Como foi meu intercâmbio e estágio em Data Science na IBM Canadá — Cognitive Class — Parte I

Um Prólogo sobre como migrei minha carreira de Mecânica Aeronáutica para Data Science

Luis Otávio Martins
Data Hackers
8 min readMar 31, 2018

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Neste post inicial, irei focar na experiência do intercâmbio e o que me levou a mudar de carreira. Dedicarei um post exclusivo para meu estágio aqui.

Muito se fala em Ciência de Dados e pode parecer que a área é para todo mundo. Bom, não quero criar essa ilusão em ninguém. Pelo contrário, da mesma forma que eu não aconselharia Medicina ou Engenharia para quem procura dinheiro, não recomendaria Data Science para quem procura status ou uma “carreira sexy. Reconheço que pode ser uma carreira com uma probabilidade alta de retorno financeiro, mas exige muita dedicação em troca e um perfil analítico que algumas pessoas simplesmente não tem. Duvida? Tenho um amigo que fica com dor de cabeça ao calcular o troco.

Dito isso, vou começar com uma breve contextualização do porquê ter ido para o Canadá.

Voltando um pouco no tempo!

Lá estava eu em 2014 trabalhando em uma empresa na área de aeronáutica como projetista de estruturas fixas. Meu trabalho era bem interessante para quem é da mecânica: projeto de peças em compósito, mais especificamente, fibra de carbono. Esse tipo de material é utilizado na Fórmula 1 e aparentemente no Kadett tunado do seu vizinho que foi enganado e instalou um aerofólio de fibra de vidro (que não funciona).

Embraer: um dos expoentes mundiais em aeronáutica

Era aparente que minha carreira já era sólida e com boas perspectivas de futuro. Na época meu sonho era acumular experiência e quem sabe trabalhar na RBR — Red Bull Racing ou em veículos conceito na Renault. Apesar de tudo estar aparentemente alinhado, algo me incomodava profundamente naquela situação.

O programa Ciência sem Fronteiras já estava no auge e isso significava competir com a Geração CsF:

· Experiência internacional;

· Exposição a diferentes culturas e mindsets (mentalidades)

· Inglês fluente (não necessariamente verdade, como descobri mais tarde).

Um pequeno adendo: logo após pedir demissão e me inscrever no edital do CsF o programa foi cancelado. Portanto eu fiz parte do último edital. Quase…

1. Experiência Internacional

Isso me leva ao meu primeiro item neste post: viver fora. Para se ter uma experiência no exterior que te catapulte para o próximo nível é necessário um ótimo local, portanto o primeiro passo seria escolher para onde ir. Ao contrário de muitas pessoas que viajaram pelo CsF, fiz uma promessa de não viajar para fora da minha cidade de escolha, pois estava assumindo um enorme risco com essa guinada na carreira. Meu objetivo era quase uma obsessão, sugar tudo que o governo pudesse me oferecer, ao máximo. Afinal, era uma chance única que as próximas gerações talvez duvidassem.

Comecei pela escolha do país: Canadá. Relativamente fácil, pois não tenho vontade de viver nos EUA e não me identifico com o sotaque da Austrália ou Inglaterra. Depois de ter escolhido o país, escolhi a cidade: Toronto, a capital financeira do Canadá. A cidade mais multicultural do mundo. Se era para vivenciar diferentes culturas e abrir a cabeça, era para lá mesmo que eu deveria ir.

Toronto

Sobre minha promessa de não viajar, foi algo que causou até muita raiva e perplexidade em algumas pessoas. Disseram que eu estava sendo radical demais. Hoje, não me arrependo de nenhuma vírgula do que fiz, já que minha vida profissional e pessoal mudou completamente de rumo. Além de um rumo diferente, um rumo para melhor, como irei descrever.

