Sporting 1–1 Benfica: gol de falta de Lindelöf salva as Águias de desastre

Luís Francisco Prates
7 min readSep 21, 2018

Publicado originalmente no ESPN FC Brasil, no dia 23 de abril de 2017, às 2h28

O zagueiro sueco Victor Lindelöf deixou seu nome gravado na história do Dérbi dos Dérbis (Isabel Cutileiro/SL Benfica)

O futebol é um esporte dinâmico. Tão dinâmico que nos permite ver o mesmo resultado por diversos ângulos. Nesse sentido, não há melhor exemplo que o empate. Os dois times podem ficar iguais no placar, mas é possível que a ótica de análise seja diferente. Existem empates insossos, aqueles que vêm em jogos sem a menor graça. Há empates com gosto de vitória e com sabor de derrota, a depender das circunstâncias da partida. E os empates que, a longo prazo, podem estar de bom tamanho.

Em qual sentido se enquadraria a igualdade em 1 a 1 entre Sporting e Benfica no Dérbi Eterno jogado neste sábado (22), no Estádio José Alvalade? Certamente é no último sentido. O gol de falta do zagueiro Victor Lindelöf garantiu o pontinho precioso para o lado encarnado da capital portuguesa. O resultado garante o SLB na liderança ao final da rodada. O time da Luz continua a depender das próprias forças para chegar ao tetracampeonato.

O pior que pode acontecer para as Águias nesta rodada é o Porto diminuir a distância de três para um ponto. Mas deve ser dito: a situação poderia ser mais grave. Os portistas certamente esperavam um tropeço benfiquista no dérbi lisboeta, e uma eventual vitória sobre o Feirense neste domingo (23), no Estádio do Dragão, colocaria os Azuis e Brancos no topo caso eles tivessem vencido, em Braga, na jornada passada, o Sporting Braga — ficaram no 1 a 1.

E se o Benfica perdesse?! Correria sério risco de terminar a 30ª rodada, faltando quatro para o desfecho da Primeira Liga, em segundo lugar! E ainda veria o Sporting extremamente motivado por diminuir para cinco pontos uma distância que já foi de 10 pontos.

Embora continue em primeiro, o Sport Lisboa e Benfica não pode relaxar, muito menos perder seu objetivo de vista. “Temos de estar preparados até o fim”, bem frisou o técnico Rui Vitória na coletiva pós-jogo.

90 minutos de êxtase

Isabel Cutileiro/SL Benfica

Sporting e Benfica ficaram iguais em um gol no Estádio José Alvalade

Os Encarnados ficaram em desvantagem logo cedo. O goleiro Ederson cometeu pênalti sobre Bas Dost. Adrien Silva chamou a responsabilidade e converteu. A inauguração do marcador com apenas cinco minutos no relógio foi o cartão de visitas do Dérbi da Capital de número 300. O grito de gol se ouviu do Alvalade até o Dragão.

O tento motivou os donos da casa, que esboçaram uma blitz. Mas, logo de cara, defrontaram-se com a segurança que ditou o ritmo do setor defensivo do Benfica durante todo o jogo. Lá atrás, os comandados de Jorge Jesus se mostravam inabaláveis. Não cederam nem quando os benfiquistas passaram a ter mais posse de bola.

Mesmo com a ausência de chances efetivas de gol durante os primeiros 45 minutos, o dérbi foi intenso do início ao fim.

Cada carrinho, cada roubada de bola e cada passe dado deixavam transparecer uma enorme motivação para buscar o objetivo traçado. Do lado verde e branco, as metas eram frear o rival na luta pelo título e continuar sonhando com a taça. Do lado encarnado, garantir a liderança por mais uma jornada, ficar mais próximo do título e parar um arquirrival extremamente motivado por jogar diante de sua torcida.

Isabel Cutileiro/SL Benfica

Consistência defensiva do Benfica foi determinante para frear o Sporting

A segunda etapa começou com boas chances criadas pelo artilheiro da Liga, o sportinguista Bas Dost: uma cabeçada por cima da meta aos três minutos e um chute pela linha de fundo aos oito. Em ambos os lances, servido por Gelson Fernandes. Autor de 28 gols em 26 jogos, o holandês ficou em branco contra o Benfica.

Do outro lado, Mitroglou obrigou Rui Patrício a fazer brilhante intervenção aos 15 minutos. Nesse instante, o fantasma do 1 a 0 de março de 2016 assombrou os Leões.

O empate do Glorioso saiu aos 20 minutos, em uma cobrança de falta magistral de Victor Lindelôf. Dessa vez, não deu para Rui Patrício.

Feito o 1 a 1, o time de Rui Vitória explorou mais o campo de ataque. Mas desperdiçou diversas jogadas com potencial para serem efetivas. Erros que arrancaram os cabelos de muitos adeptos.

