Um conselho para eu mesma.

Maitê Balhester
3 min readAug 15, 2015

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Sempre fui daquelas que adoravam estudar. Não, adorar é muito forte, mas sempre gostei de aprender e ir para colégio e universidade nunca foi nenhum martírio. A universidade por um bom tempo foi minha segunda casa: chegava às 8h, saía às 23h, aulas espaçadas com projetos de pesquisa, artigos, palestras, enfim… uma vida acadêmica bem agitada.

Até a parte 2.

Já conheci muita gente nessa vida. Alguns amigos para a vida toda, outros colegas que converso eventualmente, mas nunca fui a pessoa mais extrovertida da galera (entenda, falar bastante é diferente de ser extrovertida, na verdade isso é ser meio prolixo). Baladas, barzinhos, churrascos com a turma sempre foram raridade, principalmente conforme fui ficando mais velha.

Conforme a universidade foi acabando, fui me permitindo ficar cada vez mais dentro do meu próprio casulo. Minha casa, minha família, meu computador, séries e livros.

Até que um dia comecei a trabalhar. E outro dia comecei a passar mais tempo no trabalho do que na faculdade e em casa. E ai me formei.
E agora não tinha mais desculpa da faculdade, podia trabalhar mais e mais.

Um dia me deparei com uma total falta de perspectiva de vida. Era só trabalho.

E ai, um dia, meu corpo pediu arrego e precisei de férias.

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E depois disso, meu emocional pediu arrego. E não é possível tirar férias de seus pensamentos, de sua ansiedade.
Passando mais um tempo, cheguei no pico da ansiedade.

Era Natal e não conseguia passar uma hora no shopping sem achar que ia morrer.
Era Natal e não podia ficar sem minha mãe por perto por dez minutos.
Era Natal e não conseguia sair de casa e passar a ceia com minha família.

Síndrome do pânico. Eu não conseguia abrir meus olhos durante uma crise. Desenvolvi um tique.

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Após diagnóstico e tratamento, consegui me reestabelecer. Parece clichê, mas consegui abrir os olhos novamente e ver que o sol estava lá fora.
Comecei a aceitar minhas limitações e minha personalidade.
Busquei aperfeiçoar alguns pontos, comecei um MBA e um curso de inglês.

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Mudei de emprego, conheci pessoas maravilhosas e tinha uma rotina mais saudável. Concluí o MBA e o curso de inglês.
E depois de um ano, veio a oportunidade de trabalho que sempre sonhei.

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Hoje estou há mais de um mês morando em outra cidade e, mesmo sabendo que é provisório e que meu quarto continua me esperando, ainda não consegui romper totalmente aquele meu casulo de proteção.

Mas a pergunta que me martela na cabeça ultimamente, que me faz lembrar aquela jovem estudante e pesquisadora, é: como mudar o mundo de dentro do meu casulo? Ou como lutar para mudar o mundo de dentro do meu casulo? Se alguém tiver a resposta, me avisa.

Todo dia é uma tentativa de tentar se afirmar em um território que não é o seu. É pisar em ovos todo santo dia.
É parar e refletir todo dia sobre “porque não posso ser X?”

Bom, fato é que ficar martelando esse tipo de coisa só me faz lembrar daquele período onde me sentia um lixo (físico e emocional).

E EU NÃO QUERO VOLTAR A ME SENTIR ASSIM.

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Esse desabafo em forma de introdução nada mais é do que algo que aconteceu, mas que deixou marcas e uma casca mais grossa.

E que a ansiedade é algo que terei que administrar sempre, seja com terapia, com medicação, ou os dois.
E fazer atividade física (shame on me).

E tentar quebrar esse casulo, interagir mais, conversar mais, não afastar as pessoas.

Para que enfim eu esteja pronta para conseguir fazer tudo o que sempre quis fazer: aperfeiçoar minhas habilidades técnicas e sociais, estudar mais e construir algo que transforme a vida de alguém.
Seja ajudar na terapia fonoaudiológica como fiz no passado, ou a entender meios de fortalecer a presença feminina na computação.

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Este texto, na verdade, é um recado para eu mesma no futuro, de lembrar tudo o que já lutei e tudo que ainda preciso lutar, seja por mim ou por minha família, meus amigos e claro, por todas as causas que eu advogo do meu computador.

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