Labirinto colorido na selva de pedra

mariana balan
3 min readSep 19, 2017

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Em meio aos imponentes prédios do bairro Batel, uma pequena mercearia

Numa das mais movimentadas avenidas de Curitiba, entre prédios e shoppings, entre as bolas de demolição que destroem casas antigas para a construção de mais prédios e shoppings, entre supermercados de conhecidas redes, entre o passar de carros e ônibus que fazem tremer as calçadas, encontra-se, tímida, uma mercearia. Aos mais desatentos, que vêm apressados, atrasados para o trabalho ou para o cursinho de inglês, ela passaria batida. Aos que moram nas redondezas, um alento, pequeno refúgio que os faz sentir como se residissem num pequeno bairro.

A Mercearia Tropicale existe desde 1994 e sempre funcionou no mesmo ponto da Avenida Visconde de Guarapuava. Tem como carro-chefe as frutas, verduras e legumes. Nos produtos industrializados, impossível colocar preços tão competitivos quanto os dos grandes supermercados, que dão umas 15 mercearias em tamanho. As maçãs, bananas, limões, mamões, contudo, cuidadosamente dispostos na entrada, carinhosamente escolhidos logo cedinho no Ceasa, fazem toda a diferença. A central de abastecimento fica no bairro periférico do Tatuquara, a uns bons 30 quilômetros dali, distante do Batel dos lulus da pomerânia.

Diferença também faz a figura do caixa. Quem fica ali é Mara, proprietária do estabelecimento, que distribui trocos e sorrisos aos passantes e ajuda as senhorinhas com as sacolas amarelas. Enquanto isso, em frente ao mercadinho, a diarista de um imponente prédio nas redondezas, onde moram jovens de classe média alta que vêm do interior para estudar na capital, pergunta se alguém pode olhar o buldogue inglês alvoroçado — não um lulu da pomerânia — da patroa para poder fazer uma compra rápida. Lá dentro, uma moça toda de branco analisa os morangos (R$ 3,45 a caixa), tão vermelhos quanto a boca de uma criança com gripe.

O mercadinho é um labirinto colorido de poucos metros quadrados, o qual se percorre ao som da Ouro Verde FM. Nas caixas de som, um pop dançante do fim dos anos 1980. Cher, provavelmente.

Se o começo do caminho é de caixotes que exalam um cheiro tutti-frutti, o restante dos corredores vai dos sucos orgânicos às bolachas recheadas, passando por detergentes, desinfetantes e até produtos japoneses (e se alguém quiser fazer um sushi às 15h?). A loja termina num mar verde de hortaliças e legumes. Couve, abobrinha, alface, pimentão, salpicados pelo alaranjado das cenouras e pelo vermelho dos tomates rasteiros. Ao fundo, uma funcionária anota os pedidos feitos via telefone que terá de entregar em até 40 minutos aos vizinhos.

Mara, a proprietária, que na meia-idade vai ao Ceasa todas as madrugadas, há 23 anos, conta que o ponto já foi sondado. “Um turco quis comprar, mas achei que não era a hora”. Ela, que não é dona do imóvel, teme pelo futuro da mercearia. “Infelizmente, os pequenos se vão… Só ficam os grandes”, lamenta, por trás dos óculos apoiados na ponta do nariz. Os olhos se perdem um pouco. Nisso, o cachorro late lá fora e a traz de volta à realidade. Há mais sorrisos e frutas para distribuir.

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