Para dar mais mobilidade ao setor ofensivo, entrou Carrillo no lugar do (sempre) inerte Salvio. Fejsa e Pizzi protegiam a cabeça de área, Cervi e Carrillo funcionavam como válvulas de escape, Mitroglou e Raúl Jimenez (que substituiu o surpreendentemente apagado Rafa Silva no decorrer do embate) estavam prontos para serem acionados.

Isabel Cutileiro/SL Benfica

“Fortes, vivos, unidos e líderes”, publicou o SL Benfica nas redes após o empate no Dérbi, que manteve os Encarnados na liderança da I Liga

Mais tarde, o grego saiu para a entrada do jovem volante brasileiro Filipe Augusto, a típica substituição feita para “fechar a casinha”. A não ser que tenha sido por esgotamento físico, não é arriscado tirar do jogo quem pode decidi-lo a qualquer momento?

Fez falta o camisa 10, Jonas. Ele, capaz de desequilibrar qualquer partida para o SLB, nem no banco de reservas esteve. O desconforto muscular sentido na vitória sobre o Marítimo foi sério.

Na defesa, a segurança prevalecia, apesar de muitas unhas terem sido perdidas em cada bola do Sporting alçada à área. A segurança transmitida entre todos os integrantes do setor — do goleiro Ederson, passando pelos defensores centrais Luisão e Lindelôf e chegando até os laterais Nélson Semedo e Grimaldo — foi determinante para evitar a felicidade leonina e manter o SCP longe do título. Com o empate, a distância continua em oito pontos. E restam 12 por disputar.

A próxima parada: Estádio da Luz, sábado (29), contra o Estoril. Todos os caminhos levarão os adeptos gloriosos ao seu santuário.

A emblemática história por trás do gol do Benfica no Dérbi

Isabel Cutileiro/SL Benfica

O empate no dérbi lisboeta saiu dos pés de Lindelôf

O zagueiro sueco Victor Lindelöf veio ao Benfica em dezembro de 2011, depois de levar o modesto Västeräs à segunda divisão de seu país. Olha onde foram arrumar um jogador!

Foi promovido ao escrete principal em 2013. Logo ganhou sua vaga entre os titulares por se mostrar muito maduro para a sua idade e, além do mais, para uma posição a qual exige frieza e movimentos bem calculados para proteger seu patrimônio. Em 2015, conquistou a Eurocopa Sub-21 com a Suécia, geração esta que está se esforçando para levar a nação nórdica de volta a uma Copa do Mundo — a última participação aconteceu em 2006, na Alemanha — sem a maior estrela nacional, Zlatan Ibrahimovic.

Lindelôf fez parte da atual sequência de três títulos dos Encarnados. Esteve no elenco principal em 2014 e 2016. Em 2015, foi aproveitado no time B.

Agora, deixou sua história no maior duelo do futebol português. E espera comemorar mais um título em Lisboa.

O técnico Rui Vitória não economizou elogios a Lindelöf após o jogo. “É evidente que nenhum jogador vai lá (cobrar faltas) se não tiver capacidade ou só porque tem fé. Vai porque trabalha”, disse na conferência de imprensa, revelando que o defensor treina cobranças de falta nos trabalhos com a equipe. “O Victor ainda não tinha tido a oportunidade, mas ele cobra faltas de forma fantástica”, pontuou o comandante.

Rui Vitória e Jorge Jesus se cumprimentaram?

Isabel Cutileiro/SL Benfica

A rivalidade particular entre os técnicos de Benfica e Sporting só aumenta

A disputa particular entre os técnicos Rui Vitória e Jorge Jesus ganhou mais um capítulo. Em nossa prévia do Dérbi, revelamos que JJ deixou em aberto se cumprimentaria o oponente depois do apito final.

Segundo o portal português Mais Futebol, o cumprimento não aconteceu. E, ao ser questionado sobre esse assunto na coletiva, o treinador sportinguista se mostrou profundamente incomodado. O futebol é futebol. Todos nós temos que evoluir. Eu, enquanto treinador, e vocês, como agentes do futebol. Isso interessa para alguma coisa? Siga em frente”, disparou.

Perguntado se um gesto de confraternização entre os técnicos seria simbólico em meio às lamentações em torno da morte de um torcedor nas proximidades do Esrádio da Luz, Jorge Jesus foi enfático: “Cumprimentar um treinador não vai trazer a pacificação ao futebol”.

Em relação ao triste episódio, as informações ainda são desencontradas. De início, os veículos de comunicação portugueses noticiaram que o adepto o qual veio a óbito neste sábado (22) era sportinguista. Depois, veio à tona a informação de que se tratava de um italiano torcedor da Fiorentina que acompanhava torcedores do Sporting. O que se sabe até o momento é a causa da morte: atropelamento. O Benfica lamentou o ocorrido e informou estar colaborando com as autoridades nas investigações.

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Luís Francisco Prates

Eterno aprendiz da vida. Cristão católico, pernambucano, jornalista e especialista em Ciência Política. “Ame o futebol e odeie o fascismo.”