Mulheres da música que você precisa conhecer: Tina Weymouth

Maísa Carvalho
4 min readApr 17, 2020

Tina Weymouth, a baixista do Talking Heads. Por causa dela, eu virei fã da banda e de tudo que o Talking Heads criou. Mais precisamente, quando eu tinha lá os meus 12 ou 13 anos, eu assisti pela MTV a um show do grupo que fora gravado em Los Angeles. Quando reparei, era uma mulher tocando no meio do palco. Era ela.

https://www.youtube.com/watch?v=jShMQw2H2cM

Como assim, né? Eu nunca tinha visto uma mulher tocando contrabaixo. Ainda mais a Tina que tinha uma aparência um tanto quanto angelical para isso. Mas ela nunca foi só um rostinho bonito. Tina já foi considerada, inclusive, a melhor baixista do mundo pela composição de “Psycho Killer”

Ainda mais, era dona de uma performance que me deixou com os olhos brilhando. Tina tocava, cantava, dançava e pulava. A irreverência da baixista contribuiu para que o Talking Heads se tornasse uma banda precursora na fusão do rock com new wave e a música pop.

A contribuição de Tina reside no fato de que enquanto alguns baixistas tocavam de maneira sutil, Tina fazia exatamente o oposto. A maioria das suas notas é distina e sincopada, o que proporcionava muita ousadia ao som do Talking Heads. Para isso, ela misturava elementos de punk, disco music, funk, reggae e hip-hop. Essa abordagem da Tina acabou por definir todo um estilo minimalista e marcante de tocar contrabaixo na década de 80.

Talentosa e original, ninguém ensinou Weymouth a tocar. Em entrevista, Tina já afirmou que aprendeu a tocar o instrumento sozinha em apenas 5 meses.

Infelizmente não se fala o tanto que deveria se falar sobre o trabalho de Tina, mas, para mim, a linha de baixo do Talking Heads impulsionou a banda pra que fosse o que é hoje. O grupo foi essencial pro surgimento de grupos como o Radiohead (inclusive o nome Radiohead veio de uma música homônima do Talking Heads) e o The Killers, por exemplo. A banda é, com certeza, um grupo essencial pra que se entenda a cena da música alternativa hoje em dia. O grupo é também uma grande referência para o rock experimental e para o pop criativo.

Quando o Talking Heads surgiu na metade dos anos 70, fizeram o seu primeiro show abrindo pros Ramones. A banda foi uma das últimas a entrar na onda punk e uma das primeiras a desenhar o que viria a ser o pós-punk, o art rock e o art pop.

Os integrantes David Byrne e Chris Frantz foram os primeiros a entrar na onda musical. Tina era a namorada de Chris e fazia as vezes de roadie na época em que Chris e David ainda tinham a banda “The Artistics”. Tina resolveu, então, tocar contrabaixo. Com o trio, nasceu o Talking Heads. Com a abertura pro Ramones em 1975, as gravadoras começaram a procurar a banda.

O primeiro disco sugiro depois da entrada de Jerry Harrison como tecladista, o álbum “Talking Heads: 77”. A essência de “Talking Heads: 77” preencheu o que viria a seguir: as bandas fantásticas como Devo e Pere Ubu. Influenciou a cena inglesa, após a morte de Sid Vicious, que viria a ter nomes como Joy Division, Siouxsie & the Banshees, Echo & the Bunnymen, Bauhaus, Smiths, etc.

Ninguém consegue negar a irreverência di Talking Heads. Ao mesmo tempo em que a banda era visualmente agradável, colorida e amigável, o grupo se utilizava de letras ácidas que criticavam a sociedade moderna, a política e o estilo de vida do indivíduo da cidade grande, gerando uma ironia divertida e reflexiva.

A obra da banda é bastante profusa no seu conceito, linear e muito constante, o que torna o Talking Heads uma referência de muita moral na música. Na realidade, na época que a banda explodiu ninguém sabia classificar exatamente o Talking Heads. A banda era tão vanguardista que umas pessoas diziam que era rock, outras afirmavam que era punk; algumas já a entendiam como no gênero industrial (até então nunca falado), surgindo também o termo world music (porque a banda se utilizava de elementos até mesmo africanos pra composição das canções); falou-se em tudo. Pop com groove, o new wave alegre ou o psicodélico a depender do disco que escutamos, o pós-punk… o Talking Heads viajava em muitos gêneros.

Para mim, o Talking Heads talvez tenha sido a primeira banda cosmopolita de fato. Uma das primeiras a fundir elementos, mesclar gêneros e produzir de maneira muito criativa. A banda era, com certeza, o retrato perfeito de uma cidade grande como Nova York. E sem a Tina Weymouth, bem, não existiria “Psycho Killer”, “Once in a Lifetime”, “Burning Down the House”, entre tantas outras canções que são grooves peculiares facilmente reconhecidos quando começam a tocar. E o que nos resta? Agradecer pela existência de um ser humano tão fantástico como essa mulher.

--

--