P.S.: acabei quebrando minha promessa duas vezes: uma para viajar para Wonderland devido a um bônus da IBM e outra para viajar à uma ilha de um amigo. Toda regra tem sua exceção…

P.S.2: por incrível que pareça um dos principais fatores que contribuiu para meu foco nos estudos e trabalho foi o meu namoro à distância que sobreviveu a um ano de Canadá. Pretendo escrever mais sobre essa experiência aqui para ajudar casais que estejam passando por essa dúvida.

Eu e Rafael no Wonderland, apesar de ele estar mais parecendo alguma versão do Michael Jackson. Fonte: acervo pessoal.

2. Inglês avançado ou fluente?

Para fechar a primeira parte do post sobre o que me levou a decidir estudar no exterior, gostaria de deixar claro que anos de CCAA (ou qualquer outra escola de inglês) não vão te salvar. Eu particularmente nunca fiz aulas de inglês, acabei aprendendo “na marra”. Ao contrário do que ouço por aí, não recomendo de forma alguma ser autodidata em inglês. Se você tem orçamento para aprender de forma estruturada e viajar, o faça. No entanto, para certas pessoas o tempo ou o dinheiro é um limitante e pode ser que os métodos tradicionais de ensino de uma língua estrangeira não ajudem. Fui para o Canadá com 102 de 120 no TOEFL iBT e mesmo assim apanhei horrores. Primeiramente, porque você acha que fala bem e que todo mundo entende. Infelizmente às vezes é preciso alguns micos e “vergonhas alheias” lá fora para você entender que seu inglês não é tão bom quanto você imagina ou como sua mãe pensa. Segundo, porque falar em frente às câmeras, em uma apresentação da universidade, dando aulas de forró (sim, foi um experiência incrível ensinar canadenses nossa cultura) ou em uma competição/hackathon é algo completamente diferente. Normalmente você tem feedback e a mimica para auxílio em conversas 1:1 (F2F, Face to Face). Mais aqui.

3. Formando parcerias

Assim que cheguei no Canadá conheci um Brasileiro que se chama Rafael Belo, o Michael da foto anterior rsrs. Já que nós somos engenheiros (eu mecânico e ele químico), os interesses comuns eram muitos e formamos uma amizade produtiva em pouco tempo. Produtiva, porque foi essa amizade que rendeu muitos projetos paralelos, meetups e por fim nosso estágio ao final dos dois terms (semestres) da faculdade.

Aí vem outra lição: não fuja de brasileiros como o diabo foge da cruz. Muito menos faça o contrário, morando e se cercando de brasileiros. Eu morei com uma família canadense e isso me custou uma hora e meia para chegar na faculdade todos os dias. Tente achar o equilíbrio entre viver 24hrs falando português (não vivenciando a cultura de outro país) e o outro extremo que é somente se interessar por gringos, se tornando um brasileiro detestável que repudia sua própria cultura.

Rafael já tinha experiência na época com Aprendizado de Máquina, após mais de um ano estudando redes neurais para prever reproduções anômalas de algas em lagos. O interessante é que meu primeiro contato com Data Science foi através de Machine Learning (Aprendizado de máquina). Até meu estágio na IBM, meu interesse principal era pura e simplesmente em algoritmos de aprendizado supervisionado e não supervisionado. Para quem tem dúvida entre as nuances entre Data Science e Machine Learning, dê uma olhada na minha resposta no quora.com (ainda sem tradução, em breve em português)

4. CsF — Ciência ou Balada sem Fronteiras?

A maioria da pessoas que converso tem a seguinte impressão do Ciência sem Fronteiras:

Parteeeeeyyy without Borders!! Photo by Elena de Soto on Unsplash

No meu caso, no entanto, as melhores imagens seriam relacionadas a:

· um porão (se tiverem escolha, não morem em um basement, nunca. Mais aqui ),

· noites programando

· estudo, muito estudo.

[Spoiler] Um dia no estágio onde todos estavam concentrados. O mais usual seria escutar alguns cliques de um cara que jogava CS freneticamente, conversas com uma mistura de inglês-português e uns 7 dialetos da Índia (reparem no DataCamp aberto, meu grande amigo).

