Palácio do Lirismo

Luis Mauro Queiroz Filho
2 min readMar 14, 2018

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Aconteceu, então, dele se encastelar neste quarto. Um quarto que é um dos diversos quartos do palácio do lirismo. Tão bem e tão frequentado pelos grandes poetas de todos os tempos.

Ele é vasto e revestido em mármore. Há a vista de uma janela ampla, que dá para um enorme campo, coberto por vazio.

Além de cama e janela, só papel e caneta. Os únicos artefatos que entram no palácio do lirismo.

E lá de longe se vê. É ela — a grande comitiva do amor.

Ah, ela vem por aí. Que bela. Estandartes, som, música e cor.

Ela vem colorindo o campo aberto com nova vida.

Os passarinhos logo a rodeiam. Eles brincam no ar, trazem flores em seus estreitos biquinhos.

Os alicerces do palácio do lirismo chegam a vibrar com tamanha emoção.

Vinham com a imponência de quem declara guerra. Uma declaração de guerra feliz.

Mas o que é aquilo que vêm do leste?

O vento passa a bater mais forte. As copas das árvores se espantam.

Os passarinhos, felizes outrora, se recolhem aos ninhos.

É uma tempestade.

De repente um aguaçal toma a comitiva. De repente.

Não havia para aonde correr. Lembre-se que aquele enorme campo era coberto por vazio.

Percebeu-se então que todas as cores eram feitas de guache.

E todos os instrumentos de papel.

Não mais música nem cor.

Buscou por uma porta. Era preciso ao menos tentar recuperar um instante de cor e som. Não havia mais porta.

Deitou-se, como quem procura no sonho a resposta.

E quando dormiu, acordou.

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