O sandbox furioso de Savage Worlds

Lux D'Arc
4 min readJan 31, 2022

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Atualmente estou em uma “saga” pessoal de conhecer novos sistemas de rpg, para poder adaptar algumas ideias novas que venho tendo, e aumentar o repertório de jogos para narrar. Por isso acabei esbarrando, e amando, Savage Worlds (Agradeço ao Álvaro Silva — do Contos Lúdicos — por ter me apresentado o sistema, e ao Thiago Escobar — do Falha Final — por ter me comprado o Edição aventura e o Compêndio de Horror)

Savage Worlds Edição Aventura — a qual chamarei de SWADE a maior parte do tempo — é um sistema de RPG simples e extremamente honesto em sua proposta. Não é para “adaptar tudo que quiser”, é para contar histórias perigosas, tragicômicas, dinâmicas e… rápidas, que por acaso, serve para a maioria das ambientações. Seu lema “rápido, selvagem e furioso” exprime muito bem para o que veio.

Explicando de forma rápida, é um RPG genérico, focado em aventura e exploração, com um nível de periculosidade alto. Suas perícias e atributos não são os modificadores comuns, aqui usamos os próprios dados, indo de 1d4 até no máximo 1d12+2 — em casos específicos. Para ser bem sucedido em um teste, precisa-se passar de um limiar, normalmente sendo o resultado 4 de um dado (mas podendo variar ao atacar alguma criatura, por exemplo, precisando passar de sua defesa). Não tendo classes e kits pré definidos, mas aberto na utilização de vantagens e complicações.

O que mais me chamou atenção no sistema foi sua abertura para novas ideias, sem a necessidade de criar homebrews. O próprio livro já te ensina a como criar novas “raças”, além das prontas. E mesmo apresentando alguns arquétipos sobre “coisas que normalmente um suporte/defensor/atacante teria”, não é necessário se guiar em cima deles. Outro ponto muito positivo são suas regras de jogo. Em suma, existem duas regras, além da criação de personagens, sendo: Como fazer rolagens de atributos e perícias, e Como encenar combates. Todo o “sobressalente” do livro são ideias, como se escolher em um grande catálogo, para o que interage melhor na sua jogatina.

É muito fácil criar seu próprio mundo apenas com o livro básico, sem nenhum compêndio. E aqui o sistema também brilha. Mesmo eu utilizando o suplemento de terror para um projeto futuro, tenho total certeza que sem ele, já conseguiria criar algo bem consistente apenas com as regras de Medo, Choque de Retorno e Combate Criativo. Valorizo muito sistemas que me dão todo o necessário com apenas uma compra, sendo os suplementos realmente extras e não necessidades. É, sem sombra de dúvidas, algo que eu indicaria para quem está tendo seu primeiro contato com o hobby e busca um jogo rápido e dinâmico.

Contudo, não é um sistema perfeito, e nem acredito que seja um problema. Afinal, sua proposta é outra. Mas não vejo sendo bem aproveitado narrando cenários e ambientações muito específicas e já “tradicionais”. A velha jogatina de “espadas e feitiços” acredito não se desenvolver bem nele — mas com a chegada de Golarion para o sistema, talvez isso mude. O terror de seres da noite como Vampiro, a Máscara também não combina tanto com os moldes. Mas aquele horror sujo, próximo do slasher ou um terror psicológico é uma boa alternativa com Savage.

Outra coisa que, em minha opinião, ficou a desejar, é o seu sistema de poderes. Aqui, para ser conjurador, precisa ter a vantagem correspondente. Cada vantagem te dá uma quantidade de “efeitos” que se pode usar inicialmente, e você pode ganhar mais com os pontos de progresso — semelhantes ao xp de outros rpgs. Entendo que isso serve para o balanceamento do jogo, mas a conjuração fica tão limitada, que me desagrada. E além disso, é necessária uma rolagem de ativação, caso falhe, o poder não será ativado, haverá um choque de retorno e ainda perderá o recurso de “pontos de poder”. Mas como dito anteriormente, a proposta do jogo é ser “selvagem, rápida e furiosa”, e sendo “magia” um elemento que pode resolver problemas facilmente, é muito justa deixá-la mais limitada — e tenho certeza que algum compêndio deve modificar um pouco suas regras.

Em contrapartida, existe um ponto muito interessante em sua conjuração. SWADE te dá apenas os efeitos possíveis, agora, como fazer, sua skin, e manifestações, fica a cargo da pessoa jogadora. Possuindo até mesmo “modificadores” que ampliam esses poderes. E particularmente, amo quando um sistema de magia permite customização fora de sua lista pré programada — gosto ainda mais quando não possui uma lista, mas vejo como necessária para a maioria das vezes.

Como saldo final, Savage Worlds é um sistema incrível! Tanto como introdução para novas jogadoras, como ferramenta de criação de mundos, o jogo me agrada. Além disso, é um sistema relativamente barato em comparação aos atuais do mercado, o tornando bem acessível. Ele também possui suporte no país, com seus Compêndios lançados em português tanto físico quanto digital (os pdfs dos compêndios estão na faixa de R$15,00!!!!). No site da Retropunk você pode conhecer mais sobre o sistema e na twitch, de canais como Contos Lúdicos e Mar de Contos, podem encontrar jogatinas para entender como funciona na prática. Fica minha recomendação tanto do sistema quanto dos canais. Quero muito ver mais conteúdos de SWADE explodindo por aí!!

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Lux D'Arc

Lux D’Arc, escritora de fantasia urbana, terror gótico e produtora de conteúdo para RPG