Por que fazer parte de coletivos de escrita?
A jornada de escritor pode ser bastante solitária
Escrever é um trabalho que exige muita dedicação. Muito esforço. Muita leitura, muita prática, muita tentativa e erro. Investimos incontáveis horas na criação de histórias, personagens, mundos, na construção de poemas, versos, rimas, crônicas e muito mais. É um trabalho de fôlego. E de profundidade, como diz Aline Valek. Quando escrevemos, precisamos mergulhar fundo em nós mesmos para trazer à tona o que temos de mais precioso. Não raro afundamos na lama no processo.
Mas todo esse processo, além de desgastante, pode ser muito solitário. Até que nossas palavras ganhem o mundo em uma publicação, seja em forma de livro ou de post na rede social, não temos como saber se o que escrevemos vai ressoar em outras pessoas. Se elas vão gostar, se identificar, e querer ler mais do nosso trabalho. Nos sentimos no escuro.
Desde que comecei a publicar meus escritos, senti falta de trocar experiências com outros autores e receber um retorno mais crítico sobre a minha escrita que fosse além de uma carta de rejeição — o famoso “não foi dessa vez”.
Por isso, contar com a leitura atenta e honesta de outros escritores é fundamental. O feedback de pessoas que, assim como nós, estão investidas no ofício da escrita, pode nos ajudar a lapidar a palavra bruta para que encontremos o ouro em nossos escritos. Para além desse retorno valioso, também podemos compartilhar angústias, vitórias e aprendizados sobre o fazer literário. Mas nem todo mundo tem outros escritores no seu círculo de amizades. E é aí que entram os coletivos.
Coletivos de escritores são exatamente isso: um conjunto de pessoas reunidas em torno de um interesse comum, a escrita. Esses coletivos podem ter encontros presenciais ou online, podem ser organizados em torno de temas, gêneros literários ou pautas sociais. Podem ter publicações e atividades próprias ou ser apenas um grupo de pessoas que se reúne para bater papo sobre literatura e trocar experiências.
Hoje faço parte de dois coletivos: um de poetas, a Fazia Poesia, que reúne os poemas de seus participantes em uma publicação digital hospedada no Medium; e outro de mulheres escritoras, o Coletivo Escreviventes. Ambos reúnem gente do Brasil inteiro, têm a internet como base e usam as redes sociais para divulgação das obras de seus participantes e grupos de mensagem para a troca de ideias. Também promovem oficinas e outras atividades ligadas à escrita e organizam coletâneas para publicação independente.
Na Fazia Poesia, os integrantes podem submeter quantos poemas quiserem para publicação no portal. Periodicamente, a equipe editorial faz a curadoria de poemas-destaque do mês e organiza coletâneas com seleções de textos de um mesmo poeta. Tive a honra de ter um poema meu destacado em outubro.
Já o Coletivo Escreviventes tem uma proposta diferente. A cada mês, é sugerida uma provocação, um tema e uma orientação de formato (prosa/verso) para nos inspirar a escrever. Compartilhamos os textos em uma pasta na nuvem e somos convidadas a ler e comentar os trabalhos de cada autora. Ao final, votamos nos melhores textos de cada ciclo, que são publicados no perfil do Instagram do coletivo e algumas vezes enviados para revistas parceiras, como Cassandra e Contos de Samsara. Poder trocar impressões e ler os trabalhos de mulheres tão plurais em primeira mão tem sido uma experiência valiosíssima.
Fazer parte de coletivos de escrita nos proporciona oportunidades únicas
É graças ao Coletivo Escreviventes que vou participar da Festa Literária Internacional de Paraty de 2022 — pela primeira vez como autora. Por causa dos esforços da fundadora Carla Guerson de inscrever o coletivo e mobilizar o grupo atrás de participantes em um prazo apertadíssimo, seremos 19 mulheres representando o Coletivo Escreviventes na Flip. Lá, vamos ouvir e falar sobre literatura, publicação independente, mercado editorial, publicação artesanal, e, claro, vender nossos livros. Me sinto honrada de fazer parte desse grupo.
Descobrir os coletivos de escrita tem sido uma experiência enriquecedora. Poder trocar experiências com outros escritores, que assim como eu, estão tateando no escuro no fazer literário, aprimorando suas artes e cavando seus espaços na literatura. Quando fazemos parte de um coletivo, somos parte de alguma coisa. É como se uma luz se acendesse e conseguíssemos enxergar que, nessa jornada literária e muitas vezes solitária, não estamos assim tão sós.
A Flip 2022 acontece de 23 a 27 de novembro em Paraty-RJ. Dê um alô para as mulheres do Coletivo Escreviventes na Praça Aberta (Areal do Pontal) para conhecer nossos livros e saber mais sobre as nossas atividades literárias. Siga @coletivoescreviventes e @lulumilk no Instagram para acompanhar a nossa participação na Flip 2022.
Se você escreve poesia e quer fazer parte de um coletivo, a Fazia Poesia está com chamada aberta para novos integrantes da equipe de poetas. Leia o edital e, caso tenha interesse, envie sua inscrição até 2 de dezembro de 2022.