Mulheres na Tecnologia: ao longo da história

Luisa Becker dos Santos
7 min readOct 7, 2022

Como já é senso comum, a área de tecnologia é considerada um dos ramos mais presentes na atualidade, mesmo com sua origem a mais de 300 anos atrás. Atualmente, grande parte dos profissionais da área de tecnologia ao redor do mundo são homens, algo que não é novidade, nem na área de tecnologia e nem em nenhuma outra.

O fato de que a grande parte das profissões é dominada pelo sexo masculino se dá pela crença limitante e que ainda se faz presente, de que as mulheres deveriam permanecer em seus lares, cuidando de suas respectivas famílias, enquanto seus maridos iriam para o trabalho e trariam consigo tudo o que fosse necessário para a família.

Primeira turma de formados no curso de Ciência da Computação do IME/USP, em 1974, na qual as mulheres eram a maioria. Fonte: BBC.

Sendo assim, a área de tecnologia não seria diferente certo? Na verdade, não, as mulheres iniciaram na área de tecnologia até que bem cedo, tendo suas primeiras aparições por volta dos anos 1700, quando Nicole-Reine Lepautre estimou a data em que o Cometa Halley voltaria a nossa órbita.

Nicole e seu time trabalharam por cerca de seis meses e sua estimativa era de que o Cometa apareceria no dia 13 de abril de 1759, algo que quase se realizou, porém, o Cometa apareceu realmente no dia 13 de março de 1759, um pouco antes do previsto por Nicole, porém, seu feito fora impressionante para a época e ainda é algo que merece ser mencionado atualmente.

Ao longo dos anos 1800, muitas oportunidades foram sendo criadas nesta área para as mulheres, as universidades e faculdades já ofereciam cursos sobre Ciência da Computação para as mulheres e as oportunidades de emprego deixaram de ser tão escassas.

Infelizmente, nem tudo era tão lindo e belo para as mulheres nesta época, sendo assim, caso alguma delas decidisse por se casar, teria que pedir sua demissão de maneira forçada.

Ainda sobre as mulheres excepcionais presentes nesta área, não podemos deixar de falar sobre Ada Lovelace, considera a primeira programadora, cujas contribuições para a área só acabaram sendo reconhecidas em 1950, quando Baron Bowden (um cientista inglês) citou as anotações de Ada em um de seus trabalhos.

Com a chegada das guerras, as mulheres foram muito solicitadas na área de tecnologia, visto que os homens estavam sendo recrutados para lutarem nas guerras. E assim, com o exemplo de Ada, as mulheres se tornaram maioria no meio de desenvolvimento de softwares.

A seguir alguns exemplos de incríveis mulheres que fazem parte da nossa história, pois sem elas, não seria possível a abrangência e quantidade de mulheres nos ramos de tecnologia.

  1. HEDY LAMARR — 1940

Vinda da família judia, Hedy Lamarr fugiu da Europa em direção aos EUA em meados da segunda guerra. Hedy começou sua carreira em Hollywood como atriz e tentava levar sua mãe aos EUA. Enquanto isso, decidiu tomar para si uma missão de tornar a ofensiva dos Aliados contra o nazismo mais eficaz. Como seu antigo marido era dono de uma fábrica de armas, Hedy sabia que os torpedos tinham os maiores problemas, pois eram imprecisos e suscetíveis à interferência do sinal por navios inimigos. Com isso, junto a George Antheil, desenvolveram um sistema de alternância de sinal de rádio para ser usado em torpedos e despistar radares nazistas. Porém lutaram contra o preconceito de uma invenção de uma mulher, com isso os oficiais não queriam usar seu sistema, porém nos anos 60 a marinha passou a utilizar o sistema. E eventualmente esse sistema desenvolvido por ela se tornou base de várias tecnologias atuais, como o GPS e o wifi, sendo assim considerada a mãe do wifi.

2. GRACE HOPPER — 1940/1950

Primeira mulher formada PhD em matemática e almirante da marinha dos EUA. Grace Hopper foi co-criadora da COBOL (Common Business Oriented Language), a primeira linguagem de programação complexa. Desenvolvida para que fosse possível programar sem tantas características da matemática, a linguagem tornou possível programar em estilo narrativo e por isso passou a ser uma linguagem amplamente utilizada em sistemas comerciais. O que ampliou o uso da computação que antes estava restrito a universidades e órgãos relacionados com segurança. Dentre diversos prêmios, Grace recebeu a primeira edição do prêmio Homem do Ano da associação de gerenciamento de processamento de dados e a Medalha nacional de tecnologia, tornando-se a primeira mulher a recebê-la individualmente.

3. KAREN SPARCK JONES — 1950

Suas principais áreas de pesquisa, desde o final dos anos 50, eram o processamento de linguagem natural e a recuperação de informações. Ela foi uma das criadoras do conceito de “inverso da frequência em documentos”, a base do que hoje são os sistemas de busca e localização de conteúdo e a base de companhias como a Google.

