Entrevista: Gabriel Thomaz

Maíra Valério
14 min readJun 25, 2019

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Com apenas dois discos lançados e duração inicial de menos de uma década — isso, claro, sem contar com alguns revivals esporádicos e relativamente recentes –, o enérgico Little Quail and The Mad Birds deixou marcas definitivas na cidade. A banda conquistou um séquito que a consolidou como fundamental para o rock brasiliense dos anos 90, embora o rótulo de “injustiçados que mereciam mais” seja rotineiramente evocado pela mídia musical. Gabriel Thomaz, um dos principais fundadores do grupo, é incansável e segue envolvido em diversos outros projetos que trazem elementos notáveis de seu universo próprio, como surf music, garage, bom humor e muito fuzz.

Há duas décadas, ele é líder da banda Autoramas — um case de sucesso do rock independente brasileiro. O oitavo disco do grupo, chamado Libido, veio em 2018 para celebrar os 20 anos de estrada e mostrar que a paixão em tocar continua a mesma. Além disso, o músico realiza constantes experimentações instrumentais com o Gabriel Thomaz Trio, e prevê que ainda este ano saia um álbum por meio desse projeto. Ele é também parte do Lafayette & Os Tremendões, grupo de covers da Jovem Guarda, e é compositor de hits que rodaram o Brasil, como I Saw You Saying (That You Say That You Saw), dos Raimundos, entre outros.

Com tanta história para contar, ele publicou o livro Magnéticos 90 — A geração do rock brasileiro lançada em fita cassete, em 2016, em parceria com o ilustrador Daniel Juca. Magnéticos é também o nome do programa que o artista apresenta na Mutante Rádio, e que pode ser escutado online. Entre uma coisa e outra, ele ainda arruma tempo para colocar a coleção de vinis para girar em discotecagens por aí — coleção que ele garante ter sido constituída antes de isso voltar a ser hype!

Nascido e criado em Brasília, Gabriel passou uma longa temporada no Rio de Janeiro e agora está em São Paulo. Foi na capital paulista, aliás, que ele encontrou a Revista Traços para um bate-papo durante a Semana Internacional de Música (SIM). O evento reúne feira de negócios, workshops, showcases e premiações — incluindo aí o Prêmio Gabriel Thomaz de Música Brasileira, que começou como uma brincadeira na internet inspirada pela busca diária do artista em conhecer novos sons (ele jura que ouve tudo o que mandam pra ele) e acabou virando uma ação presencial e integrante da programação da SIM. Entre resgates históricos, prospecções para o futuro e elucubrações gerais sobre o cenário independente brasileiro, o músico trouxe uma dose de otimismo para um início de ano em que os ânimos estão aflorados. No entanto, não é que ele ache que as coisas não estejam difíceis, apenas sabe na pele que nunca foram fáceis.

Qual foi o seu contato inicial com a música? É uma coisa já de infância, de adolescência?

De infância. Ganhei violão com 11 ou 12 anos de idade, e com 13 já estava fazendo show.

Que tipo de som que você curtia nessa época?

Punk rock, hardcore. O punk rock é uma coisa que, para a minha geração, foi muito libertária, dava uma confiança de fazer uma música muito simples e que já funcionava bem pra caramba. A gente [grupo de amigos de Gabriel] gostava muito desse tipo de som, e do punk nacional também. É a minha escola: Cólera, Ratos de Porão, Olho Seco, Garotos Podres… Pô, a primeira música que tirei no violão foi Vou fazer cocô, dos Garotos Podres. A gente não tocava nada e já conseguia tirar essas músicas. E, na real, quando a gente via alguma coisa muito elaborada musicalmente e tal, a gente até zoava, tinha preconceito. O que a gente gostava mesmo era da podreira.

Que era simples e rápida.

É. E a simplicidade fez a gente ter a recompensa de já sair fazendo shows. A minha infância e adolescência em Brasília foi em uma época muito boa… A cidade era muito menor do que é hoje, tinha muita liberdade. Tinha muita gente que fazia um monte de coisa legal, tinha muita gente que fazia muita merda também. Mas, cara, acho que tinha muito espaço para a criatividade. Quando veio o estouro das bandas de Brasília, foi um absurdo…

Você pegou isso, né?

