De diretor à comentarista: a trajetória de Ricardo Bulgarelli

Em entrevista, o jornalista comentou sobre sua carreira como jornalista esportivo

Luís Silva
5 min readDec 17, 2023
Ricardo no programa ‘ESPN League’. Imagem: Canais ESPN

Pouco mais de um mês após a conclusão da temporada 2020–2021 da NBA, que terminou com o Milwaukee Bucks conquistando seu segundo título, Ricardo Bulgarelli, jornalista especializado em basquete, tido como um dos grandes destaques na cobertura do esporte no país, falou, em entrevista, sobre sua trajetória no jornalismo esportivo. O jornalista, que hoje é comentarista dos canais ESPN e da NBA Brasil, falou sobre as vivências, descobertas, adversidades e experiências vividas na profissão que exerce com excelência há 20 anos. Ricardo, natural da capital paulista, é graduado em jornalismo e possui passagens pela TV Bandeirantes e TV Record, antes de chegar aos canais ESPN, onde comenta jogos da liga norte-americana de basquete. Famoso por seus sinceros e empolgados comentários, Bulgarelli rompe o padrão de comentaristas ex-jogadores e treinadores na televisão brasileira, sendo um dos únicos que é jornalista por formação.

Perguntado sobre a escolha da profissão, comenta que, ao contrário do que muitos pensam, sua primeira opção profissional foi medicina veterinária: “Eu sempre gostei muito de cachorros, então a mesma importância que eu dava para o esporte, eu dava para os animais, principalmente para os cachorros. E como eu ia muito para o interior de São Paulo quando era criança, por ter parentes lá, e tinha uma faculdade muito forte em medicina veterinária em Jaboticabal, que era a Unesp, eu quis unir duas vontades que eu tinha, a de morar no interior de São Paulo e fazer medicina veterinária”. Ainda, diz que prestou medicina veterinária em três oportunidades, mas sem sucesso: “Prestei medicina veterinária por três vezes e acabei não passando e, se tivesse passado, muito provavelmente eu seria um médico veterinário hoje, uma realidade completamente diferente”.

Ricardo, que hoje é referência para muitos jovens que almejam alcançar o mesmo sucesso, conta, enfim, como chegou ao jornalismo: “Depois de não conseguir passar eu acabei desanimando e ficando ocioso em casa e, foi justamente aí, que pensei em fazer jornalismo e entrei na faculdade”. Completa, ainda, ressaltando que foi uma escolha do acaso e não algo planejado: “Não teve esse momento de “vou ser jornalista”, foi muito pelo que acabou acontecendo. Mesmo porque, naquela época, não existia tanta influência como existe hoje, a influência vinha muito por ouvir as pessoas falarem, por exemplo, tal pessoa falava que “o pai de fulano é advogado”, ou, então, por exemplos, igual a faculdade de medicina veterinária no interior que me chamava a atenção. Hoje eu vejo isso como sendo muito diferente, com a internet você pode pesquisar qualquer coisa, isso te faz ter muito mais noção, mas por outro lado, te deixa ainda mais em dúvida”.

Sua paixão por esportes, na mesma medida em que influenciou na escolha, também foi uma importante propulsora em sua vida profissional, conta: “Alguns meses depois de eu ter entrado na faculdade, eu encontrei um amigo que estava trabalhando na Band, em um programa semanal de esportes chamado “Show do Esporte” e ele me arrumou um estágio. Ele me abriu uma porta porque, nesse caso, me conhecia desde a época da escola e já sabia a paixão por esportes que eu tinha”. Fato esse que, apesar de tê-lo ajudado muito em relação ao mercado de trabalho, também pesou contra em alguns fatores: “O mais difícil é se manter, ainda mais por eu ter chegado por indicação. Então, você tem que provar que está ali pela sua competência e não somente pela indicação do amigo. Por conta disso, existe uma cobrança sua, em particular, e um olhar diferente por parte das outras pessoas, que pensam “olha lá, ele está aqui por causa do amigo dele”.

Ricardo hoje exerce uma função importante na frente das câmeras, mas nem sempre foi assim. Iniciou sua trajetória como editor e redator e, posteriormente, trabalhou como coordenador de eventos antes de chegar à função de comentarista. Perguntado sobre, disse que não possuía ambição de trabalhar à frente das câmeras: “Eu não entrei na Band, no Show do Esporte, com a missão de aparecer na frente das câmeras, eu entrei como um estagiário interessado em aprender. Mesmo porque sempre fui tímido, então nunca tive essa ambição”. O jornalista acrescenta, ainda, comentando que somente após 17 anos exercendo a profissão, teve a oportunidade de comentar um jogo: “Eu esperei 17 anos trabalhando na profissão para ter a oportunidade de comentar um jogo de basquete. E quando eu fui comentar o meu primeiro jogo, era um áudio, apenas áudio, não tinha câmera, então eu não ia aparecer e eu esperei 17 anos para isso”. Mas esse processo, mesmo que demorado, rendeu, à Ricardo, a ótima oportunidade e experiência de trabalhar tanto atrás, quanto na frente das câmeras: “Eu acho que, o fato de eu ter trabalhado atrás das câmeras me ajudou demais a ter uma visão ampla do evento em que estou trabalhando. Trabalhar atrás das câmeras te possibilita isso, te possibilita entender um pouco de tudo, ter um entendimento geral do que é uma transmissão”, pontua.

“Por isso, tem uma coisa que só os jornalistas que saem de trás das câmeras e vão pra frente, mesmo sendo raros os casos, podem dizer: o respaldo com o pessoal que fica atrás das câmeras. Em uma transmissão, quem leva o crédito é o narrador, o comentarista… mas existe toda uma equipe por trás, fazendo com que aquela transmissão seja possível. Correndo atrás das coisas, pegando, por exemplo, os melhores momentos de um jogo para poder exibir no intervalo, então ambos os lados precisam ser valorizados”, finaliza Bulgarelli.

Em relação ao trabalho de comentaristas esportivos, algo sempre é comentado: a necessidade de se haver imparcialidade. É natural que comentaristas, assim como qualquer outra pessoa, possuam times do coração e que, por vezes, precisam trabalhar em seus jogos. Perguntado sobre como manter o profissionalismo e ser imparcial durante os jogos, foi direto ao responder: “Você tem que ser profissional, independente do time que você está comentando. Seria enganoso ficar “eu não tenho time, não torço pra ninguém”, porque a sinceridade é uma característica essencial e as pessoas tem que ver que eu estou falando bem do Portland — equipe da NBA, para qual Ricardo torce — porque eles estão jogando bem e não porque é o meu time. Tenho que dar a minha opinião, independente de ser a favor ou contra. Essa separação tem que acontecer naturalmente, você tem que esquecer isso na hora”, encerra.

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