Contra o desmonte da Universidade pública
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro sempre foi a minha casa. Meus pais se conheceram no curso de Física na UERJ nos anos 70 e dão aula na universidade desde que terminaram seus estudos. Eu também passei a vida na universidade: estudei no Colégio de Aplicação da UERJ — inclusive nos anos em que o colégio estava sem sede e tivemos que ocupar o sexto andar do campus principal.
Muitas das oportunidades e privilégios que tive na vida só foram possíveis por causa da UERJ. Fiz meu mestrado na Universidade de Artes de Bremen e agora estou terminando meu doutorado na Universidade de Artes de Berlin, Alemanha; meu trabalho é, até hoje, influenciado por tudo que vi, ouvi e vivi na Universidade e no CAp. Minha família toda também inúmeras vezes recorreu ao atendimento médico do Hospital Universitário Pedro Ernesto. Meu entendimento de pesquisa e pedagogia, enquanto acadêmica e professora, foi e continua sendo formado por estas experiências. Minha consciência política foi formada no colégio e na universidade, que nos mostraram desde sempre a importância da mobilização para garantir os direitos de todos. Ainda adolescente eu participava de protestos que a comunidade universitária organizava, exigindo melhores salários, melhores condições de estudo e mais verbas para a educação.
Ver o desmonte criminoso e proposital da universidade que formou a mim e a tantas outras pessoas é desesperador. Não deveria indignar só a nós que crescemos na UERJ: isto é um problema de todos. O ensino gratuito e de qualidade oferecido pelo CAp e pela UERJ é fundamental para a formação de profissionais — pesquisadores, acadêmicos, professores, administradores, artistas, cidadãos — que contribuam para uma sociedade mais justa; para que se criem espaços para diálogos críticos sobre os caminhos da comunidade, da cidade e do país; para que, enfim, se criem caminhos para uma sociedade mais justa e igualitária. Sem a base de educação — um direito imprescindível de todo ser humano! — que instituições como a UERJ oferecem, avançar fica muito, muito mais difícil.
O desmonte da UERJ é, infelizmente, apenas o primeiro passo rumo a uma privatização do ensino público. Não faltam recursos para o ensino público: a calamidade que afeta a UERJ não é um acaso, nem um artefato da má administração do dinheiro público. É proposital; faz parte do projeto neoliberal do (des)governo do PMDB, que comanda o estado desde o fim da primeira década dos anos 2000. Este projeto se desenrola também na esfera federal, com o (des)governo ilegítimo de Michel Temer sucessivamente cortando verbas para educação e saúde.
Por conta disto tudo, nossa única opção é resistir, através de todos os meios possíveis. Precisamos chamar atenção da cidade, do estado, do país; precisamos protestar, ir para a frente do Palácio Guanabara, confrontar os criminosos que estão roubando a educação e o futuro da população. Não existe diálogo com um governo que está determinado a passar por cima dos nossos interesses; só existe pressão, luta e resistência.
Com este texto quero convidar outras pessoas que tenham suas histórias com a UERJ — que tenham estudado na universidade ou no colégio, que tenham sido atendidas no hospital — se manifestem. Precisamos continuar nos organizando; claramente não há espaço para negociação com um governo determinado a deixar o ensino público morrer de inanição, para então usar isto como justificativa para a sua privatização.
Enviem suas histórias e seus comentários; vou atualizar este texto nos próximos dias com as histórias de alunos, funcionários e amigos da universidade. Vamos manter a UERJ viva.
Assinado,
Luiza Prado de O. Martins