É. Muito novinho, mas peguei. Não fui aos shows. Eu tinha os discos e via pela televisão. E ouvia muito no rádio, o rádio também tocava muito as bandas de Brasília antes de elas gravarem disco. E eu ficava ali, prestando atenção.

Como começou o Little Quail and The Mad Birds?

Eu tinha 15 anos e muitas das músicas do Little Quail já foram feitas nessa época. A gente era muito moleque, muito idiota, passava o dia inteiro na rua indo para os shows, andando de bicicleta e ensaiando. Um amigo tinha, na casa dele [no Lago Sul], uma casinha de madeira… Uma casa pré-fabricada que era nossa sala de ensaio e de muitas bandas, incluindo Raimundos, Filhos de Mengele, DFC… Todas ensaiaram lá. Era um barato, ia muita gente lá, tomava banho de piscina, uma bagunça, era uma beleza. Toda essa história saiu num documentário, o Geração Baré-Cola [filme dirigido pelo fotógrafo Patrick Grosner e que resgata a história do rock brasiliense dos anos 90].

O documentário é bem legal. É interessante quando um determinado momento passa a ser sistematizado dessa maneira, em filmes, livros… Assim é possível ter uma noção do que um certo período representou, os acontecimentos não ficam dispersos. Tem hora que parece que a imagem de Brasília fica muito presa àquela fase da Legião Urbana e tal.

É. Mas vou te falar uma coisa muito importante para a minha geração: todos nós, ou a maioria de nós, éramos fãs da Legião, de todas as bandas [daquela época], inclusive das que não fizeram sucesso. Antes disso [da Legião Urbana estourar], você não tinha orgulho de falar que era de Brasília. Você ligava a televisão e o que falava de Brasília? Corrupção, ditadura, deputado filho da puta. Quando veio o rock de Brasília falando do Conjunto Nacional, do Parque da Cidade, nossa, a gente explodiu de orgulho. Mudou da pior para a melhor coisa, de uma hora para outra.

Só que, por conta de tudo isso e dando valor a tudo isso, a gente teve uma coisa que era o seguinte: a gente nunca quis imitar eles. Por mais que a gente tivesse limitações ou sei lá, a gente quis usar a nossa imaginação, a nossa própria criatividade. A gente quis imitar eles no sentido de “dá pra fazer”. No sentido de pegar as ideias deles e reutilizar, a gente nunca quis fazer isso. Foi por isso que se montou outra geração em Brasília, porque eram coisas originais, eram coisas legais para caramba, era um outro conceito. A gente não chegou e “ah, vamos manter a tradição do som cinza de Brasília”.

E o que te fez sair da cidade?

Acho que não tinha um mercado… Brasília era muito diferente do que é hoje, era muito menor. Eu queria ser músico profissional. Quando saí de Brasília [ainda na década de 90] foi para isso. Não existia internet, a comunicação era completamente diferente. Não tive uma visão de que as coisas iriam mudar completamente, sabe? Do jeito que era antigamente, seria inviável morar em Brasília. Hoje dá, hoje as bandas de Brasília que estão em estágio nacional continuam morando na cidade. Isso é maravilhoso, é uma conquista.

Muita gente que saiu de Brasília cortou a relação com a cidade, eu nunca cortei, sempre mantive minhas raízes, chego e tem sempre meus amigos e uma galera nova que conheci depois. A gente sempre é convidado para tocar.

Hoje em dia você consegue trabalhar primordialmente na área musical, como planejava?

Há muitos anos, graças a Deus. Por isso que sou uma pessoa tão bem-humorada [risos].

Mas essa não é sempre a realidade de muita gente que tem o mesmo sonho de conseguir viver de música. Qual é o segredo? E você atua em outras áreas, além das bandas? Tem estúdio, essas coisas?

Eu não sei. Trabalho para caramba. Trabalho muito. E não, não tenho [estúdio], mas já produzi muitos discos também. Uma coisa vai levando a outra, sabe? Por exemplo, produzi uma banda de Brasília muito boa chamada Marimbondo, de rock’n’roll. Bem legal.

E como você começou a compor para outras bandas? Quem já cantou e tocou músicas suas?

