um, Xapo

Cartão de crédito

Essa categoria está ligada à anterior, pois utilizo o cartão de crédito apenas pela conveniência de pagamentos e pelos benefícios, não para crédito.

Como faço atualmente?

Tenho dois cartões emitidos por um único banco e outro pelo Nubank. No dia a dia, acabo concentrando os pagamentos em um único cartão do banco. Eles não me cobram anuidade (sou cliente antigo) e acumulo pontos de milhagem pela utilização do cartão.

O que pretendo fazer?

Vou tentar eliminar completamente meus cartões do banco e ficar apenas com cartões defintechs, como Nubank. Acredito que essa transição será uma das mais fáceis, porém, preciso analisar o impacto que terá nos benefícios atuais, como as milhagens.

Potenciais fintechs: Nubank

Transferências

Por incrível que pareça, o sistema brasileiro de transferências bancárias é bom. Através da TED, posso transferir qualquer valor para outra conta instantaneamente (o mínimo de R$ 250 foi abolido em janeiro). Há países em que esse tipo de transação leva dias para ser liquidada.

O problema ocorre quando preciso transferir valores maiores, acima do limite determinado pelo banco. Entendo que existem motivos legítimos, como segurança, para restringir essas transações. Mas hoje é bastante frustrante quando preciso realizar uma transferência maior, ainda mais quando é para uma outra conta de minha titularidade.

Como faço atualmente?

Utilizo o internet banking ou aplicativo móvel do meu banco para fazer a maior parte das transferências. São transações entre minhas contas ou pequenas transferências para terceiros. Em alguns casos, utilizo como forma de pagamento para compras em que não é possível pagar com o cartão ou boleto.

Quando os valores são acima do limite do internet banking, solicito a operação para minha gerente do banco. Em último caso, sou forçado a ir até a agência bancária, algo tão divertido quanto ir ao dentista.

O que pretendo fazer?

Para pequenas transferências pretendo utilizar serviços de pagamentos online. Ainda não sei avaliar se será prático para quem estará do outro lado recebendo os recursos através desse tipo de serviço.

Para valores maiores, antecipo que será extremamente difícil encontrar serviços alternativos aos bancos no momento. A única alternativa que imagino será abrir conta em algum banco mais moderno que permitisse transferências maiores pela internet.

Potenciais fintechs: PicPay, Banco Original

Investimentos

Investir nossos recursos é fundamental. Seja para adquirir um bem, se preparar para a aposentadoria ou simplesmente para se proteger da inflação, todos nós precisamos aplicar nosso dinheiro de forma inteligente.

Como faço atualmente?

A grande maioria dos meus investimentos financeiros tradicionais são realizados através da Magnetis. Lá consigo facilmente acompanhar a performance da minha carteira, realizar novos aportes e verificar se estou no caminho certo para atingir meus objetivos.

Mantenho ainda uma pequena parcela investida em fundos DI no banco, para gerenciar melhor os fluxos de caixa do dia a dia. Além disso, tenho investimentos anjos em startups de tecnologia através da Napkn Ventures.

O que pretendo fazer?

Essa é uma das categorias onde sinto que estou mais avançado. Claro que não podia ser diferente. Afinal, fundei a Magnetis justamente para oferecer uma solução de investimento inovadora, livre de todos os vícios e ineficiências do modelo tradicional.

Aqui já “cortei o cordão” e hoje tenho a tranquilidade de saber que meu patrimônio está aplicado nos melhores investimentos possíveis para meus objetivos de longo prazo. Para atingir um índice fintech de 100%, eu teria que migrar toda minha gestão de caixa, o que ainda não é possível devido aos gargalos das transferências bancárias.

Quero aproveitar para explorar alguns serviços de investimentos alternativos como peer-to-peer lending (empréstimos diretos para empresas ou indivíduos) e crowdfunding(plataforma de investimento coletivo em empresas inovadoras). Podem ser alternativas interessantes para investir uma parte pequena da minha carteira.

Potenciais fintechs: Magnetis, Broota1, Biva1,

Seguros

Contratar seguros é um prática bem-vinda de planejamento financeiro e gestão de risco. O seguro mais comum é o de automóvel, mas outras apólices são recomendadas, como seguro de vida e residencial.

Como faço atualmente?

Atualmente utilizo a seguradora vinculada ao meu banco para os seguros de automóvel. No passado, cotei a renovação com algumas corretoras online, mas a proposta na época não estava atraente o suficiente para migrar.

Os demais seguros que já contratei foram cotados através do banco.

O que pretendo fazer?

Gostaria de adquirir um seguro auto de uma seguradora 100% online, que fosse capaz de capturar os dados de utilização do meu veículo e oferecer uma apólice mais barata. (O ideal mesmo seria me livrar do carro!)

Enquanto esse tipo de serviço não chega ao Brasil, pretendo testar novamente as principais corretoras online durante a renovação do seguro do meu carro. Gostaria também de testar os serviços para outros tipos de seguro, como vida e residencial, bem como os serviços de proteção para eletroeletrônicos.

Potenciais fintechs: MinutoSeguros1, Bidu1, ComparaOnline

Financiamentos

Não inclui financiamentos na minha lista, pois não utilizo. Na Magnetis, pregamos a filosofia de receber juros — e não pagar. Isso é ainda mais importante no Brasil, onde temos as maiores taxas de juros do mundo!

Dito isso, entendo que existem pessoas que precisam financiar um carro, um imóvel ou seu próprio negócio. Portanto, pretendo experimentar alguns serviços inovadores na área de crédito, no intuito de tentar encontrar taxas menores do que as exorbitantes cobradas pelos bancos.

Potenciais fintechs: BankFacil2, Biva1, Geru, Lendico, BTCJam

Colocando o plano em ação

Resumindo, minha situação atual é a seguinte:

Confesso que fiquei surpreso com a minha atual dependência dos serviços financeiros tradicionais. Parece que esse desafio vai ser mais complicado do que pensei originalmente…

Como diz o filósofo Mike Tyson: “Todo mundo tem um plano até tomar um soco na cara!”

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1 Um dos nossos investidores também investiu nessa empresa.
2 Sou investidor anjo através da Napkn Ventures.
Imagens dos Flickrs/Creative Commons: TFC​ / Charles Willians / Tyler C. Hellard

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