Fonte: acervo pessoal.

5. Faculdade importa? Mais aqui

Tento não entrar na onda dos gênios digitais frustrados à la Zuckerberg. Para começar, sem faculdade eu nem teria sentado para conversar com um gestor da IBM. Por outro lado, a IBM em 2017 anunciou oficialmente que não procuraria mais necessariamente um 4-year college degree (ou seja, nosso bacharel no Brasil de 5 anos). O perigo disso é que se retirado do contexto, torna-se prato cheio para a galerinha jovem que não quer nada com a dureza.

Cursar uma faculdade não é uma tarefa fácil se você tem que se sustentar trabalhando desde o primeiro período (como foi meu caso) e abandonar o curso sempre passa pela cabeça das pessoas que não tem o privilégio dourado de somente se preocupar com estudo e notas. Tudo isso torna muito tentador ouvir conselhos de pessoas de sucesso sobre como a faculdade não é importante e como você pode se sair bem melhor sem ela. Bom, no mínimo seria tentar a sorte. Estatisticamente, se você analisar os casos mais famosos, como o de Bill Gates, Steve Jobs e Mark Zuckeberg, vai achar uma dificuldade inicial simples: continuar identificando casos de extremo sucesso com a mesma formação acadêmica. Diga-se de passagem, Elon Musk é físico, Larry Page é cientista da computação e muitos outros casos de igual sucesso possuem uma formação acadêmica mínima. Para aqueles que insistem em levantar a bandeira anarquista de não existir necessidade para faculdade, é muito simples, como deixa claro Elon Musk nesse vídeo:

Elon Musk — Mais conhecido como “O cara”

Em um primeiro momento, para um ouvinte mais desatento, pode parecer que Elon Musk não está nem aí para diplomas, até mesmo pelo título do vídeo.

Isso é exatamente o que algumas pessoas na internet querem que seja propagado. A questão é que ele deixa bem claro em seguida, sobre “exceptional abilities”. Ou seja, da mesma forma que a nova política de contratação da IBM, Elon Musk fala sobre resultados excepcionais comparados com um diploma tradicional.

Então, se você foi o responsável pela criação de uma library como o React.js, ganhou 5 competições de programação internacionais e aprendeu a falar 7 idiomas antes dos 10 anos, muito provavelmente não irá precisar se preocupar com faculdade.

Tirando o exagero sarcástico, a nova onda de recursos humanos (ou seria Human Capital?) não prega a formação acadêmica tradicional, mas uma formação justificada por resultados/certificações que demonstrem resultados equivalentes.

Resumindo a minha opinião: Cientistas de Dados de renome possuem uma formação acadêmica notável e a vontade de não perseguir uma formação sólida pode indicar outras opções: Analista de negócios, Engenheiro de Dados, Citizen Data Scientist e outros.

Recapitulando:

1. Chegue no exterior e faça amigos, de preferência estrangeiros, mas não rejeite brasileiros.

2. Foque no inglês, o máximo que você melhorar ainda é pouco se comparado com um nativo.

3. Ache um parceiro. Uma pessoa que compartilhe das mesmas ideias e que vai te ajudar a não desistir e a quem você também ajudará a continuar firme. Se integre à comunidade atráves de meetups, workshops, hackathons e bootcamps

4. Foco. Faça intercâmbio ou uma imersão com foco. 3 meses, 6 meses,1 ano podem passar mais rápido do que você imagina.

5. Saiba dos requisitos existentes para a oportunidade que você procura lá fora. Pedem bacharel, certificação, work permit, visto específico?

Bem… este foi o prólogo para introduzir o começo da minha guinada na carreira. Curtiu o post? Vá para a parte II pra ver como realmente foi meu estágio lá na IBM Canadá! Não se esqueça de compartilhar e assinar o Data Hackers!

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Luis Otávio Martins
Data Hackers

From Aeronautics to Data Science & Machine Learning. See my updated activity at: bit.ly/luisotsm-linkedin (pls, don’t add me on fb)