Sempre compus muito. A primeira que fiz para outra banda foi com o Rodolfo [Abrantes, ex-Raimundos]. Rodolfo veio me pedir uma música mais melosa para o segundo disco deles, porque eles tinham aquele som pesado e tal. Ele falou assim: “vamos fazer uma daquele jeito que você sabe fazer”.

Ó, que gravaram música minha: Ultraje [a Rigor] gravou música minha há um tempo. A Lilian, cantora da Jovem Guarda [que foi da dupla Leno & Lilian]… O Canastra gravou música minha… Nossa, muita gente. O primeiro disco [solo] da Érika [Martins, esposa de Gabriel, ex-vocalista da banda Penélope e atualmente integrante do Autoramas] é todo meu e dela.

Sobre o Autoramas, a banda já começou fora de Brasília, né?

Começou no Rio. Fez 20 anos agora.

Parabéns! Como se sente?

Me sinto muito novo ainda.

E como é ter um projeto, o mesmo projeto, por tanto tempo? Quais são os maiores desafios?

O nosso disco novo chama Libido. Se chama Libido por causa disso, porque depois de 20 anos de relação, a nossa libido ainda está lá no alto. Está funcionando tudo muito bem.

Mas quais são as partes mais difíceis dessa trajetória? Porque tem hora que muda integrante, tem os perrengues que muita banda independente passa…

É, mudar integrante é muito chato. É uma coisa chata pra caralho. Mas as pessoas, sei lá, mudam, sabe? Uma pessoa que você acha que é seu melhor amigo, no outro dia te sacaneia. A pessoa que você acha que vai curtir aquele som a vida inteira, de repente enche o saco. Ou aquele parceiro que você tem, a libido acabou. Não é verdade?

Sim, a vida tem seus fluxos.

Mas, vou te falar… A gente sempre foi independente… Poxa, na minha infância, eu ligava o rádio, você podia ouvir o Kid Abelha, a Legião Urbana, o Zeca Pagodinho tocando um pagode, podia ouvir lambada, um axé… Você ligava no programa da Xuxa, tinha o Gaúcho da Fronteira… Você ligava na Globo domingo e tinha o Amanheceu, peguei a viola [do Renato Teixeira], ligava o Chacrinha, tinha a Clemilda cantando forró… Tinha espaço para música. O mercado radiofônico é extremamente fechado. A conclusão que cheguei disso é: o Brasil é um supermercado musical, porque todo tipo de música existe e é feita. A gente está aqui [na SIM] vendo a quantidade de música que tem. O Brasil tem um supermercado musical, mas só o açougue tem vitrine, entendeu? É isso.

Ou as seções de alimentos ultraprocessados [risos].

Mas o que é legal é o seguinte: hoje nós temos uma agenda, um circuito de festivais independentes pelo Brasil inteiro, festivais grandes, pequenos, de todos os tamanhos, do tamanho que dá, que rola. Eu peguei uma época que independente era sinônimo de amador.

Nesses 20 anos, posso te falar uma coisa com certeza: um dos nomes que fizeram esse circuito se solidificar e ser respeitado pelo público e pelo mercado foi o Autoramas. O independente é um mercado aberto, democrático. É isso que tenho orgulho de ter participado, de ter trabalhado por isso. Muito orgulho. Não trabalhei por um lance que fechou um mercado, trabalhei por um lance que abriu um mercado. Hoje você não pensa independente como o “circo pobre”. Cara, não é isso. É outra coisa. As produções são sensacionais, os artistas são internacionais. O Autoramas mesmo já fez 47 viagens internacionais, já tocamos em 23 países.

Quais os países em que vocês são mais bem recebidos, possuem a melhor relação? Ou os países que você fala assim: “Caraca, quero voltar, aqui é massa”?

Cara, Argentina, Uruguai, Inglaterra, Alemanha e Espanha. Mas, assim, um país que eu amo ir tocar é o México. O México é o máximo. O país é maravilhoso, acho sensacional, sou apaixonado.

Tem muita gente que vê uma banda tipo Autoramas, do Brasil, e se surpreende. Sério. Muitas vezes o mundo não tem a noção de como o Brasil é grande e diverso. Mas a gente está lá para informar eles.

