O ciclo vicioso fora das quatro linhas

Luis Felipe Zaguini
3 min readAug 7, 2016

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Finalmente se concretizou. Paul Pogba, agora ex-Juventus, retorna ao Manchester United numa transação de valor recorde de mais de 100 milhões de libras. A mais cara da história do futebol mundial.

Eu não sei vocês, mas essa quebra de recorde de transferência mais cara da história do futebol tende a quebrar com mais frequência. Qualquer pessoa que entenda o significado da palavra “inflação” sabe disso.

Não será excepcional ver times de ponta pagando 40, 50 milhões de euros ou libras por Andy Carrolls da vida. Pelo contrário, é o mais comum e isso já vem acontecendo. Um exemplo: Pedro, do Barcelona para o Chelsea por 25 milhões de euros. Nunca que ele vale isso, e nem de longe correspondeu em campo ao valor gasto.

Outro exemplo: Christian Benteke, 32.5 milhões de libras jogados no lixo. É um bom jogador? É claro que é. Justifica o hype pela contratação? Sim, ele era um dos poucos jogadores que salvavam o elenco do Aston Villa de um vexame ainda maior. O preço é certo? Não, nem de longe. Um jogador do Aston Villa, que não foi nem artilheiro do campeonato, valendo 32 milhões e meio de libras? Isso é loucura.

E nem me faça falar da transferência de Fernando Torres em 2011: 50 milhões de libras. Não creio que esse tenha sido o estopim para a superinflação financeira do futebol, mas foi um dos pontos que alavancaram a mudança.

Agora, quanto valeria um Zidane hoje? Um Romário? Se pagamos uma 44 milhões por Raheem Sterling, 70 e poucos milhões por um De Bruyne da vida, 94 milhões por Gonzalo Higuaín, que sempre some nos momentos importantes, mais de 100 milhões por um Pogba, que ainda não convenceu a mim e a muita gente, quanto vale um Didier Drogba?

Isso é ruim. Isso é ruim não só para o futebol, mas para a economia também, e, por incrível que pareça, é pior ainda para o torcedor. Os clubes agora tem uma desculpa para subir o preço do ingresso a valores inalcançáveis para a grande massa, que queiram ou não, é quem faz o clube funcionar.

A ganância é algo terrível. Voltando ao exemplo do Pedro, que custou 25 milhões de euros e não rendeu absolutamente nada, compare com Ivan Rakitic, do Barça. O croata-suíço custou 18 milhões aos cofres blaugranos, e é um dos pilares da equipe de Luiz Enrique — inclusive fez gol em final de Champions League tendo como seu adversário o próprio Paul Pogba.

Uma reforma no modelo de negócio do futebol é de urgência altíssima. Qual seria a maneira de forçar isso? Um tipo de “teto” para contratação e salários? Um limite de valor total de transferências somadas? Não cabe a mim, mas já aproveitando a deixa, vale uma palavra de Juan Mata, que certamente não se encaixa na definição de jogador de futebol super star e até criticou a postura dos clubes de oferecer rios de dinheiros em transferências e salários:

“Futebol é muito bem remunerado neste nível. É como se vivêssemos em uma bolha. Comparado ao resto da sociedade, ganhamos uma quantia ridícula. É imensurável. No que diz respeito ao mundo do futebol, ganho um salário normal. Mas comparado a 99,9 por cento da Espanha e do resto do mundo, ganho uma quantia estúpida. Entendo o que estão falando. O lado comercial do futebol faz parecer que os donos agora são mais importantes que os fãs”

“Todo jogador pensa que é Diego Maradona quando entra em um grande clube. Acontece com todos nós, mas você nota isto em jogadores jovens”, disse. “Você vê jovens que pensam que são estrelas do rock; usando roupas extravagantes e dirigindo carros rápidos… as vezes você tem que chamá-los para um canto e conversar”.

Pune mais, Matinha! Saudades de você no Chelsea, inclusive…

A solução é não sair jogando dinheiro para os ares e ter mais consciência nos gastos. Ver futebol, não nome, não mídia. Os clubes pequenos fazem isso, por que os clubes grandes não conseguem? Não me parece impossível ter senso do ridículo antes de torrar grana em jogadores de qualidade duvidosa (física, técnica ou mentalmente).

Seria esse o começo da morte do menino futebol como conhecemos? Estamos alimentando um monstro. Isso precisa parar, o mais cedo possível. O dinheiro não pode se tornar mais importante que a torcida. É hora de “desviciar”.

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