Trata-se de um sistema de recuperação de informações que minera de forma extremamente veloz os dados em um conjunto de documentos. É o que define, de forma básica, se uma página, por exemplo, está falando sobre a influência das mulheres no mundo da tecnologia ou se apenas cita as palavras “mulheres” e “tecnologia”, mas em contextos completamente diferentes. Se dedicou a vida toda à causas de inclusão das mulheres no mundo da tecnologia até seu falecimento, em 2007.

4. FRANCES ALLEN — 1950

A primeira mulher a ganhar o prestigiado prêmio Turing Award e a primeira mulher a trabalhar na IBM, onde Allen trabalhou durante 45 anos, onde esteve no centro de muitos dos avanços da computação e, principalmente, na chegada dessas máquinas às casas das pessoas comuns. É dela, por exemplo, algumas das principais bases de sistemas de otimização de código e paralelização, permitindo que softwares avançados rodem de maneira melhor até mesmo nos computadores mais fracos. Além disso, seu conhecimento em programação a levou a criar alguns dos primeiros sistemas de segurança da NSA, a agência de segurança nacional do governo dos EUA.

5. MARGARET HAMILTON — 1960

Margaret Hamilton, cientista da computação, engenheira de software e empresária. Foi a primeira mulher a se tornar líder da equipe que atuava no projeto Apollo da NASA. Ela desenvolveu o programa de voo usado no projeto Apollo 11, a primeira missão tripulada à Lua e seu software conseguiu impedir que o pouso na Lua fosse abortado. Após trabalhar na Apollo 11, Margaret continuou na área e passou a se dedicar à sua empresa, que oferece serviços de engenharia de sistemas e softwares. Apesar de sua área ser majoritariamente de mulheres na época, Margaret lidou com muito preconceito enquanto trabalhava como líder na equipe Apollo, ela se denominou engenheira de software a fim de ser mais respeitada, já que engenharia de hardware era uma área muito mais respeitada.

6. MARY KENNETH KELLER — 1960

Considerada a primeira mulher a receber um doutorado em ciências da computação. Ela trabalhou em uma oficina de informática da Fundação Nacional de Ciências, um local predominantemente masculino na época, onde participou do desenvolvimento da linguagem de programação BASIC (Código de Instruções Simbólicas de Uso Geral para Iniciantes) , criada com fins didáticos e utilizada por décadas. Ela também foi uma das primeiras vozes pela inclusão e envolvimento das mulheres no ramo da informática. Mary enxergou desde cedo o potencial dos computadores como uma ferramenta educacional e voltada para o desenvolvimento humano e ajudou a fundar uma associação infantil para o uso de computadores na educação. Além de fundar, após seu doutorado, um departamento de ciências da computação na Universidade Clarke e hoje a instituição possui o Centro de Serviços de Computação e Informação Keller e uma bolsa de estudos em Ciência da Computação em sua homenagem.

7. CAROL SHAW — 1980

Considerada a primeira mulher a trabalhar na indústria dos games, ela foi uma das funcionárias originais da Atari, onde programou um jogo da velha 3D. Foi contratada também pela Activision e participou do desenvolvimento de um dos maiores clássicos dos games, River Raid. Ela foi a responsável por criar o primeiro sistema de geração procedural de conteúdo, o que significava que, em River Raid, uma fase nunca era igual à outra. Oponentes, itens e objetos do cenário apareciam de forma aleatória, o que é uma prática que é utilizada até hoje. Em 2017 Carol foi reconhecida como a pioneira na indústria de jogos, quando recebeu o prêmio de ícone da indústria no Game Awards.

8. RADIA PERLMAN — 1980

Radia é conhecida como a mãe da internet. Designer de software e engenheira de redes, ela foi a responsável pela criação do protocolo STP (Protocolo Spanning Tree), ela foi designada a desenvolver um protocolo que permitisse que a internet obtivesse um alcance maior, sem utilizar maior quantidade de memória. Assim, o STP permitiu que mais pontes fossem criadas, carregando pedaços das mensagens que se completariam ao chegar em seu destino. O protocolo de Perlman permite que os dados saibam qual é o caminho mais rápido para chegar ao destino. Caso algo dê errado, ele também permite mensurar qual é o segundo melhor, e assim por diante. Ela também é uma das pioneiras no ensino de programação e arquiteturas de redes para crianças, além de ter sido uma das criadoras do TORTIS, uma linguagem de programação com fins também educacionais, só que de robótica.

9. KATIE BOUMAN — 2010

Katie foi responsável pordesenvolver o algoritmo que auxiliou a equipe de cientistas a construir a primeira imagem dos arredores de um buraco negro. Ela começou a desenvolver seu algoritmo enquanto era estudante de pós-graduação no MIT, lá ela liderou o projeto, auxiliada por uma equipe do laboratório de Ciência da Computação e Inteligência Artificial do MIT. A imagem foi tirada por uma rede de oito telescópios ligados e foi renderizada pelo algoritmo da Katie.

Essas, com certeza, são apenas algumas mulheres da nossa área que marcaram suas épocas e fazem parte da nossa história, mas nós gostaríamos de lembrar e prestigiar todas as mulheres que estão entrando agora na área e ainda vão fazer muita história como esses grandes exemplos que demos hoje.

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