Apesar de existir uma democracia maior no cenário independente e as redes sociais permitirem que as pessoas se divulguem, ainda tem uma mídia de massa que comanda os locais com mais visibilidade. E, como você disse, é difícil acessar esse lugar. Mesmo com festivais independentes e tudo mais, será que não é preciso ter mais espaços para onde escoar a produção independente atual, para que as pessoas conheçam mais as coisas?

É muito doido isso também, porque isso acontece dos dois lados. Você lembra aquele caso que teve, do Zeca Camargo, que morreu um cantor de música sertaneja? E aí o Zeca Camargo perguntou: “Quem é esse cara, nunca ouvi falar?”. E o cara tinha milhões de views no YouTube e sei lá o quê? Sinceramente eu também nunca tinha ouvido falar. Mas o negócio é esse, são segmentos, sabe? Não tem mais aquela regra de “ah, isso aqui todo mundo tem que conhecer”, “ah, isso aqui ninguém conhece”. E isso é legal, isso é uma forma de democracia.

É que fico pensando na estabilidade financeira mesmo. Em alguns momentos parece que faltam espaços maiores nesse sentido, que deem um retorno para as bandas continuarem, sabe?

Eu acho que um próximo passo para o independente é realmente todo mundo bancar suas produções com o jeito que realmente merece. É mais assim, o primeiro objetivo a ser atingido é de você bancar a sua própria produção, do jeito que faz soar legal. Hoje em dia é uma coisa muito mais fácil. Você consegue gravar um disco na sua casa, no seu quarto. Eu vivi uma época que você tinha que pagar um estúdio caríssimo, para sair mal gravado, mas era aquilo ali.

Tanto que muita coisa se perdeu por causa disso, né? Porque não foi gravada ou as fitas sumiram.

Pois é. No meu livro conto essas coisas com detalhes. Como é que era gravar, como é que era fazer as coisas. Era dificílimo. E ainda tem uma coisa muito engraçada que rola… Hoje em dia dou risada, porque sempre vem alguém e fala assim: “Ah, mas naquela época, que época maravilhosa, era tão melhor”. Cara, você está louco! Hoje em dia é tudo muito melhor. Olha só, eu chegava aqui no Aeroanta [antiga casa de shows no mesmo lugar que atualmente é o Z Carniceria, onde Gabriel estava no momento da entrevista], para encontrar um amigo meu… Eu tinha que dar a volta inteira no negócio se o cara estivesse atrasado, não tinha como ligar e perguntar onde ele estava. Pô, se tocasse alguma música na discotecagem, tinha que ir lá perguntar para o DJ qual era a música, e o cara falava [faz sons ininteligíveis] e você tinha que entender o nome. E aí você ainda tinha que ir na loja achar o disco que aquele DJ tocou, e não sei o quê.

Todas as viagens que fiz nos anos 90 foram de ônibus, horas de viagem, sem ar condicionado. A pessoa chegava no banheiro e ficava um odor horrível. Teve uma vez que eu abri a janela de madrugada, para pegar uma gripe e não respirar mais aquele cheiro horrível [risos]. Pô, teve um [ônibus] que sofreu um acidente… O ônibus saiu da estrada, se tivesse um barranco, tinha caído lá embaixo. Tem tanta coisa que hoje é muito melhor. Todas as viagens você vai de avião, chega lá no Aeroporto Internacional de Brasília, lindíssimo. Pega ali uma esteira rolante que é uma beleza.

É, tem momentos que as pessoas tendem a olhar para o passado apenas com as lentes da nostalgia. Rola uma romantização. Um outro aspecto positivo dos dias de hoje é a possibilidade de várias pessoas que curtem um mesmo gênero musical ou estilo se encontrarem.

Exatamente. Ainda tinha isso. Sempre gostei das coisas dos anos 50, anos 60. Eu passava uma vida para achar um sapato tal, uma jaqueta tal. Agora vou na internet e compro tudo, em uma semana está lá em casa, é uma maravilha! Vai dizer que antigamente era muito melhor? Está louco! Hoje, durante o carnaval, você vai em um festival que só toca rockabilly, isso é maravilhoso. Posso falar milhões de coisas. “Ah, naquela época era bom”… Está louco!

