15 de Maio, o Tsunami da Educação

Moacir Antonelli Ponti
5 min readMay 17, 2019

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O dia em que as Escolas, Institutos e Universidades foram pra rua.

*Essa é uma iniciativa individual, as opiniões aqui descritas não refletem necessariamente as da instituição para a qual trabalho*

No último dia 15 de Maio, manifestações tomaram as ruas no movimento #15M #TsunamidaEducacao. Nesse mesmo dia, à tarde, o Ministro da Educação esteve na Câmara Federal após ter sido convocado para explicar o porque dos cortes previstos na educação superior e básica.

No dia anterior, 14/05, parlamentares haviam comunicado que o governo tinha voltado atrás nos cortes previstos para a educação básica e superior, de responsabilidade da união. Mas logo depois foi isso desmentido.

A semana do professor, 13 a 17 de Maio de 2019

Eu poderia falar das reuniões que tive com meus alunos de pós-graduação e do andamento da pesquisa, da finalização de um TCC com um orientando. Ou ainda do atendimento que ofereci aos estudantes da turma de Processamento de Imagens, que estão começando a desenvolver seus projetos finais. E as aplicações são muito interessantes, como: tradução de braile para texto, realce de imagens de raios-X, contagem de células, detecção de áreas florestais em imagens de satélite e outros. Estou orgulhoso desse pessoal!

Poderia também falar da submissão de um artigo em parceria com colegas da UFPI (Universidade Federal do Piauí) que trata do rastreio do diagnóstico de leucemia usando imagens, ou ainda de atividades de ensino, gestão, que foram super intensas essa semana.

Mas, nessa semana, aconteceu 15 de Maio nas nossas vidas.

E esse foi o meu 15 de Maio de 2019

Multidão passando em frente à Catedral, pela Avenida São Carlos. As pessoas de amarelo são do CAASO, e identificam os estudantes da USP. Já a atlética da UFSCar e seus estudantes vestem vermelho. Assim, é comum em São Carlos dizer que veste amarelo ou veste vermelho como forma de identidade universitária.

Adiantei todos os meus compromissos para a parte da manhã, resolvendo as pendências mais urgentes, e as 10:00 parti para as proximidades da Praça Coronel Salles, onde começou a concentração. Passamos em frente à Catedral, que é um dos ‘cartões postais’ da cidade, num dia com sol entre nuvens em que o calor humano superou a temperatura ambiente;

Cartazes na manifestação — “Pesquisa não é gasto, é investimento”, “Menos armas, mais educação”, “Bolsa não é auxílio, é salário”, “Um país se faz com educação. Quem planta arma, colhe corpo no chão”.

Encontrei por lá muitos estudantes e pesquisadores: da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), além de alunos do ensino médio e técnico. Também haviam colegas professores, mas certamente em menor número.

Quem já fez pós-graduação sabe: não sobra tempo pra balbúrdia. Quem tem que ir pro laboratório todo dia, estudar, estudar mais, fazer experimentos, coletar, analisar, escrever relatórios, qualificação, defesa…. “sem tempo, irmão”.

Hoje ouvi de um conhecido que os professores que se “posicionam contra a greve, tem sua carreira acadêmica prejudicada”. Eu diria que é muitas vezes o contrário: pelo menos na USP tenho a sensação de que greve é um termo muito mal visto, ainda que seja um direito de todo trabalhador. Nesse 15 de Maio, mais do que uma greve, pesquisadores e estudantes foram para as ruas demonstrar seu trabalho. Então podemos dizer que a aula foi na rua. E foi mesmo.

Estudantes questionam prioridades: “Com quantos estudantes se paga um ministro?”.

Foi lindo, e de arrepiar, ver que os jovens se preocupam com a prioridade (ou falta de prioridade) que nossos representantes dão para áreas tão estratégicas como a educação e a pesquisa científica.

Durante as eleições de 2018, quando o Ministro da Ciência e Tecnologia já havia sido escolhido, havia uma promessa de se ampliar o investimento nessa área, para alcançar até 3% do PIB. Estou ansioso por essa pauta entrar em discussão.

Porque é o presente e o futuro do país que está em jogo. A ameaça de corte de verbas, ou contingenciamento, afeta diretamente as universidades e institutos. Cortar verbas que vão sucatear o patrimônio público imediatamente não é solução.

Vamos exigir cada vez melhor gestão, maior transparência, isso sim!

Eu com o pessoal da pós-graduação do ICMC/USP também marcando presença, até de camiseta da seleção.

Vale comentar que a Guarda Municipal e os Fiscais de Trânsito fizeram um excelente trabalho. Que apesar da grande massa de pessoas, nenhuma ocorrência foi registrada, não teve lixo na rua, e o trânsito voltou ao normal logo a seguir. Até na hora da balbúrdia a gente é organizado, competente e quer sempre fazer o melhor.

Meio dia e a Avenida São Carlos já estava normalizada: mas nas praças do Mercado e Coronel Salles, foram feitas aulas públicas, demonstrações e outras ações.

Vida que segue: porque a gente paralisa e depois trabalha dobrado

Peço desculpas aos meus alunos porque atrasei um pouco para entregar as notas das provas. Ontem e anteontem trabalhei até mais tarde para corrigir, e também para analisar trabalhos de outras disciplinas. Também fiz uma reunião final com o pessoal que vai cuidar do som do Pint of Science, que será semana que vem.

Hoje ainda iremos discutir aqui no instituto os Planejamentos Docentes e dos departamentos para os próximos anos. Isso significa que por aqui todo o nosso trabalho é planejado, conferido e analisado, temos que submeter nossa proposta e isso será usado para nos avaliar posteriormente, verificar se estamos cumprindo nossas metas. Planejar e ser avaliado constantemente faz parte da rotina de professor universitário.

Para fechar a semana, o cartaz mais bem humorado da manifestação.

“Todo filme de desastre começa com um cientista sendo ignorado”

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