THE GET DOWN

Marcelo Janot
2 min readJul 5, 2017

O problema não é saber que uma série que você gosta não terá novas temporadas. O problema é constatar que, por conta da desistência, a história ficou pelo caminho, e a trajetória dos personagens não foi concluída. Nunca saberemos, por exemplo, como Ezekiel Figuero se tornou um astro do hip hop contemporâneo e nem que fim levou a carreira da promissora cantora disco Mylene Cruz. Estou falando da ótima “The Get Down”, a série idealizada por Baz Luhrmann ambientada em Nova York no final dos anos 70, e que foi cancelada pela Netflix após apenas 11 episódios divididos em duas fases.

É uma produção cara, cujo investimento salta aos olhos na reconstituição impecável de uma Nova York em que, em meio a violência dos bairros pobres, viu surgir o contagiante movimento do hip hop, ao mesmo tempo em que a disco music, em seu auge, pulsava nos clubs. A série promove o encontro destes dois cenários musicais, tendo como pano de fundo a história de amor entre Ezekiel e Mylene e outras subtramas. Desde o primeiro episódio, que é praticamente um longa metragem de uma hora e meia dirigido por Baz Luhrmann, se notam os excessos característicos da obra do diretor de “Moulin Rouge” e outras extravagâncias. É kitsch e melodramático demais em alguns momentos, mas transmite um vigor e uma paixão raros de se ver em séries de TV (e que tem seu ponto alto no magistral episódio 10, o quarto da segunda fase).

O elenco jovem, encabeçado por Justice Smith, Herizen F. Guardiola e Shameik Moore é excelente e o roteiro nos oferece uma aula de música, com números contagiantes e extremamente bem dirigidos, em uma explosão de luz e cor. Não dá pra resistir aos números de freestyle sob a bênção do lendário DJ Grandmaster Flash, que foi produtor associado.

“The Get Down” é um perfeito complemento a “Vinyl”, que se passa um pouco antes e também foi cancelada pela HBO após uma única temporada. A justificativa para os cancelamentos é a de que são séries caras e que não tiveram o retorno esperado em termos de audiência. Seria um sintoma de que o público jovem, que é maioria na audiência de séries, não se interessou pelo resgate de um dos períodos musicais mais ricos da história, mesmo em embalagem tão sedutora e atraente? Triste, especialmente em meio à mediocridade comercial que reina na cena musical contemporânea.

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