É, a gente tende a ver os problemas, mas esquece de ver o que melhorou, em alguns momentos.

Vou te falar, o Little Quail… A gente lotava lugares em Brasília, duas mil pessoas. Chegava nas outras cidades, ninguém conhecia. Sabe por quê? Porque não tinha como, porque a fita demo não tinha chegado, não tinha tido 107 mil visualizações [no YouTube]. A gente tocou em pouquíssimos estados, em pouquíssima coisa e, pô, a gente botava o clipe na MTV, chegou ao primeiro lugar. O Little Quail nunca tocou em Recife, nunca tocou em Porto Alegre.

E o Autoramas foi para o Brasil todo, né?

Isso. O Autoramas completou todos os estados, depois disso já tocamos em 23 países diferentes. Você acha que sem internet a gente tinha conseguido fazer isso?

Ainda assim, você acha que, apesar de tudo, não no seu caso, mas no de outras bandas, os shows são mais vazios hoje em dia? As pessoas se engajam menos?

Isso é outra coisa. As pessoas lembram daquela época [anos 90] como se tivesse todos os shows lotados. Sabe quem tinha todos os shows lotados? Ah, o Raimundos tinha, Planet Hemp tinha. É, isso é verdade, são bandas bem mais famosas. Acho que o que as pessoas que viveram aquela época sentem é saudade daquela época. Saudade de quando não tinham filho, de quando estavam pegando as gatinhas no Beirute. Cara, na boa, é isso que a galera sente falta. Aí as músicas daquela época fazem lembrar. Pô, hoje em dia é tudo muito melhor. E o negócio é esse, a gente faz as coisas de uma maneira que a gente não para de tocar. Continua trabalhando, sabe?

E como faz isso?

Ué, lançando disco, fazendo turnê, fazendo as coisas, tendo ideias, ideias para coisas novas…

Vocês possuem produtor, por exemplo, ou vocês mesmo fazem as coisas?

Temos. Temos empresário, só que a gente está sempre ali fazendo as coisas. Quer ver, isso é uma outra coisa muito boa de ser independente: antigamente você assinava o contrato com a gravadora, e a gravadora virava seu sócio, só que seu sócio majoritário. Você tinha 8% e eles 92%, aí você tinha que fazer o que eles mandavam. E se um dia você desse um chilique e falasse “ai, não quero fazer isso”, a galera falava “esses artistas são uns frescos”. É mais ou menos isso. Uma coisa que seria completamente diferente da sua ideia da banda. Cara, até vou te falar, não sou nem tão radical assim, você vai lá, o cara quer te pedir uma coisa, você vai lá e faz do seu jeito, eu acho que sou totalmente a favor. Agora, mandar? A gente no independente não tem isso.

Liberdade criativa, né?

Pois é. Isso é uma outra coisa. Posso falar outra coisa que é muito louca? Eu queria fazer músicas instrumentais no Little Quail e no Autoramas, e as pessoas com quem a gente trabalhava falavam: “Cara, você está louco, isso não vai tocar em lugar nenhum, você está doido”. Hoje a gente tem uma cena de bandas instrumentais. Sempre fui podado para fazer isso e hoje a galera é incentivada. Vai dizer que não é legal?

Fotos: Thaís Mallon

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Entrevista publicada na edição 31 da Revista Traços, no início de 2019. Sou repórter da publicação desde 2018. Para quem não conhece, é o seguinte: além de ressaltar manifestações culturais diversas que estão ou são do Distrito Federal em um material impresso rico em texto, fotos e design; o projeto funciona também como um instrumento de reinserção social para pessoas em situação de rua.

Por meio da comercialização da revista, essas pessoas passam a atuar como "porta-vozes da cultura" e ficam com a maior parte do dinheiro da venda — o restante é utilizado para a compra de novos exemplares. Os porta-vozes recebem também o acompanhamento de uma equipe social. Desde que faço parte da publicação, já entrevistei e fiz reportagens que abrangem figuras e eventos importantes da música, cinema, teatro, literatura e afins. Acompanhe e garanta as suas revistas! :)

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Maíra Valério

Jornalista; especialista em Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos; mestre em Informação, Comunicação e Saúde; blogueira; zineira; escritora ♥